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‘Minhocão deve ser desmontado e não demolido’, diz doutor em arquitetura

Doutor em arquitetura e urbanismo pela USP (Universidade de São Paulo), Lúcio Gomes Machado era um jovem recém-formado quando o elevado Costa e Silva, o popular minhocão, há duas quadras da sua casa, foi inaugurado, em 1971, como um presente de aniversário para São Paulo. Naquele época o professor talvez não soubesse que a obra viária resistiria a quatro décadas e meia como a mais polêmica da cidade, mas já tinha uma certeza: “a sua construção era um erro”.

Qual a sua primeira impressão sobre o minhocão?

O minhocão já nasceu ultrapassado, pois imitava as vias expressas dos Estados Unidos, mas num tempo em que estas já estavam sendo desfeitas por lá. Quando começou, as pessoas já não o queriam, mas o prefeito Paulo Maluf conseguiu empurrar goela abaixo. Vivíamos em uma ditadura e o projeto foi pouco questionado.

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Quais eram os desafios de trânsito quando o minhocão foi construído?

Não havia uma via rápida que ligasse as zonas leste e oeste porque a marginal ainda estava incompleta, então, havia uma desculpa para o minhocão existir, embora o prefeito nunca tenha apresentado estudo que indicasse sua necessidade.

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Com o tempo essa condição mudou?

Muito. Passam hoje, em média, 70 mil carros por dia pelo minhocão, o que é ínfimo perto do trânsito da cidade. Além do mais, a maior parte não o usa para fazer a ligação total, mas apenas para pular os semáforos das avenidas lá embaixo. Segundo estudo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o trânsito do minhocão seria absorvido pelas ruas do entorno em um mês, fora as duas faixas de cada lado que poderiam ser criadas com a sua eliminação.

A obra oferece algum benefício para a cidade?

Nenhum. É só prejuízo urbanístico e para o desenvolvimento imobiliário da cidade. É uma barreira urbana, uma cicatriz.

Qual a solução?

Defendo o desmonte do minhocão. A sua demolição custaria entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, mas o desmonte permitirá o reaproveitamento da estrutura para a construção de outras obras, como pontes e passarelas. O corte do concreto pode ser feito a noite e sem gerar entulho. A eliminação do minhocão vai garantir que toda a região volte a ser o que era, com seus belos prédios e a praça Marechal Deodoro, que hoje é um lixo. Além do mais, o fim do minhocão valorizaria uma área de 500 metros de cada lado, ao longo dos seus cerca de três quilômetros.


A última proposta da prefeitura, de fechar o elevado por um período prolongado, como forma de teste, é necessária? 

O desmonte pode ser feito imediatamente, isso é só um passa-moleque para consolidar dois processos: de se criar um parque em cima e distribuir quiosques embaixo. Depois de fechado, vão dizer: “viu como é legal?” Mas não é. O minhocão não pode receber grande concentração de público. Não há guarda-corpo, não há saída de emergência. Um acidente pode ser fatal.

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