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‘Educação é prioridade’, diz Laércio Benko, em entrevista exclusiva ao Metro

selo-eleicao-metro-eleicoes-2014-150Com cerca de 1% na última pesquisa Datafolha, o vereador Laércio Benko, candidato do PHS ao governo do Estado, acredita tanto em seu projeto político que foi o único doador de sua campanha. Ele tem passagens pelo PV e, atualmente, quer associar o seu nome ao de Marina Silva, candidata à presidência pelo PSB. Para ele, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é um verdadeiro torturador de estatísticas, porque manipula os dados conforme a sua vontade.

Benko defende que boa parte dos problemas do Estado podem ser resolvidos com a ajuda da iniciativa privada e com privatizações. Enxugar a máquina fará aumentar o estoque de sobras, o que permitiria então novos investimentos. Benko é o quarto entrevistado da série publicada pelo Metro Jornal. Leia abaixo a entrevista completa.

Estamos no 15º mês seguido de índice crescente de roubos. Qual será a sua medida para diminuir a sensação de insegurança?

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Aparelhar a polícia civil e investir na modernização. Vamos trazer as delegacias da polícia civil a século 21. Vamos trazer recursos humanos, recursos técnicos Polícia Científica, que eu não entendo porque o Alckmin tirou da Polícia Civil, nós vamos trazer recursos humanos, recursos técnicos em termos de equipamento, valorizar a mão de obra para que o inquérito policia possa seguir e tramitar. Vamos contratar mais investigadores de polícia, mais escrivães, mais técnicos nas várias áreas que envolvem a investigação civil para trazer a investigação policial ao século 21. Por exemplo: a delegacia de investigação fazendária, que investiga crimes contra a Fazenda, não tem internet. Então vamos investir pesadamente na atualização da Polícia Civil do Estado de S.Paulo. Não é fazendo esse detecta, que é o Fura Fila da vez.

Qual é a sua posição sobre a unificação da polícia?

Sou contra a unificação das polícias. Aqui em São Paulo 90% dos inquéritos não são concluídos. Tem duas graves consequências disso. A primeira e mais direta acontece quando um bandido é solto por um juiz. A população põe a culpa no juiz, mas ele está cumprindo a lei. A segundo, que é pior, não há a cultura de investigação na polícia. Se eu pego um adolescente com cinco pinos de cocaína, não é aberta uma investigação para saber daonde veio a droga. Ou seja, 90% dos casos levados até a polícia não são tratados. Atrás de todo pequeno e médio crime tem um quadrilha atrás, quer seja de desmanche de veículo, quer seja de tráfico de drogas ou de receptação.

É a favor da redução da maioridade penal?

Sou contra a redução da maioridade penal. Esse é um dos temas que é usado pela velha política como cortina de fumaça no verdadeiro problema da polícia. Isso envolve tanto os governos tucanos como os petistas e nos peemedebistas.

Vai manter a operação delegada?

A operação em si não é o problema. O que acontce é que hoje a polícia vive um transtorno de bipolaridade por falta de comando. A polícia ora é excessivamente permissiva, ora é excessivamente agressiva porque não tem um norte, um comando forte. Quem está aí, há 20 anos comandando a policia, não achou o tom, pelo contrário, larga toda a Secretaria de Segurança Pública e dá comandos dúbios, o que gera esse transtorno de bipolaridade na Polícia Militar. O correto é uma atitude de lei, você não pode sair atirando no meio da multidão.

E no caso das manifestações? Como o senhor acha que foi a atuação da polícia?

Em determinados casos foi frouxa, como nós vimos um momento na Paulista quando quebraram tudo, e em determinados casos foi violenta, usando bala de borracha. Não se pode usar bala de borracha em manifestação. Sou radicalmente contra isso.

Comparado com outros Estados do Brasil, São Paulo tem ótimos índices de homicídios. A polícia paulista se sai bem nesse quesito?

Depende do número que o Alckmin (Geraldo – governador) quer extrair aquele mês. Ele é uma pessoa de bem, mas é o maior torturador de estatística que eu vi na vida.

O senhor acha que não são confiáveis as informações que ele divulga?

André Porto/Metro
‘Sou contra a redução da maioridade penal’ | André Porto/Metro

Não, de jeito nenhum. Zero de confiança. Às vezes ele precisa diminuir os homicídios e manda aumentar os boletins de ocorrência para o latrocínio (que é roubo seguido de morte) nas delegacias. Às vezes precisa diminuir furto de carro e manipula os dados para ter uma manchete positiva a cada dois meses. Mas para nós, que andamos na rua o tempo todo, sentimos o problema de segurança. No Brasil, o problema se chama saúde. Em São Paulo, é a segurança pública.

O senhor acha que há então uma manipulação dos dados?

Sem dúvida nenhuma.

Na Câmara o senhor está liderando a CPI da Sabesp. Como está o trabalho?

Ouvimos representantes importantes da prefeitura, que deveriam fiscalizar mais os contratos e foram omissos. Ouvimos também representante da Arcesp, que com todo o respeito se mostrou despreparado para comandar aquele órgão e lamentavelmente a presidente da Sabesp não comparecer e não mandou ninguém. Obtivemos muitos documentos que mostram que nada está sendo feito pelos órgãs competentes. O problema da Sabesp é a absoluta falta de investimentos e se pegarmos o que é distribuído de lucros para os acionistas na Bolsa de NY foram US$ 4,3 bilhões nos últimos 4 anos. Com isso daria para trocar todo o sistema de tubulação da Sabesp ou ter construído dois Cantareiras. Mas se preferiu privatizar a água e abrir 49% do capital na bolsa de NY. Não sou contra privatizações, mas a água jamais deveria ser objeto de qualquer privatização.

Se o senhor fosse governador, já teria decretado o racionamento?

O racionamento já existe, mas é velado. Eu assumiria. O que o governador faz é igual aquele cara que tomou 8 cachaças e diz que não está bêbado. Desse jeito, ele menospreza a nossa inteligência porque o racionamento já existe.

O que o senhor acha das acusações que dizem que a CPI tem um caráter eleitoreiro?

Eu apresentei o requerimento da CPI logo que eu tomei posse como vereador. Eu já estudava esse problema desde a época em que eu era do Partido Verde. Não acho que teve caráter eleitoreiro. Acho que ouviu as voz das ruas.

Quais as suas propostas para recuperar o sistema Cantareira?

Começarei parando de distribuir lucro para acionista em NY. Assim vai sobrar dinheiro. Não adianta menosprezar a inteligência dizendo que São Pedro não ajuda. Aqui tem água mesmo se ficarmos 100 anos sem chuva.

Mas de onde o senhor vai captar mais água?

Posso perfurar o solo, captar e distribuir, mas principalmente, deixar de desperdiçar. Isso significa reformar a rede de distribuição de águas. Nessa crise que estamos ver que 30% da água ainda é desperdiçada, quando na Europa o número médio é de 8%, é revoltante.

O Estado tem dinheiro para essa reforma?

Os lucros de US$ 4,3 bilhões resolveriam isso.

O senhor tem 1% nas pesquisas de intenção de votos e recebeu R$ 405 mil de doações de campanha, sendo que R$ 400 mil veio do senhor. Não é um investimento muito grande para este resultado?

Nós acreditamos em um projeto que não envolve apenas o governo do Estado. Envolve levar a bandeira da Marina Silva em todo o Estado de SP. Não pedi doações a ninguém. Eu mesmo doei porque tenho um patrimônio de R$ 3 milhões que me permitiu fazer isso.

Mas a Marina vai declarar apoio ao Alckmin?

Não sei. O que está acontecendo é que o partido dela tem um vício no Geraldo Alckmin. Isso já não é problema meu. Eu falo da minha coerência e dos meus planos com a Marina.

O senhor acha certo a Câmara dos Vereadores ficar parada de 4 em 4 anos enquanto os parlamentares estão em campanha?

Não acho certo, mas temos que ter coragem de resolver de fato esse problema. A Câmara não está parada só por causa dos 17 que são candidatos. Ela está parada porque os 55 vereadores se envolvem de forma legítima em alguma campanha. Não tem um vereador que esteja envolvido em alguma campanha. Eu sou a favor de unificar as eleições. Termos eleições de 4 em 4 anos, ou 5 em 5.

Mas o parlamentar não pode simplesmente renunciar ao mandato?

Isso acontece na ótica da velha política que encara o mandato como emprego. Eu não faço isso. Eu não sou candidato a reeleição de vereador por exemplo.

O que o senhor pensa da reeeleição?

É péssimo para o Brasil porque incentiva o vício do poder pelo poder. 4 anos é pouco, defendo um mandato de 5 anos. Política é vocação, não é trabalho.

Como o senhor avalia a administração do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad?

Como uma pessoa de visão de futuro, ele é um homem corajoso ao aprovar o Plano Diretor e aumentar as faixas de ônibus. A curto prazo, a sua zeladoria deixa a desejar. A cidade está cheia de buracos, mal cuidada, com mato alto. A questão das ciclovias ele deveria ter discutido mais com a população.

O senhor levaria esse modelo para o Estado?

Certamente, mas com bastante discussão com a população, como fizeram em NY. A ideia é boa.

Como lidará com os movimentos MTST e MST?

Reconheço esses movimentos, mas eles não vão me pautar. Em algumas questões, o prefeito está sendo pautado sim pelos movimentos. Acho que ele está sendo excessivamente permissivo. Antes tinha uma administração que deixava essa população no ostracismo. Agora, esta dá em excesso.

Na sua opinião, por que o Alckmin está tão bem nas pesquisas?

Não acredito que ele vá ganhar no primeiro turno. Agora na reta final o eleitor vai ter oportunidade com os debates de ver que tem um candidato da nova política. Geraldo Alckmin só está nadando de braçadas porque Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) estão muito ruins.

O senhor usa muito esse termo “nova política”, que a Marina Silva vem usando muito. No caso do senhor, na Alesp (Assembléia Legislativa de São Paulo) serão os mesmos políticos praticamente. Como funciona então essa nova política?

Ter ou não base aliada é relativo. Eu tenho certeza que haverá uma renovação na Alesp. Aposto em 60% de renovação na assembleia e no Congresso.

Hoje o PHS em quantos deputados?

Não temos nenhum. Mas temos a expectativa de eleger 3 ou 4 nesta eleição.

O que o senhor acha de o Brasil ter muitos partidos pequenos? É ruim para a democracia?

Não, de forma alguma. Mas eu acho que deveria ter uma distribuição mais justa e igualitária do tempo de TV. Não sou a favor do fundo partidário, que tem os maiores beneficários são os grandes partidos. Sou contra o caixa dois.

E o financiamento público de campanha?

É uma ideia boa, mas não estamos preparados ainda.

E a Marina, o senhor acha que ela é capaz de ganhar e acabar com a hegemonia do PT?

Tenho certeza disso. Não dá mais para ter o PT de novo. Quatro anos a mais para a Dilma seria desastroso para o Brasil.

Sobre transporte público. O senhor pretende reajustar a tarifa ou congelar?

Vamos criar uma grande auditoria e tapar os buracos do trensalão tucano. Enquanto isso não vou repassar a conta a quem usa o transporte público. Vamos avaliar os buracos por onde saem os escândalos da Alstom, as compras de trens superfaturados para sobrar dinheiro. Vou diminuir as secretarias também para economizar.

Como ficarão as secretarias estaduais?

Ficariam a Secretaria de Gestão Pública, que teria as secretarias de Administração, da Casa Civil, Finanças e Justiça. Para todos esses casos que têm status de secretaria eu trarei técnicos que já estão nas respectivas secretarias e teria apenas um secretário. A segunda será a de Segurança Pública, que terá a Fundação Casa, Secretaria de Administração Penitenciária e outros órgãos correlatos à administração pública. A terceira vai ser a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, em que vai ficar Sabesp, Secretaria dos Transportes, Habitação, sempre olhando pela ótica da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável. A quarta será a Secretaria da Qualidade de Vida, em que vai ter Secretaria da Educação, Cultura, Esportes, Saúde e outras correlatas.

E para a Saúde, quais são as propostas?

Com esses quatro eixos definidos, vai sobrar dinheiro e dá para usar o dinheiro da saúde para cuidar do saneamento básico.

Mas isso não vai contra a legislação que dita que a verba tem que ser usado para o seu destino?

Sem prejuízo, nós vamos usar. Vamos usar o dinheiro certo para Saúde na Saúde. Mas vamos investir na prevenção. Vou aumentar o programa Médico da Família, que vão visitar as pessoas de casa em casa. Para cada cargo de comissão que nós vamos eliminar dá para contratar uma equipe inteira para isso.

O metrô registra expansão anual de 1,9km. Como o senhor pretende elevar esse número?

Com o enxugamento da máquina pública, que vai fazer sobrar dinheiro, e com as parcerias públicos privadas vamos construir mais metrô. Vamos tirar do papel esses projetos que estão aí. Também vamos lutar contra o fim da corrupção, que também percorreu todo o projeto nos últimos 20 anos. Assim vamos conseguir fazer de 10 a 12 km por ano de metrô conforme consta em nosso programa.

Vai levar o metrô para a região metropolitana?

Claro e vamos também precisar rever o conceito do metrô. Um estação que deve ser construída urgente é a de Guaianases. Mas se construirmos hoje, o metrô entra em colapso. A linha leste-oeste não comporta mais nada. Além de crescer de forma muito lenta, o metrô de São Paulo cresceu de forma desordenada e burra. Temos hoje somente 3 estações para a comunicação entre as linhas.

É favorável a construção e operação do Metrô pela iniciativa privada?

Sim, por um período determinado. Tirando a Sabesp não tenho nada contra a iniciativa privada.

E na área de educação? O senhor acha que tem espaço para a iniciativa privada?

Não. Isso tem que ser 100% público.

Qual será a sua prioridade?

A educação. Em todas as outras áreas é possível corrigir o que deu errado a partir de hoje. Já a educação nos deixou com um passivo de milhões de jovens formados no sistema da progressão continuada, que se transformaram em analfabetos funcionais. Isso é um passivo para sempre.

E qual é a solução?

Acabar com a progressão continuada, modernizar as escolas trazendo a informática para dentro das escolas, modernizar a grande curricular, que está totalmente defasada.

O senhor vai voltar com as repetências?

Sim, isso é condição, não solução. Todas as escolas particulares tem esse esquema. Por que só na pública não tem? Para maquiar as estatísticas? É melhor ensinar essas crianças com exemplos. Repetir um aluno que não se dedica é dar um exemplo.

E o salário dos professores?

Sim. Também vou aumentar. Hoje o professor continua ganhando mal e também teve a autoridade tirada. Tem profissional que leciona em bairros da periferia e ganha adicional de periculosidade. Isso é um atestado de incompetência que o Estado passa.

Tem caixa para tudo isso?

Lógico que tem. Basta querer fazer e eleger as prioridades. Nós vivemos em um país que não é pobre e tem um carga tributária elevadíssima. Basta usar o dinheiro no lugar certo.

Como lidar com a crise financeiras das universidades estaduais? Acha que os alunos que podem devem pagar pelo estudo?

Essa é uma questão complicada. É difícil criar um parâmetro uma linha de corte para adotar essas cobranças, então eu acredito que seja melhor deixar as universidade públicas. O que nós temos é que enxugar a máquina. O Alckmin permiti que a folha de pagamento ultrapasse 105%. É um absurdo. Como órgão repassador, ele tem legitimidade jurídica e obrigação política de analisar os balanços. Ele precisa saber se o dinheiro que ele está repassando é pouco ou se está sendo mal gerido.

O senhor é a favor da discriminalização do aborto?

Pessoalmente sou contra o aborto. Mas não é porque eu sou contra que eu acho que o Estado não deva fazer. Se eu fosse presidente do Brasil, o que eu faria? Eu legalizaria o aborto e faria a mulher se consultar com órgãos ligados a entidades religiosas para dar o apoio a essa mulher. Ela teria que frequentar por uma semana ou optar por um apoio psicológico. Não dá para fazer como se faz hoje, em clínicas clandestinas e sujas. É preciso diminuir esse número de abortos.

O senhor é favorável a presença da PM em universidade estaduais?

Só em último caso.

A violência no campus da USP, por exemeplo, não justifica a presença da PM?

Existem muitas formas de oferecer segurança. Tem a segurança privada por exemplo. Universitários são adolescentes crescidos. PM é suscetível a provocação. Quanto mais você deixar a gasolina longe do fósforo é melhor.

Que órgãos do estado o senhor acha que podem ser privatizados?

Segurança e educação não. Mas transporte e parte da saúde, sim. A gestão das OSs (Organização Social) é possível melhorar.

O que ainda tem espaço para privatizar em São Paulo?

Tem todo um modal de transporte que ainda dá.

Se for usar o modelo adotado nas estradas, que prevê o reajuste anual da tarifa de pedágio, como fica a população? O setor privado vai exigir um retorno financeiro…

Não podemos comparar o Metrô com a farra que acontece nos pedágios. Esse modelo de privatização não é errado. Não sou contra a fazer uma concessão a uma empreiteira para construir a pista da Imigrantes, mas pagar R$ 28 para ir e voltar ao Guarujá é um absurdo.

Qual é a proposta do seu governo para diminuir a espera para fazer exames ou cirurgias na Saúde?

Temos que informatizar todo a secretaria de Saúde do Estado. Unificar todas as secretarias estaduais e fazer uma modernização da gestão da saúde pública. É preciso também melhorar a comunicação com as pessoas. Hoje se tem muita gente indo direto para o pronto-socorro por não saber ao certo para onde ir. Há um problema de comunicação, de gestão, de falta de leitos. Mas acima d tudo é um problema conceitual de se tratar a doença. O ideal é não deixar a população ficar doente. Quero disponibilizar na rede estadual massoterapeuta, cromoterapeutas, acupunturistas, técnicos em reike para se consultar uma vez por semana e ter uma troca de calor humano. Isso já não existe há muito tempo. Quando falamos em hospital lotado não estamos falando de gerir saúde e sim, de gerir doenças.

Quem o senhor vai apoiar no segundo turno em São Paulo?

O candidato da velha política não me passa na cabeça que ele não vá ganhar no primeiro turno. Ainda tenho chance de crescer, estou usando o nome da Marina nos meus programas. Para o meu apoio vou consultar a Marina e ver o que é melhor para o projeto nacional.

Qual vai ser a sua primeira medida no Palácio dos Bandeirantes?

Acabar a progressão continuada.

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