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Invasões, drogas e violência deixam moradores e comerciantes inseguros no centro de São Paulo

Cenas de quebra-quebra, saques e confrontos entre manifestantes e a PM (Polícia Militar) como as vistas anteontem durante a reintegração de posse no antigo hotel Aquarius, podem se repetir a qualquer momento. Além dos cerca de 6 mil sem-teto que ocupam pelo menos 40 prédios, dependentes de crack, moradores de rua e criminosos transformam o centro de São Paulo em um verdadeiro barril de pólvora.

Quem trabalha ou mora na região sente o clima de insegurança. A cada minuto, quatro pessoas são alvo de ladrões na região. Até mesmo os sem-teto reconhecem que a situação é crítica. “Usuários de droga e criminosos se infiltram nos protestos para roubar e fazer tumulto”, afirma Jussamara Leonor Manoel, 47 anos, uma das líderes da FLM (Frente Luta por Moradia), responsável pela invasão no prédio desocupado anteontem. Segundo ela, novas reintegrações de posse podem acontecer a qualquer momento, aumentando ainda mais a tensão na região. Das 200 famílias retiradas anteontem do Aquarius, 180 foram alojadas em um outro prédio invadido, na rua Líbero Badaró. Cinco pessoas detidas durante os confrontos continuam presas.

Para comerciantes e moradores, o maior problema são os dependentes de crack. Apesar do programa Braços Abertos, da prefeitura, é possível ver usuários de drogas “vagando” e cometendo pequenos furtos em quase todas as ruas do centro. Por meio do programa, a prefeitura oferece moradia em oito hotéis, três refeições diárias, oportunidade de emprego com renda de R$ 15 por dia, além de tratamento contra o vício.

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A reportagem do Metro Jornal esteve em um dos hotéis que participam do programa ontem e constatou que a situação é precária. Pessoas entram e saem do local sem o menor controle. Os quartos são sujos e mal iluminados.

“Moradores de rua, viciados em crack e sem-teto são o isqueiro e o estopim. A qualquer momento pode acontecer um Deus nos acuda de novo. Ontem (segunda), fiquei no meio do fogo cruzado. Vi um arrastão na rua Barão de Itapetininga ao meio-dia”, afirma a advogada Nicole Vicente Costa, de 29 anos, moradora da República.

Em nota, a prefeitura afirma que o programa Braços Abertos está passando por ampliação e mudança na administração, o que promoverá maior controle de quem entra e sai dos hotéis para garantir a segurança dos beneficiários e dos hóspedes, além de separar famílias com filhos da convivência dos dependentes químicos.

96% da verba do bolsa aluguel já foi gasta

A dificuldade enfrentada pela prefeitura para encontrar terrenos disponíveis para desapropriações tem levado a administração Fernando Haddad (PT) a gastar cada vez mais com o bolsa aluguel. Dos R$ 74 milhões previstos para este ano,  R$ 71,6 milhões já haviam sido liberados até o final de agosto, o que representa 96% do previsto no Orçamento.

Hoje, 30 mil famílias recebem entre R$ 300 e R$ 500, um crescimento de 15% na comparação com 2013.  O valor é liberado para quem foi retirado de uma área de risco ou após determinação do MP (Ministério Público). Os recursos para o bolsa aluguel têm origem no Fundo Municipal de Habitação.

Para efeito de comparação, o montante destinado para a construção de novas moradias para famílias de baixa renda, até agosto, chegou a R$ 38,2 milhões,  o que representa 21% dos R$ 179 milhões do orçado para este ano.

O balanço do Plano de Metas de Haddad indica que a atual gestão cumpriu 4,4% da previsão de construção de 55 mil casas até 2016. Em 2013, foram entregues 2.076 unidades. Neste ano, o saldo é de apenas 328 imóveis.  Segundo a prefeitura, outras 12,6 mil moradias casas já estão com as obras em andamento.

Outro lado

Segundo a Sehab (Secretaria Municipal de Habitação), o montante destinado para o bolsa aluguel pode chegar até R$ 100 milhões. A prefeitura diz que não irá ultrapassar o teto de 30 mil famílias já atendidas. A entrada de uma nova família só ocorrerá quando houver a saída de uma atendida pelo programa.

Com relação ao gasto com a construção de novas unidades, a Pasta destaca que os recursos são liberados a partir da execução das obras, por isso a diferença em relação ao bolsa aluguel.

A Sehab informa que já foram definidos terrenos para 47.055 unidades habitacionais. A prefeitura realiza agora as negociações para aquisição das áreas para poder abrir os processos de licitação. 

Sem-teto falam em excesso

Alguns dos moradores que foram desalojados na última segunda-feira do prédio do antigo hotel Aquarius, na avenida Ipiranga, afirmam que houve excesso da polícia durante a reintegração de posse do edifício. Cerca de 180, das 200, famílias que tiveram que sair do prédio foram realojadas em uma ocupação na rua Líbero Badaró.

O vendedor de balas William Jonatan, de 31 anos, afirma que teve que “fugir” do prédio com o filho de 5 meses por uma saída que dava no edifício ao lado. “Coloquei ele em um acessório para carregar bebês e pulei para o outro lado. Estava em uma altura muito grande e me machuquei muito. Mas isso foi necessário porque não poderia deixar meu filho correr qualquer tipo de risco”.

Agora, ele, sua mulher Ersimone Fleire Rosa, de 29 anos, e seus outros cinco filhos estão espalhados no prédio da Líbero Eles ocupam um espaço com cerca de 3 metros quadrados. “Estamos contando com a ajuda dos outros moradores aqui do prédio. Aqui é um ajudando o outro”.

Já o autônomo Florivaldo Prudente dos Santos, de 34 anos, diz que foi um dos primeiros a sair da ocupação com seu filho de dois anos e foi recebido com um tiro de bala de borracha. “Eles não quisera saber se eu estava com criança ou não. Desceram bala. Agora estou machucado e não conseguirei trabalhar por alguns dias”.

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