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Venezuela rompe relações com governo do Panamá

A Venezuela rompeu relações com o governo «lacaio» do Panamá, acusando-o de favorecer uma intervenção estrangeira – denunciou o presidente Nicolás Maduro, durante a cerimônia pelo primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, nesta quarta-feira.

«Decidi romper relações com o atual governo do Panamá (…) Estão tentando criar condições para justificar uma intervenção militar estrangeira na Venezuela», criticou Maduro, pouco depois de um impressionante desfile de tropas de elite com equipamento russo de última geração.

Maduro atacou a «campanha dos Estados Unidos, em conchavo com um presidente lacaio: trata-se do presidente do Panamá», Ricardo Martinelli.

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Cerimônia para Hugo Chávez

Um desfile e uma cerimônia no quartel onde jaz o cadáver de Hugo Chávez com a presença de quatro presidentes aliados marcaram hoje as celebrações do aniversário da morte do líder, em uma Venezuela abalada por um mês ininterrupto de violentos protestos. Às 16h25 (17h55 de Brasília), hora do falecimento de Chávez, tiros de canhão soaram no Quartel da Montanha.

«Os grupos violentos ameaçaram parar o país, e o país está funcionando livremente e com tranquilidade», havia declarado Maduro, na abertura do desfile, chamando a contestação de uma tentativa «de golpe de Estado».

Em um inflamado discurso, Maduro convocou «as Unidades de Batalha Bolívar Chávez (milícias civis), os movimentos sociais (…) os trabalhadores e camponeses a fazer valer a ordem do nosso comandante Hugo Chávez».

Atrás de Maduro, o Exército exibiu seu poderio, com tanques, caças, artilharia, grupos femininos de tropas, paraquedistas, batalhões de franco-atiradores e fuzileiros navais.

O relato oficial do desfile cívico-militar reforçou o crescente culto, quase religioso, à personalidade de Chávez, onipresente nas ruas e edifícios de cada canto do país com as maiores reservas petrolíferas mundiais.

Participaram do desfile «10.260 combatentes socialistas revolucionários anti-imperialistas e, sobretudo, profundamente chavistas, com 570 sistemas de armas e 35 aeronaves», declarou o general de brigada Jesús Suárez Chourio.

Mas a Venezuela dirigida pelo herdeiro de Chávez, está há semanas em alerta por uma onda de protestos que o governo classifica de golpe de Estado e que deixou 18 mortos, 260 feridos e dezenas de denúncias de violações de direitos humanos.

O cubano Raúl Castro, o boliviano EvoMorales, o nicaraguense Daniel Ortega e o surinamês Desi Bouterse prestigiaram a data comemorativa, que teve como destaque a estreia mundial pela televisão, e em rede obrigatória, do documentário «Mi Amigo Hugo» (Meu Amigo Hugo), do cineasta Oliver Stone.

«O legado que (Chávez) nos deixa é, com certeza, inalcançável, inesquecível e, além disso, essa obra será para sempre», disse Evo Morales, em um breve discurso no início da cerimônia.

Das coberturas dos prédios do bairro 23 de enero, considerado um bastião chavista no oeste da capital e onde fica o Quartel, membros de grupos chavistas (grupos armados ilegais) lançavam fogos de artifício e disparos para o alto, somando-se à comemoração.

«Estamos mais unidos do que nunca, lutando pela justiça, em batalha permanente e rumo à vitória popular», escreveu nesta quarta o vice-presidente Jorge Arreza, genro de Chávez.

«O governo está estável, embora não tão forte como há um ano», disse à AFP o analista e professor da Universidade Central Carlos Romero, acrescentando que, de qualquer forma, «não há um contrapoder com peso suficiente para transitar para outro regime».

No leste da capital, a oposição celebrava a data com um barulhento panelaço. A Praça Altamira, no bairro opositor de Chacao, voltou a ser palco de confrontos entre cerca de 500 estudantes radicaise as forças de segurança, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar a multidão.

Durante a noite, cerca de 200 homens da Guarda Nacional, apoiados por seis blindados, utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e disparos de cartucho para dispersar centenas de manifestantes que montaram barricadas e lançaram coquetéis molotov em Chacao.

As manifestações começaram há um mês quando os estudantes protestaram pela insegurança em San Cristóbal, depois da tentativa de estupro em um campus. Os protestos acabaram se espalhando por todo o país, encorajados por altas taxas de homicídios, de inflação e pela escassez recorrente de bens básicos.

Maduro adverte OEA

Neste contexto de tensão interna e de críticas de países estrangeiros, Maduro advertiu que não permitirá qualquer ingerência na Venezuela por parte da Organização de Estados Americanos (OEA), que se reúne nesta quinta, em Washington, para discutir a situação no país. A reunião acontecerá a pedido do Panamá.

«Vou responder com força e contundência a qualquer tentativa de qualquer governo da América de se meter nos assuntos internos da Venezuela. Não aceito intervencionismos em meu país», declarou Maduro em seu discurso em Caracas nesta quarta.

«Deixem a OEA por lá onde está, em Washington, bem bonita, bem longe de nós, porque nosso caminho é o Sul – o da Celac, Unasul, Alba. Esse é o nosso caminho. Fora OEA, por agora e para sempre», acrescentou o presidente.

Segundo a nota divulgada pela organização, «o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), por decisão de sua presidência, se reunirá em Sessão Privada na quinta-feira, 6 de março de 2014».

Depois disso, Maduro anunciou o rompimento das «relações políticas e diplomáticas» e «congelou» os laços comerciais com o governo do Panamá.

«Frente à conspiração aberta do embaixador do governo panamenho em Washington na OEA, decidi romper relações políticas e diplomáticas com o governo atual do Panamá e congelar todas as relações comerciais e econômicos, a partir desse momento», anunciou Maduro, na cerimônia de aniversário da morte de Chávez.

«Ninguém vai conspirar impunemente para pedir uma intervenção contra nossa pátria. Já chega! Convoco o povo a se unir a nós», acrescentou Maduro, em um discurso acalorado.

Os Estados Unidos apoiaram a convocação, conforme mensagem enviada à AFP por um porta-voz do Departamento de Estado, que destacou o «papel fundamental (da OEA) para administrar esse importante assunto de preocupação regional».

«A reunião proposta pelo Panamá é um passo apropriado adiante, dada a violência e a erosão de direitos democráticos na Venezuela e o aumento do número de vítimas fatais», durante os protestos, frisou o porta-voz americano.

O presidente do Panamá disse estar surpreso com a decisão de Maduro e desejou que a Venezuela encontre a paz, em tuíte publicado em sua conta no microblog.

Na noite desta quarta-feira, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, avaliou que «não há razão para se aplicar qualquer dos instrumentos da organização relativos à quebra da democracia» na Venezuela.

Durante discurso no Center for Strategic and International Studies, em Washington, Insulza admitiu que existem problemas, como a falta de independência do Poder Judiciário e de liberdade de expressão, mas afirmou que não observa «uma destruição clara e massiva da democracia na Venezuela».

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