O primeiro sinal de que as manifestações de rua tinham atingido perigoso ponto de saturação foi oferecido aos jovens acampados na avenida Delfim Moreira, que pedem a saída de Sérgio Cabral do governo. Enquanto mostraram vigor e novidade foram saudados com buzinas pelos motoristas e receberam sanduíches dos vizinhos do governador. Depois que ganharam a companhia de vândalos que saquearam lojas, destruíram abrigos de ônibus e arrancaram sinais de trânsito, viraram incômoda causa de engarrafamentos. Nariz torcido neles.
Do Leblon para o Centro da cidade, a trajetória não foi diferente. Tirando da conta os danos ao patrimônio público, nem a destruição dos vidros da Assembleia Legislativa ou a pichação em paredes e obras de arte da Câmara tinham diminuído a aprovação do carioca médio ao que se passava nas ruas. Pelo menos até que a rapaziada do protesto esticasse a corda. Quando perto de 200 gatos pingados conseguiram fechar a principal avenida do Centro, pelo tempo que lhes deu na telha, o alarme tocou para os milhões de trabalhadores que não conseguiam voltar para casa.
No fechamento da Rio Branco, também não faltou a crescente e injustificável violência que já se tornou traço comum nesses eventos. Pelo menos um carro particular foi depredado com o motorista dentro. Então, talvez resulte dessa total ausência de critério a náusea com que já começam a ser vistos até protestos irretocáveis, como o da Rocinha, pelo corpo de Amarildo. Não fosse o sindicato dominado por partidos de oposição ao prefeito, na mesma lista se poderiam incluir os professores do município, que brigam por melhores salários.
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O perigo, no entanto, é que o desgaste, pelos excessos cometidos, reduza o efeito do ruído das ruas sobre as questões que provocaram a explosão dos últimos meses. A invasão da Câmara de Vereadores, por exemplo, pode causar barulho e algum susto, mas a ocupação permanente do Plenário, se ganha espaço no noticiário, também tende a perder fôlego ao longo das semanas por falta de rumo. As ratazanas que ali se aninham não chegaram ontem, como os manifestantes, e suas relações com os empresários de ônibus são uma das prendas mais caras daquela igrejinha.
Neste momento, tudo o que o movimento das ruas representa de saudável para a democracia e o restabelecimento da moralidade em largos espaços da administração pública está ameaçado justamente pelo que propõe combater. Sem as bandeiras, que permitiram identificá-la e escorraçá-la na primeira investida, a militância da baixa política partidária está contaminando as manifestações pelas bordas.
O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’ na rádio BandNews Fluminense FM, em dois horários, e na página da emissora no Facebook, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br.