Estilo de Vida

Quarentena é empurrão para mudanças radicais de penteado

Isolamento por conta da pandemia e distância dos salões de beleza faz com que muita gente opte por mudanças no visual

Calcula-se que o cabelo cresça em média um centímetro por mês. A barba vai um pouco mais devagar, 0,3 centímetro. Se desde março, quando teve início a quarentena, você realmente cumpriu seu dever de se isolar em casa para frear a disseminação do novo coronavírus, pode estar com uma senhora juba até 4 centímetros maior, ou com uma baita barba, digna dos náufragos. Muita gente tem visto na situação desagradável dos novos protocolos da pandemia uma chance de mudar também o visual.

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“A fase em que vivemos de incerteza influencia na vontade das pessoas de ver algo radical. Tenho muitos clientes que passaram por transformações. Outro ponto é que estamos nos olhando muito mais em telas de chamadas de vídeo e algumas pessoas se incomodaram com o rosto que viram”, conta o cabeleireiro e consultor de imagem Roma Rodrigues. Sem poder trabalhar no salão em que atua na região da rua Augusta (centro de São Paulo) até semana passada, ele ofereceu aos clientes tutoriais a distância para que eles mesmos ou alguém da família fizessem os cortes.

Entre as mudanças mais fáceis e radicais, o uso da máquina para raspar os pelos é uma das prediletas, tanto para homens como para mulheres. “Sempre tive o cabelo muito ralo, o que para mim trazia até insegurança. Depois que raspei, gostei do resultado. Dá para ver melhor minhas linhas de expressão”, conta a analista de marketing Alessandra Peliçari, 39 anos.

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Não ter contato com muita gente neste período também contou na hora da mudança.

“Essa pandemia trouxe uma vontade maior de mudança. Evitar o contato mais próximo das pessoas no dia a dia me desencorajava. Agora encarei como um recomeço. Gosto da ideia de voltar para sociedade diferente, mudado com tudo isso que aconteceu. Sempre fui um cara que me expressei visualmente e não seria diferente agora”, conta o professor Felippe Maranhão, 35 anos. Ele aproveitou o período para raspar os cabelos e deixar a barba crescer.

A analista de software Elaine Martins, 50 anos, precisou abandonar o relaxamento dos cachos e a tintura: “Nem lembrava como era meu cabelo antes. É um processo bacana até para voltar a usar tratamentos naturais da época da mãe e da avó da gente, como hidratar com babosa e abacate, por exemplo.”

Mas claro, há também quem não veja a hora de correr para o salão de beleza para dar aquele trato no visual. “Sempre usei luzes e progressiva. Agora meu cabelo está preto e enrolado e acho que está todo mundo olhando para mim enquanto falo. Eu amo salão. Não vejo a hora de voltar logo com segurança” , diz a assistente social Daiane Rodrigues, 37 anos.

Análise: O desejo de sermos quem a gente é

«A mudança que acabamos fazendo na quarentena nos mostra quanto tempo todos nós passamos querendo corresponder a modelos sociais pré-estabelecidos. Temos comportamentos que não condizem com nosso real desejo e pagamos um preço alto por isso.

Ficar em casa mais tempo fez com que a gente se conhecesse melhor e entrasse em contato com esses desejos de poder ser o que a gente é. Quando tudo passar, teremos alguns legados.

Este relacionado a auto imagem vai ser uma herança positiva. Depois disso, muitas pessoas vão assumir estilo de vida mais condizente com suas necessidade. A mudança no visual pode ser simbólica neste sentido. Como se quiséssemos mostrar que estamos mudando, logo estamos vivos e donos de nossas mudanças.»

Ivete Yavo
Psicóloga e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano)

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