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Ensino a distância: criança com deficiência não pode ficar de fora

A falta de adaptação de conteúdos escolares no ensino remoto se mostra um entrave para a inclusão de alunos com deficiência

O ensino remoto tem levantado vários questionamentos quanto à sua eficácia, mas pouco tem se falado sobre a inclusão da criança com deficiência. Se a prática a distância já é difícil de incorporar no dia a dia das famílias, a falta de adaptação de conteúdos se mostra um entrave para o acompanhamento das atividades por parte de crianças surdas, cegas e com autismo, entre outras condições. Principalmente, se levarmos em conta que muitas práticas são feitas por meio de videoaulas e vídeos que não trazem recursos de acessibilidade como janela de Libras (Língua Brasileira de Sinais), legenda e audiodescrição.

Cybelle Dayane, mãe de Ana Beatrice, 3 anos, que tem transtorno do espectro autista em grau moderado, conta que a escola da filha dela costuma enviar muitos vídeos. “A creche em que minha filha está matriculada envia vídeos e pede para fazermos as tarefas, mas infelizmente minha filha não entende o vídeo e a tarefa não é adaptada para as dificuldades dela, mandam a mesma tarefa que mandam para os outros aluno típicos. Eu já falei na escola, mas não fui atendida”, diz a mãe que vive em Serra Talhada, no interior de Pernambuco.

Relatos como esse tem sido comuns entre os pais e revelam a falta de adaptação das atividades a distância para a criança com deficiência. As escolas tiveram de se adaptar às pressas para oferecer ensino remoto por causa da pandemia do coronavírus. Mas a inclusão da criança com deficiência, que já não ocorria como deveria na educação brasileira (embora seja um direito previsto em lei), parece ter sido esquecida.

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Inclusão da criança com deficiência tem de estar prevista nas atividades

“Todas as crianças, sem exceção, têm o direito de participar das atividades propostas pela escola, sejam presenciais ou remotas. Não podemos aceitar retrocessos por conta da pandemia, privando a criança com deficiência do acesso ao conteúdo curricular”, afirma Rodrigo Hübner Mendes, fundador e superintendente do instituto Rodrigo Mendes, ONG que luta por uma educação de qualidade para a pessoa com deficiência. Ele lembra que as equipes pedagógicas devem planejar as aulas considerando diversificar estratégias e flexibilizar atividades, de modo a incluir a criança com deficiência.

Entenda-se por criança com deficiência as crianças com síndrome de Down, com deficiência física, deficiência auditiva, deficiência visual, deficiências múltiplas, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades (superdotação), entre outras condições.

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Maria Teresa Eglés Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que os docentes não precisam imaginar atividades completamente diferentes para o aluno com deficiência, nem tentar simplificar a realização para evitar problemas. “Nós não temos a capacidade de fazer ninguém aprender. Temos que dar liberdade para que o aluno possa aprender e considerar o que ele consegue e o que não tem interesse em aprender. O bom professor considera o ensino igual para todos, mas o aprendizado completamente díspar”, declarou a educadora para a revista Gestão Escolar, referindo-se ao trabalho na sala de aula mas que, feitas as devidas ressalvas, pode servir também para o momento atual.

Tratamento diferenciado pode prejudicar vínculo da escola com a criança

A falta de inclusão da criança com deficiência – tratando-a como «café com leite» para que faça apenas parte das atividades, as mais simples, provavelmente, enquanto os colegas fazem as tarefas “de verdade” pode prejudicá-la. Na volta às aulas, essas crianças podem se sentir pouco entrosadas com os amigos, já que não participaram das mesmas aulas, podem também se sentir «por fora» dos conteúdos trabalhados, se não os tiverem visto em casa; e por tudo isso podem perder o interesse pela escola já que não mantiveram um vínculo próximo durante a quarentena.

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Base Nacional Comum Curricular destaca importância da inclusão

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo que orienta a elaboração dos novos currículos escolares, reforça a necessidade de a escola contribuir para aplacar toda discriminação e preconceito e dialogar com a multiculturalidade. “A convivência e respeito à diversidade na escola deve ser uma dimensão fundamental de uma instituição acolhedora”, diz a pedagoga e colunista da Canguru NewsPriscila Boy.

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