Estilo de Vida

À moda da casa? As receitas brasileiras creditadas a outros países

“A culpa é minha e eu coloco em quem quiser”, já disse Homer Simpson. E é mais ou menos isso que nós fizemos aqui no Brasil com várias comidas que compõem parte da nossa cozinha: criamos e atribuímos a outros povos. Na verdade, os gentílicos, também chamados de adjetivos pátrios, são usados para identificar a origem das coisas. Só que em muitas das vezes o negócio não existe no país em questão. Então pegue um pedaço de torta holandesa – que não tem na Holanda –, uma xícara de soda italiana – jamais vista por lá – e conheça algumas das lendas criadas por essa  globalização gastronômica.

Pão francês

O nosso pãozinho francês, que em algumas regiões é chamado também de pão de sal ou cacetinho, simplesmente não existe na França. A “confusão” começou no início do século 19. Na época, o pão comum no país era um com miolo e casca escuros. Só que, quando a elite do Brasil, que era recém-independente, viajava a Paris, voltava descrevendo o pão do lugar – a baguete – aos seus padeiros, que tentavam reproduzir a receita. E dessa gastronomia oral nasceu o que podemos chamar de pão francês brasileiro.

Palha italiana

Genuinamente brasileiro. Assim pode ser descrito o famoso doce feito com brigadeiro e pedaços de biscoito. Ou você acha que os italianos inventariam uma receita feita com ingrediente de dulçor tão elevado como o brigadeiro, surgido no sul do Brasil? É inclusive daquelas bandas que vem também a palha italiana, chamada assim porque se trata de uma espécie de releitura do doce italiano salame di cioccolato (salame de chocolate). O original é feito com massa de chocolate, manteiga e ovos, acrescido de pedaços de biscoito, nozes, amêndoas e avelãs. Por aqui, demos aquela simplificada: trocamos a massa e utilizamos somente os pedaços de biscoito para o toque especial.

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Paleta mexicana

No México, não existem picolés iguais às “paletas” que vemos aqui, em receitas como morango com recheio de leite condensado. Lá, a original é vendida nas ruas e é feita só de fruta e água ou leite. As variedades mais populares são flor de hibisco, tamarindo, queijo com frutas vermelhas e arroz com leite. Essa coisa de rechear o sorvetão com brigadeiro foi ideia nossa e faz com que a paleta deixe de ser vista como tal pelos mexicanos. É como se chegássemos ao México e de repente encontrássemos uma “coxinha brasileira” com recheio de feijão ou guacamole.

Sorvete napolitano

O sorvete napolitano não reproduz direito as cores da bandeira da Itália (vermelho, branco e verde) e muito menos é tradicional na cidade de Nápoles. Esse nome apenas vem do fato de que foi um napolitano, vivendo nos Estados Unidos, quem criou a mistura: morango, creme e chocolate. A intenção era mesmo homenagear a terra natal, porém o colorante verde causou alergia em alguns consumidores. Decidiu trocar pelo chocolate. Aí ficou assim mesmo, capisce!?

Arroz à grega

Não adianta ir para Atenas ou Mykonos com o desejo de comer um “autêntico arroz à grega”. Por um motivo simples: não existe lá nas terras de Aristóteles. Mas, descobrir a origem do prato, que no Brasil é muito popular, é praticamente um exercício de filosofia. A palavra “arroz” pode até ter origem grega (oryza), mas o modo de preparar, geralmente com ervilha, cenouras e passas, não é. O que se sabe é que a culinária do país preza pelo grande número de ingredientes, que geralmente resultam em pratos coloridos, como… o nosso arroz à grega. Ah, o churrasquinho grego, sim, existe. Mas não vem acompanhado com suco artificial.

Lanche americano

Este famoso lanche de padoca surgiu em nossas terras tropicalientes, nos anos 1940, quando os donos da lanchonete Salada Paulista, em São Paulo, se propuseram a incrementar o misto-quente, outra criação da casa, que já fazia sucesso. Daí, acrescentaram alface, ovo e bacon. O “americano” do nome faz menção à dupla de ovo e bacon, combinação que é a cara do café da manhã na terra do Tio Sam. Engraçado é que, tempos mais tarde, o bacon deixaria de fazer parte da receita.

Bife à parmegiana

Apesar de atribuirmos o famoso bife à milanesa – esse sim de Milão mesmo – com molho e queijo a Parma, na Itália, a cidade não tem nada a ver com isso. Ele é, na verdade, resultado da influência italiana sobre a culinária paulista. Não há registros de quem seja o consagrado autor desta proeza, mas reza a lenda que o nome se deu pelo uso do parmesão, que aí sim é um queijo oriundo lá da cidade. Outros atribuem ao fato de, pelo menos entre os italianos – e há muitos por aqui –, o termo parmegiana ser usado para coisas feitas em camadas.

Pizza portuguesa

No Brasil surgiram várias versões de pizza jamais vistas no resto do mundo. Uma delas, inclusive, ganhou o nome só por ter sido supostamente inventada por um português que morava aqui. Daí que, em vez de se chamar “pizza do português”, virou “pizza portuguesa” mesmo. Conta-se que quando os primeiros imigrantes italianos chegaram, eles tinham o costume de assar os discos nos fornos das padarias portuguesas. Um tal portuga, muito do criativo, teria aproveitado a deixa e criado uma cobertura com ingredientes disponíveis no mercado local: ovos, cebola, azeitona, ervilha, queijo e presunto. Brasilzão afora, existem combinações ainda mais turbinadas. Mas que faz sucesso, faz, ó pá!

Gentílicos: a regra!

Também conhecidos como adjetivos pátrios – quando usados na condição de adjetivo –, os gentílicos são uma classe de palavras que definem algo de acordo com o seu local de origem. Segundo sua etimologia, o termo vem do latim “gentilitius” que por sua vez provém de “gens”, que significa família ou tribo.

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