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Reserva ecológica no sul do Chile sofre com deteriorações causadas por turistas

Uturista joga uma bituca de cigarro no chão e causa um incêndio que consome 14 mil hectares de floresta virgem. A tragédia ocorreu no ano de 1985 em Torres del Paine, no extremo sul do Chile. Este parque nacional se tornou, nas últimas décadas, um dos mais visitados do país. Chegar às imponentes montanhas que dão seu nome é uma aventura para pessoas de todo o planeta, que entre outubro e abril – quando o clima permite – visitam o lugar. Mas também se tornou um desafio conservá-lo.

Desde 1985, outros dois grandes incêndios originados por turistas assolaram essa reserva biológica de 227.298 hectares, onde um ecossistema encabeçado pelo puma é outra das atrações principais. Os visitantes podem observar, assim como na savana africana, estes felinos espreitando suas principais presas, os guanacos, grandes camelídeos das zonas pré-cordilheira.

20 mil árvores lengas, chamadas também de “Roble de Tierra del Fuego”, nativas da região, são produzidas anualmento pelo viveiro da ONG AMA Torres del Paine

Nos últimos anos, muitas iniciativas são implantadas para que os visitantes e a biodiversidade possam conviver melhor. O Metro Jornal conheceu uma delas na Reserva Cerro Paine, que apesar de abarcar somente 1,8% do parque é um ponto-chave do trajeto de turistas na trilha até as famosas Torres del Paine.

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“O parque, em geral, recebe em torno de 260 mil turistas por ano. Nós somos parte de um ecossistema Torres del Paine, muitos turistas vêm de Puerto Natales ou de hotéis. Eu acho que, destes, uns 160 mil adentram a montanha, seja fazendo a [rota] ‘W’, ‘O’ ou a ‘full day’ [visita durante o dia inteiro]”, conta Mauricio Kusanovic, diretor da reserva biológica.

Nesta última opção está a estrada a Base Torres, que apresenta trilhas já desgastadas. Isso levou a iniciativas para melhorá-la.

+ 76 mil metros quadrados em doações (cerca de 5% do total) foram arrecadados com a campanha Sua Melhor Pegada para o Paine, em benefíco da trilha que leva à base do Parque Torres del Paine

“Os canadenses da Shuswap Trail Alliance já vêm há quatro anos seguidos fazer um diagnóstico da trilha e o que disseram é que está mal desenhada. A água e o vento vão destruir. Fizeram um diagnóstico completo e um novo traçado, mais fácil, mais baixo, com boas técnicas e declives. Nós separamos os usuários, porque aprendemos que os cavalos ou as bicicletas praticamente não desgastam com o declive correto. Finalmente fizemos um projeto onde passamos de 10 quilômetros de trilhas a 27, onde haverá percursos com ida e volta para evitar congestionamento”, explica.

“Mas isso tem um custo de 1,2 milhões de dólares, com investimento em maquinários e pontes. Uma parte da trilha passa pela reserva e outra pelo parque nacional – nunca se cobrou o acesso, é livre para qualquer um. Então, vimos o que podia ser feito para financiar e nasceu a campanha ‘Tu Mejor Huella para el Paine’ (Sua Melhor Pegada para o Paine, em tradução livre), que começa com a trilha para Base Torres. Esperamos que isso não pare aqui e possamos fazer muitas trilhas em todo o Chile”, completa.

Para poder chegar às pessoas com esta campanha a reserva se associou ao Pic Parks, que apoia projetos de conservação em todo o mundo, dando às pessoas a oportunidade de conservar 1 m² por dólar de doação.

700 pessoas, em média, sobem diariamente as montanhas do Torres del Paine pelas trilhas habilitadas na Reserva Cerro Paine, uma das rotas centrais para turistas

Para Kusanovic, com uma boa gestão das trilhas “você controla um monte de riscos, como os incêndios florestais. Porque se um turista se perde, ele vai acampar quando a noite cair, então para isso não acontecer a trilha deve ser bem demarcada”.

Nas décadas recentes, Torres del Paine sofreu de três grandes incêndios causados por turistas. O mencionado, em 1985. Outro, em 2005, causado por um forno portátil, chegou a 15 mil hectares consumidos. E entre 2011 e 2012, o último, iniciado por papel higiênico incendiado, chegou a queimar mais de 17 mil.

Isso também levou a ONG da reserva a tentar reflorestar espécies nativas, como a lenga, uma árvore cujas folhas passam pelo tom verde ao amarelo e roxo, dando um grande atrativo às montanhas do lugar. “Dada a realidade do parque, nós, com a ONG AMA Torres del Paine, há anos fazemos um projeto junto a entidades governamentais com 20 mil lengas e isso nos levou a plantar mais 20 mil e agora temos um viveiro florestal de 15 mil a 20 mil todos os anos. Há um aporte ecossistêmico de reflorestamento, mas o maior é fazer com as crianças, o que nossa ONG faz. Esperamos que algo da experiência fique nelas e que o feito de plantar uma árvore os façam ser mais cuidadosos no futuro. Esperamos que as crianças sejam catalisadores da mudança”, conclui Kusanovic.

Conheça três atrações de Torres del Paine:

Guanaco

Este grande camelídeo é um dos atrativos da paisagem de Torres del Paine. Em grande número, é a principal fonte de alimento dos pumas. Junto ao humemul, é um dos maiores herbívoros nativos da região.

Puma

É um dos poucos lugares do mundo  em que ver um puma é praticamente garantido, porque tem comida e pode viver tranquilamente. Há várias gerações ele não é caçado. Ele é o pilar da cadeia alimentar, seguido por raposas e gatos selvagens.

Observação de pássaros

Mais de 120 espécies de aves – entre as quais se encontram o condor, o pássaro carpinteiro preto, flamengos ou o grande nandu-de-darwin – formam este paraíso para observadores de aves que chegam de todo o mundo.

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