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Abdelmassih passa a noite em cela de 15 m² em Tremembé

Roger Abdelmassih foi levado do aeroporto de Congonhas até Tremembé | William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress
Roger Abdelmassih foi levado do aeroporto de Congonhas até Tremembé | William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress

O ex-médico Roger Abdelmassih, de 70 anos, capturado em ação conjunta da PF (Polícia Federal) e da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai na tarde de terça-feira, em Assunção, passou a noite desta quinta-feira em uma cela de 15 metros quadrados da penitenciária 2, em Tremembé, no interior de São Paulo.

Capturado após três anos foragido, Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por estupros de 37 mulheres de 1995 a 2008, vai ficar de 10 a 30 dias na cela, recebendo apenas a visita de seus advogados para que a direção do presídio analise seu comportamento. Neste período, ele deve passar por frequentes avaliações médicas.

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Após o período de adaptação, o ex-médico será integrado ao convívio com os demais 451 presos da penitenciária.

Nos corredores de Tremembé, Abdelmassih deve conhecer Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha, Lindemberg Alves, que matou a namorada, e os irmãos Cravinhos, que ajudaram a matar os pais de Suzane von Richthofen.

Esta é a segunda vez que o ex-médico fica preso em Tremembé. Em 2009, ele ficou quatro meses na penitenciária 2, mas foi solto após o então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, expedir habeas corpus em seu favor.

Autoridades brasileiras e paraguaias à frente das investigações suspeitam que familiares e políticos teriam ajudado Abdelmassih na fuga do Brasil. Testemunhas denunciaram à polícia ter visto o ex-médico em Paris e em Mônaco. Em uma averiguação feita em uma fazenda de Avaré, onde ele teria ficado escondido por um ano, foram encontradas fotos e um sabonete do hotel Le Bristol, um dos mais caros da capital francesa, além de uma agenda telefônica.

Com autorização judicial, alguns dos telefones encontrados na agenda estão sendo monitorados. Os grampos mostram que ao menos cinco pessoas, entre familiares e políticos, teriam ajudado o ex-médico a fugir e a se manter em uma mansão de um bairro nobre da capital do Paraguai.

Para conseguir encontrar o ex-médico no Paraguai, a PF montou campana em Assunção, após descobrir que ele deixou São Paulo em 2011. Depois, ele teria passado por Avaré (SP), Presidente Prudente (SP) e Foz do Iguaçu (PR), de onde cruzou a fronteira com o Paraguai de carro.

Os policiais fizeram busca em escolas infantis de alto padrão para tentar achar os filhos gêmeos do ex-médico, que fazem aniversário em agosto. Depois de vários dias, uma escola “suspeita” foi encontrada no dia 11, porque crianças gêmeas estavam comemorando aniversário naquela semana.

Ao checar o endereço das crianças, foi vista uma Mercedes 350 preta na garagem da casa. Segundo a PF, Abdelmassih tem predileção por Mercedes pretas. No dia seguinte, o ex-médico foi visto no local. Ele foi detido uma semana depois quando ia levar os filhos à escola.

A mulher de Abdelmassih, a ex-procuradora Larissa Sacco, de 37 anos, deixou o Paraguai rumo ao Brasil na mesma noite em que seu marido foi preso.

Ela cruzou a fonteira em um Kia Carnival, pela Ciudad del Este. A Interpol emitiu alerta para que autoridades dos países ligados à rede investiguem o paradeiro dela. 

Ex-médico diz que mulher foi mentora da fuga

Em entrevista à Rádio Estadão, Roger Abdelmassih afirmou que sua mulher, a ex-procuradora da República Larissa Maria Sacco, de 37 anos, foi a mentora de sua fuga, três anos atrás. “Eu achava melhor me entregar. Minha mulher disse: ‘Não, vamos embora’. Aí, falei com minha irmã que tem um haras em Presidente Prudente. Fomos para lá. De lá, fomos para o Paraguai”, afirmou.

Segundo o ex-médico, a intenção dele nunca foi fugir. “Eles [Justiça e MP (Ministério Público)] achavam que eu ia fugir, mas eu não ia. Ia passear”, disse. “Fiquei três anos e meio no Paraguai. Assunção é uma cidade boa, barata, de gente simples. Gostam dos brasileiros”, afirmou. Ele disse, ainda, que foi “condenado escandalosamente” e sem provas.

No Paraguai, ele contou que vivia em uma casa confortável. O aluguel custava R$ 18 mil por mês. Para não ser reconhecido, ele sempre usava peruca e óculos escuros.

Por fim, Abdelmassih disse que está doente e se comparou a José Genoino, condenado no processo do mensalão, ao pedir para cumprir pena em liberdade.

“Se o Genoino pode sair da cadeia, eu também posso. Eu tenho uma prótese. Isso é muito pior”.

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Abdelmassih morava em mansão no Paraguai e tinha segurança

Assim que foi apresentado, ele fez exame de corpo de delito e foi levado para um regime de observação.

Condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 39 mulheres, ele não poderá receber visitas.

Abdelmassih já esteve na penitenciária 2 em 2009, antes de conseguir o habeas corpus. Desde então, ele estava foragido da Justiça e só foi capturado na segunda-feira, em Assunção, capital do Paraguai.

Vida luxuosa como foragido

O ex-médico morava com a mulher e os filhos gêmeos de três anos em uma casa num bairro nobre da capital Paraguaia. Abdelmassih tinha um carro luxuoso avaliado em cerca de R$ 400 mil.

O Ministério Público de São Paulo investigará uma rede que dava suporte financeiro, logístico e estratégico desde 2011 ao foragido. O objetivo é saber como ele vivia com tanto luxo no país. O aluguel da casa em que ele vivia custava R$ 10 mil.

Roger Abdelmassih se identificava como Ricardo, um investidor brasileiro interessado em projetos sociais.

Fiscalização aleatória na fronteira do Paraguai facilita a fuga

A fiscalização aleatória nas áreas de fronteira e o baixíssimo efetivo de agentes da Polícia Federal são os principais motivos da facilidade com que criminosos e foragidos da Justiça entram e saem do Brasil sem qualquer empecilho.

Dois casos recentes evidenciam a vulnerabilidade na área da fronteira com o Paraguai, por onde fugiram o condenado no mensalão Henrique Pizzolatto e o ex-médico Roger Abdelmassih, capturado nessa semana no país vizinho.

O procurador da República em Foz do Iguaçu, Alexandre Collares, atua há 8 anos na região e diz que esse é um problema grave, já que o número de agentes é menos da metade do considerado ideal pela própria Polícia Federal.

O advogado Rodolpho Ramazzini, diretor da Associação Brasileira de Combate à Falsificação, destaca ainda que a maioria dos criminosos tem muitas alternativas pra deixar o país, além da Ponte da Amizade, principal ligação com o Paraguai.

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