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As curiosas razões pelas quais certos passarinhos gostam de ser observados enquanto fazem sexo

O cordon-bleu-de-cabeça-azul tem um ritual peculiar de acasalamento, com direito a dancinha que se parece com sapateado, e não se intimida se tiver plateia – pelo contrário.

Sem essa de timidez. Se tem plateia, os passarinhos fazem do tipo assanhado, não economizam chamegos e capricham na performance na hora do canto, da dança, de todo o ritual do acasalamento. E se o público é formado só por fêmeas, por exemplo, o macho costuma se exaltar mais ainda – ou o contrário: para uma audiência masculina, a fêmea é a mais exibida.

Foi o que constatou uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Hokkaido, do Japão, e do Instituto Max Planck de Ornitologia, da Alemanha – o estudo está na edição desta quarta-feira do periódico Science Advances.

Eles analisaram o comportamento da ave Uraeginthus cyanocephalus, o cordon-bleu-de-cabeça-azul, um passeriforme da família estrildidae, de comportamento cantor, nativo de países africanos como Etiópia, Quênia, Sudão do Sul, Somália e Tanzânia.

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Este pássaro foi escolhido pelo estudo porque tem um ritual bastante peculiar de acasalamento, com direito a uma dancinha que se parece com um sapateado.

«Desconhecemos outra espécie capaz de fazer movimentos tão rápidos com os pés. No entanto, os machos de todas as espécies de estrildídeos, ou seja, da família estrildidae, que conta com cerca de 135 espécies, fazem algum tipo de dança, de pulos ou balanços, no momento em que cantam para o ritual de acasalamento», explicou à BBC News Brasil a pesquisadora Masayo Soma, do Departamento de Biologia da Universidade de Hokkaido.

O experimento

Para analisar o comportamento dos bichos, os pesquisadores colocaram os casais em ambientes com e sem audiência.

«Observamos que tanto os machos quanto as fêmeas exibem um sapateado super-rápido durante o cortejo, sobretudo quando querem anunciar seu rito a espectadores», pontua Soma.

«Existem dois tipos de pessoas: aqueles que escondem sua vida íntima, seu namoro, e têm um comportamento propício a traições; e aqueles que assumem publicamente seu romance, seu casamento. Os cordon-bleus são os últimos», compara a pesquisadora. O cordon-bleu tem comportamento monogâmico.

«Isto é bastante surpreendente, porque, na natureza, as exibições de danças acrobáticas em geral são para chamar a atenção de outros parceiros em potencial. No caso desta ave, é para mostrar lealdade ao seu parceiro em particular», completa.

Soma acredita que o estudo acrescenta novos conhecimentos sobre a complexidade comunicativa das aves, um campo com muito ainda para ser pesquisado.

Os pesquisadores concluíram que, no caso desta espécie, o ritual funciona como uma forma de anunciar a toda a «comunidade» que aquele casal está formado, está unido. Praticamente uma festa de noivado.

E os cientistas acreditam que esta manifestação reforça o vínculo entre o macho e a fêmea, fazendo com que eles permaneçam juntos por toda a vida.

Ou seja, seguindo essa analogia, ao renovarem o ritual para a plateia, é como se eles fossem daqueles casais que fazem festas «de bodas» para comemorar os 10 anos de união, os 15 anos de união, e assim por diante.

Fama e orgulho

Soma conta que a equipe acabou concluindo serem duas as razões para esse oba-oba realizado pelos cordon-bleus quando o namoro ocorre em público.

Além da questão de mostrar a lealdade ao parceiro – sendo «bom para construir um relacionamento de confiança e protegendo o parceiro contra assédio de rivais», conforme ressalta a pesquisadora – também há um aspecto social que estaria na imagem criada por cada indivíduo.

«Nessas exibições de cortejo, em frente aos outros, o pássaro anuncia que está saudável, de boa qualidade – e que é bem-sucedido, um sujeito popular», explica.

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