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Nasa vai lançar satélite para “caçar” planetas

Missão vai analisar a quase totalidade do céu e espera encontrar milhares de novos mundos – e quem sabe até mesmo vida em algum deles.

A agência espacial americana lança nesta segunda-feira um telescópio cuja meta é encontrar milhares de planetas para além de nosso Sistema Solar.

A missão Tess usará um foguete Falcon, disparado a partir de Cabo Canaveral, na Flórida, para mapear a quase totalidade do céu pelos próximos dois anos.

Um dos focos será catalogar milhares de estrelas ainda não conhecidas, em busca de planetas que orbitem ao seu redor – assim como a Terra orbita o Sol.

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«Em seguida, estudaremos a composição desses planetas e sua atmosfera», diz à BBC Jennifer Burt, pesquisadora do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que lidera a missão. «Esperamos conhecer 2 mil a 3 mil novos planetas.»

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O observatório espacial James Webb, que deve entrar em órbita em 2020 – e substituirá o telescópio Hubble -, deve ter um papel crucial nessa missão. Suas lentes poderosas terão a capacidade de esmiuçar as atmosferas dos novos mundos a serem descobertos pela Tess, além de buscar pistas de eventual presença de vida nesses planetas.

«Há muito interesse em procurar (o equivalente) às bioassinaturas da Terra, como (a presença) de metano, dióxido de carbono, vapor de água e oxigênio», explica Paul Hertz, diretor astrofísico da Nasa.

Nos passos do Kepler

A missão Tess vai seguir nos passos do Kepler, um inovador telescópio espacial lançado em 2009, que conseguiu confirmar a existência de mais de 2 mil exoplanetas (ou seja, que orbitam outra estrela que não o Sol). Mas o Kepler, pelo menos em sua missão original, fez uma varredura em uma porção limitada do céu. Além disso, muitas de suas descobertas estavam muito distantes para serem analisadas a fundo por outros telescópios.

A estratégia com a Tess será diferente, a começar pela amplitude da busca. A varredura será em uma área «350 maior do que a analisada pelo Kepler», conta Burt.

A missão terá quatro câmeras que vão mapear o céu em diferentes segmentos, e cada «trecho» terá 27 dias de estudos.

Em 24 meses, o Transiting Exoplanet Survey Satellite (origem da sigla Tess e, em português, Satélite de Pesquisas de Exoplanetas em Trânsito) deve conseguir mapear 85% dos céus, incluindo suas 500 mil estrelas.

A expectativa, diz Burt, é que os 2 mil a 3 mil novos planetas sejam «certamente menores do que Júpiter e em sua maioria menores do que Netuno; então, que tenham potencial de serem terrestres, rochosos».

Água líquida

O interesse é saber se eles estão orbitando sua estrela-hospedeira a uma distância que permita a ocorrência de água líquida – um pré-requisito para a existência da vida.

Para a maioria das estrelas observadas pela Tess, essa distância será curta. O motivo disso é que a maioria das estrelas do céu são menores e mais frias que o Sol – portanto, a zona da temperatura ambiente que permitiria existir água em estado líquido é muito menor.

Outro projeto que analisará o material levantado pela Tess será o Cheops (Characterising Exoplanet Satellite, ou Satélite de Caracterização de Exoplanetas), liderado pela Suíça no âmbito da Agência Espacial Europeia (ESA). Esse telescópio deve estar pronto para lançamento até o final do ano.

«A Tess vai nos dizer para onde e quando apontar (nossas lentes)», diz a cientista do Cheops Kate Isaak. «Nosso propósito será medir precisamente o tamanho dos planetas que forem identificados. Se soubermos seu raio e sua massa, conseguiremos (projetar) sua densidade e possível composição. Serão eles rochosos? Serão aquáticos? Serão gasosos?»

Brilho das estrelas

Bill Chaplin é um especialista em asterosismologia na universidade britânica de Birmingham. Ele está interessado nas variações de brilho das estrelas que serão observadas pela Tess.

Essa variação é consequência das ressonâncias das camadas externas das estrelas – e algo que Chaplin usa para obter muitos dados sobre esses astros.

«Podemos medir as propriedades fundamentais das estrelas», explica ele. «Podemos ver o quão maciças elas são e qual sua idade. Além disso, podemos traçar um retrato do interior da estrela. Em resumo, podemos fazer o equivalente a um ultrassom nelas.»

Após o lançamento, o plano prevê que o satélite da Tess voe no foguete Falcon durante 44 minutos até ser ejetado em um percurso elíptico ao redor da Terra.

Os responsáveis pela missão projetaram uma órbita de forma que o satélite da Tess seja «encurralado» pela gravidade da Lua, o que deve ajudar a economizar combustível, permitindo que a missão se prolongue por algumas décadas – ou até que a Nasa a considere produtiva.

É possível que boa parte dos novos planetas descobertos esteja relativamente perto de nós – a algumas dezenas de anos-luz da Terra. É uma distância bastante longa para uma viagem humana, mas George Ricker, principal pesquisador da Tess no MIT, se diz confiante de que ainda neste século teremos tecnologia para permitir que robôs exploratórios visitem as novas descobertas no espaço.

«Consigo imaginar uma armada de nano-satélites partindo da Terra para nos mandar informações», diz ele. «Isso será um legado da Tess.»

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