Ele é um gigante que mede mais de 1.100 quilômetros, percorre três Estados brasileiros e dá de beber a uma população maior do que a de habitantes da Suiça, Nova Zelândia e Portugal juntas. Corre ágil pelas montanhas, majestoso e manso pelos vales e de vez em quando é aprisionado pelas represas. Por onde passa, deixa a sua marca na cultura, religião, culinária, tradição, indústria. Esse é o rio Paraíba do Sul. Mas, especialistas alertam: proteger a bacia hidrográfica desse rio é vital para que essa caixa d’água não esvazie.
Isso porque o despejo de esgoto, o assoreamento de suas margens, as barragens e as transposições estão cada vez mais reduzindo o volume do Paraíba.
Se no Brasil Colônia ele era uma porta para chegar ao interior do país, hoje ele abastece água para paulistas, mineiros e cariocas. Tanto é que durante a crise hídrica o Rio Paraíba do Sul esteve no centro de uma disputa judicial que foi parar no Supremo Tribunal Federal, em Brasília.
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Seguir seu curso é como fazer uma viagem no tempo, entre o Brasil do café e o Brasil das hidrelétricas que começa na Serra da Bocaína, no interior de São Paulo e termina em São João da Barra, litoral norte do Rio de Janeiro.
Para o historiador Francisco Sodero, o Paraíba do Sul é o coração do Brasil porque não só liga três Estados brasileiros como também os dois principais centros do país, São Paulo e Rio de Janeiro. “Precisamos cada dia mais desse rio vivo”, ressalta.
Segundo o analista ambiental do ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Sandro Leonardo Alves, as comunidades precisam urgente encarar de frente a realidade dos rios. “No Paraíba do Sul e nos rios em geral, as casas dão as costas para eles, é uma forma de invisibilidade coletiva.”
O que você tem no rio são as costas das residências, afirma o analista ambiental. “E o que sai dessas costas é o esgoto não tratado e o lixo que se joga da janela.”
Resiliência
“O rio, como todo elemento da natureza, é vivo, é dinâmico, e tem uma qualidade que chamamos de resiliência, que é a capacidade que o ambiente tem de se reconstruir”, afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Médio Paraíba, José Arimatéia Oliveira.
Ele chama a atenção para o fato de que o rio, no seu percurso, vai, ele mesmo, trabalhando e oxigenando suas águas, melhorando a qualidade delas. “Por mais que a gente despeje material ruim ele luta diariamente para limpar isso.”
Ações como o projeto Rio Vivo, mantido há 14 anos pela Band Vale, mobilizam pessoas, empresas e autoridades para lutar pela preservação do Paraíba e seu entorno.
Em suas margens, folclores e lendas
Percorrer o Paraíba do Sul é mergulhar também na rica cultura que brota às suas margens. Folclores e lendas mantêm vivas a tradição do povo brasileiro. Em um dos principais afluentes do rio, dizem que mora um moleque travesso, que vive aprontando. Sim, é ele mesmo: o saci-pererê. Quem entrega o seu paradeiro é o poeta e contador de histórias, Benedito dos Santos ou Ditão Virgílio, como é mais conhecido na região.
Ele vive em São Luiz do Paraitinga, na Serra do Mar, a caminho do litoral norte paulista e garante que se tornou o melhor amigo do saci, ainda criança. “Quando tinha seis anos vi um rodamoinho na mata e um saguizinho chamando para brincar, era ele”. Virgílio afirma que o amigo saci mora numa moita de bambu taquaruçu.
“Saci gosta de bambuzal, de serra e de água, então aqui é perfeito, tem outros lugares onde ele aparece também, claro, mas sempre volta para Paraitinga”, diz, convicto, o poeta.