Estilo de Vida

Ex-funcionários do Facebook e do Google criam campanha para proteger crianças do vício em redes sociais

Eles dizem que uso excessivo da internet pode prejudicar desenvolvimento social, emocional e cognitivo delas, e que empresas de tecnologia empreendem ‘esforços deliberados’ para atingir e manipular esse público.

No atual debate sobre os impactos negativos que as redes sociais e os smartphones podem ter na saúde dos usuários e na sociedade, o mais recente alerta vem dos profissionais que ajudaram a criar esses produtos e ferramentas.

Um grupo de ex-funcionários do Google, do Facebook e de outras grandes companhias do Vale do Silício acaba de lançar nos Estados Unidos uma campanha para informar o público sobre os riscos da tecnologia digital, especialmente para crianças, e pressionar as empresas do setor a serem mais transparentes.

O grupo, denominado Center for Humane Technology (Centro para uma Tecnologia Humana, ou CHT na sigla em inglês), uniu esforços com a Common Sense Media, organização sem fins lucrativos que promove tecnologia segura para crianças, em uma estratégia que inclui ações em 55 mil escolas públicas em todo o país, lobby no Congresso, novas pesquisas científicas sobre o tema e ações conjuntas com engenheiros e designers em busca de produtos mais saudáveis.

Recomendados

  1. Esta é a melhor decisão que você pode tomar na vida, segundo neurocientista que estuda felicidade
  2. Cachorros pequenos realmente são mais agressivos?

O objetivo, dizem os idealizadores, é proteger jovens usuários do que consideram "esforços deliberados" das empresas para atingir e manipular esse público.

"As empresas de tecnologia estão conduzindo um experimento em massa e em tempo real com nossas crianças", disse o CEO e fundador da Common Sense, James Steyer, no lançamento da campanha, batizada de The Truth About Tech ("A Verdade Sobre a Tecnologia").

"Seu modelo de negócios geralmente estimula a fazer o possível para capturar a atenção, sem se preocupar com as consequências depois, mesmo que essas consequências possam, às vezes, prejudicar o desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças", afirma Steyer, ressaltando a necessidade de responsabilizar essas companhias por suas ações.

Riscos

Segundo especialistas da Common Sense e do CHT, entre os riscos associados ao vício em tecnologia digital estão distúrbios de atenção, perda de produtividade, dificuldade de pensamento crítico, depressão, estresse, ansiedade e pensamentos suicidas.

Dados da Common Sense indicam que 98% das crianças americanas com menos de oito anos de idade têm acesso a um dispositivo móvel em casa, por meio do qual podem estar expostas a mensagens de ódio, notícias falsas e aplicativos projetados para mantê-las conectadas pelo maior tempo possível.

  1. Por que os humanos que migraram da África para a Europa ficaram brancos há milhares de anos

Em pesquisa nacional realizada em 2016, metade dos adolescentes entrevistados disseram ser viciados nesses dispositivos.

"Nos últimos dois ou três anos, percebemos que as plataformas sociais estão invadindo as vidas de nossas famílias e de nossas crianças", disse à BBC Brasil a porta-voz da Common Sense, Maria Alvarez.

"Nós entendemos que a tecnologia veio para ficar e vai ter um papel cada vez maior na vida das pessoas. Queremos garantir que os jovens cresçam tirando proveito dessas ferramentas poderosas, mas de maneira segura", ressalta.

Em resposta à campanha, o Facebook declarou que é "uma parte valiosa da vida de muitas pessoas".

"Nós levamos nossa responsabilidade a sério e já tomamos medidas, incluindo mudanças recentes no News Feed e controles parentais incluídos no Messenger Kids, que é livre de anúncios", disse Antigone Davis, diretora de segurança global do Facebook. "Estamos comprometidos em fazer parte desse diálogo."

Procurado pela BBC Brasil, o Google não se posicionou até a conclusão desta reportagem.

Preocupações

O CHT foi fundado por Tristan Harris, que era responsável por questões éticas no Google, e inclui nomes como Justin Rosenstein, o criador do botão de "curtir" no Facebook, Lynn Fox, ex-executiva de comunicações da Apple e do Google, e Sandy Parakilas, ex-gerente de operações do Facebook.

Em seu manifesto, o CHT diz que esse grupo de profissionais entende "intimamente a cultura, incentivos de negócios, técnicas de design e estruturas organizacionais que guiam como a tecnologia sequestra nossas mentes".

A campanha é lançada em meio à discussão sobre o impacto que notícias falsas disseminadas pelas redes sociais tiveram nas eleições americanas em 2016 e em um momento em que vários nomes da indústria de tecnologia vêm manifestando preocupação sobre os efeitos negativos de seus produtos.

No ano passado, um ex-executivo do Facebook, Chamath Palihapitiya, chamou a atenção ao declarar que a rede social estava destruindo os fundamentos da sociedade. O CEO da Apple, Tim Cook, confessou recentemente que não gostaria que seu sobrinho usasse redes sociais.

Em janeiro, mais de cem pediatras e educadores enviaram carta aberta ao Facebook pedindo o fim do Messenger Kids, serviço de mensagens específico para crianças.

Estratégias

Diante desse cenário, a campanha pretende engajar especialistas, investidores e executivos da indústria em busca de reformas que reduzam o potencial nocivo de seus produtos. O CHT está desenvolvendo um guia com "padrões de design ético" para orientar engenheiros e designers.

Os organizadores pretendem fazer lobby por leis que restrinjam o poder e exijam mais transparência por parte das grandes empresas de tecnologia e que criem melhores proteções para os consumidores.

Outra iniciativa será uma ampla pesquisa sobre a magnitude do vício em tecnologia digital entre jovens, que pretende avaliar as consequências físicas e mentais e os impactos de curto e longo prazo.

Nas escolas, as ações incluem material para ajudar professores a discutir com seus alunos o vício em tecnologia digital e as estratégias usadas pelas empresas para prender a atenção dos usuários.

"Queremos educar os jovens sobre como as empresas de tecnologia atuam, para que eles entendam por que se sentem tão viciados em seus telefones", observa Alvarez.

"Sabemos que não vai ser fácil, mas é encorajador ver que há um número crescente de pessoas-chave na indústria falando sobre isso."

Tags

Últimas Notícias


Nós recomendamos