Ao completar 21 anos, em 2016, John Cronin confessou ao pai, Mark, que gostaria de ter um negócio quando terminasse o ensino médio, mas ainda não tinha ideia do ramo em que poderia atuar.
«Minha primeira sugestão foi uma loja que vendesse algo divertido, mas não sabíamos direito o que vender», diz John, que vive em Long Island, em Nova York.
Depois, pensou em abrir um food truck, mas um problema fez com que os dois mudassem de ideia: «Nós não sabemos cozinhar», brinca Mark.
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Logo eles tiveram uma ideia. «John sempre usou, a vida toda, meias coloridas, meio doidas. Era algo que ele realmente gostava, e aí sugeriu que a gente vendesse meias», conta o pai.
«Meias são divertidas, são criativas e coloridas. E elas me deixam ser eu mesmo», afirmou John, que tem síndrome de Down.
Foi assim que surgiu a «John’s Crazy Socks» («As meias malucas do John», em tradução literal). Em um ano no mercado, eles contam que já conseguiram lucrar US$ 1,4 milhão e arrecadaram US$ 30 mil para caridade. O negócio ficou tão famoso que chegou a vender meias para o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o ex-presidente americano George W. Bush.
Bilhetes
A loja online tem cerca de 1,4 mil tipos diferentes de meias, com todos os desenhos que se possa imaginar – de gatos e cachorros a até caricaturas de o presidente dos EUA, Donald Trump.
Cada pedido é enviado no mesmo dia com um pacote de doces e um bilhete de agradecimento escrito a mão. E se o endereço for perto, John vai entregar as meias pessoalmente.
Como é «a cara» do negócio, John também frequenta eventos, fala com clientes e fornecedores e cria campanhas como a «Meia do Mês».
Já Mark lida com os aspectos mais técnicos envolvidos em uma empresa.
«John é realmente uma inspiração», elogia o pai, que reforça que não há qualquer tratamento «especial» ao filho no trabalho.
«Ele trabalha muito nessa empresa. Nós chegamos no escritório antes de 9h e saímos, na maioria das vezes, depois de 20h», conta.
Em pouco mais de um ano, eles já enviaram 30 mil pedidos.
Pai e filho também doam 5% dos lucros da empresa para a instituição «Special Olympics», que organiza eventos esportivos para pessoas com deficiência – John compete no basquete, no futebol e no hóquei.
Além disso, eles criaram «meias de conscientização» para arrecadar dinheiro para instituições de caridade como a Associação Nacional da Síndrome de Down e a Sociedade de Autismo da América.
‘Espalhando felicidade’
Para Mark, a empresa que ele criou com o filho tem duas missões: uma social e outra de negócio. E as duas são indivisíveis.
«Não acho que seja suficiente apenas vender um serviço ou um produto. Valores precisam fazer parte, e nós temos um modelo que está mostrando isso», afirma.
«O que nós fazemos é espalhar felicidade», acrescenta John.
A empresa quer trazer mais pessoas com deficiência para o negócio – por enquanto, perto de um terço da equipe que trabalha lá tem alguma deficiência.
«Nós estamos trabalhando para mostrar o que as pessoas com deficiência ou com dificuldade de aprendizagem podem fazer», diz Mark.
«Quando converso com empresários, sempre digo a eles que é urgente que eles contratem pessoas com deficiência. Não só porque isso seria a coisa certa a fazer, mas porque eles são bons, porque todo mundo gostaria de trabalhar com bons profissionais e é isso que eles são. É uma quantidade enorme de gente que ainda não é aproveitada no mercado», observa.
Crescimento rápido
A empresa de John e Mark surgiu em 2017 e cresceu de maneira muito rápida – e até inesperada. Eles contam que o maior desafio tem sido conseguir atender toda a demanda que surgiu.
No primeiro mês, a John’s Crazy Socks entregou 452 pedidos. Três meses depois, esse número havia aumentado para 10 mil, e logo eles tiveram que mudar para um espaço maior.
«Nós ficamos surpresos com o quão rápido a empresa está crescendo», diz o pai.
O mercado de meias em geral está em alta, na verdade. Globalmente, valia mais de US$ 42 bilhões em 2016 e estima-se que chegue a valer US$ 75 bilhões até o fim de 2025, de acordo com a consultoria Transparency Marketing Research.
«A maioria de nós usa algum uniforme ou tipo de roupa específico para trabalhar – pode ser um terno, uma camiseta polo, uma jaqueta laranja. Mas se você puder usar um par de meias para expressar sua verdadeira personalidade e adicionar um pouco de cor ao seu estilo, você pode fazer isso por US$ 10 ou menos», pontua Mark.
O negócio deles tem feito bastante sucesso também nas redes sociais. A página da loja no Facebook tem mais de 95 mil curtidas, e seus vídeos já somam milhões de visualizações.
‘O sócio perfeito’
Mark reconhece que sofreu um pouco para entender o novo negócio. Ele, que estudou em Harvard e passou a maior parte da carreira trabalhando com gestão de saúde, teve de aprender a lidar com o mercado de varejo.
«O varejo, e o negócio de meias, é tudo muito novo para mim. Mas nós estamos aprendendo, e eu tenho o sócio perfeito», conta.
«As pessoas perguntam o que a gente faz quando temos uma situação de conflito. Mas nós ainda não tivemos nenhuma. É uma alegria imensa trabalhar com ele», reforça o pai.
«Nós sempre fomos muito próximos e sempre passamos muito tempo juntos. É uma excelente parceria, porque compartilhamos a mesma visão. E nós dois sabemos que precisamos um do outro.»
Mas do que eles têm mais orgulho até agora?
«Fico feliz porque gosto de ajudar os clientes e gosto de trabalhar com meu pai», disse John.
«Para mim, nosso segredo é esse modelo. Estamos mostrando que é possível construir uma empresa baseada em oportunidades dadas. Alcançamos o sucesso por causa disso», complementa o pai.
Mark e John esperam fazer a empresa crescer ainda mais em seu segundo ano de mercado.
Eles oferecerão meias personalizadas e abrirão uma outra linha para vender em pequenas lojas. Outro objetivo é construir um estúdio no escritório, onde poderão produzir mais conteúdo para as redes sociais.
«A síndrome de Down nunca me limitou em nada», diz John, convicto.