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Renault Kwid Intense 1.0: preço é a alma do negócio

O Renault Kwid mal chegou e já fez um salseiro no mercado de automóveis no Brasil. Dizem que a propaganda é alma do negócio, mas, no caso do hatch subcompacto, o preço é alma, pulso, cérebro e coração. Quando anunciado que o modelo seria vendido, em sua versão de entrada, por R$ 29.990, a concorrência se viu entrincheirada. A configuração de topo Intense, testada pela reportagem do AutoPapo, é R$ 10 mil mais cara. Mesmo assim tem “cancha” suficiente para fazer estrago.

A Renault intitula o Kwid de SUV. E, pelo menos de acordo com o Inmetro, pode. Segundo o instituto, um veículo pode se encaixar na categoria dos utilitários esportivos se tiver ângulo de ataque mínimo de 23º (com tolerância de -1º), ângulo de saída de 20º (com tolerância de -1º) e altura livre do solo de 18 cm. O modelo se encaixa na descrição, mas convenhamos: está longe de ser um digno fora-de-estrada. Contudo, pode ser beneficiado pela definição acima. Foi homologado como SUV compacto.

O Kwid tem 18 cm de altura do solo e ângulos de ataque (24º) e saída (40º) bons. O ângulo de transposição também merece referência: 10º. Numa tradução, estes dados técnicos indicam que o subcompacto tem capacidade para superar aquelas saídas de garagem mais melindrosas e não esbarrar em quebra-molas. Além disso, tem visual mais robusto, com linha de cintura que se eleva gradativamente e mais lata em detrimento do vidro. Estas características servem para dar ao Kwid uma pretensão de utilitário esportivo.

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Construído sobre a plataforma CMF-A, da aliança Renault-Nissan, o subcompacto tem design interessante. As linhas não apenas dão ao carrinho visual mais parrudo. Elas são harmônicas e muito bem equilibradas. Não parece, em momento algum, que o Kwid recebeu uma dose de anabolizantes. Agrada. A fabricante francesa tem muitos acertos neste campo e o seu novo produto é mais um.

O Renault Kwid nacional tem cerca de 100 kg a mais que o modelo comercializado no mercado indiano. Toda a “gordura” é creditada à reforços estruturais. No entanto, ainda é leve. A versão testada tem peso em ordem de marcha de apenas 786 kg. É bom destacar que o veículo vendido na Índia fracassou em dois testes de segurança realizados pelo Global NCAP. Por isso, no Brasil, além de reforçar estruturalmente o Kwid, a Renault adicionou – desde sua configuração de entrada – quatro airbags e dois pontos de fixação de cadeirinhas infantis Isofix. Segundo a fabricante, a plataforma é 20% indiana. O subcompacto ainda não foi submetido a provas do Latin NCAP, programa de avaliação de veículos novos para a América Latina.

Se externamente o Kwid é bela viola, por dentro não se pode dizer o mesmo. Apesar de mais espaçoso que Fiat Mobi e Volkswagen up!, o “SUV dos compactos” acomoda com certo conforto apenas quatro adultos. Em seu site oficial, a fabricante diz que o modelo “acomoda cinco pessoas confortavelmente”. Não é verdade. O acesso ao banco traseiro também deixa a desejar. Mesmo para os mais baixinhos, com cerca de 1,70 m, é recomendável se abaixar para evitar bater a cabeça. O porta-malas tem boa capacidade para a categoria e a tampa fecha de maneira fácil. O encosto do banco traseiro pode ser rebatido de forma a levar mais volume.

A posição de dirigir não é boa. Não há regulagem de altura para o assento do condutor e tampouco ajustes de profundidade e altura da coluna de direção. O banco, revestido em tecido e com detalhes em couro sintético, não tem forração agradável e não é nada anatômico – prejudicando o motorista em viagens mais longas. Também não existe descanso para o pé esquerdo. Assim como em outros modelos da Renault pensados para mercados emergentes, os comandos elétricos dos vidros se encontram no painel, abaixo da central multimídia. Serve para economizar, mas é um incômodo em termos ergonômicos.

Outro galho: as portas se travam automaticamente assim que o carro entra em movimento. Para destravá-las, apenas com o veículo parado e por meio de botão no centro do painel. Uma chatice. Na estrada isso é um perigo. Pode até passar uma sensação de segurança, mas a trava apenas neutraliza as maçanetas externas. No caso de acidente o socorro é dificultado por causa deste inconveniente. Por fim, as janelas de trás são abertas por manivelas e, mesmo assim, não se abrem por completo.

Contudo, inconveniente mesmo é o acabamento. Sim, chega a ser de teor impróprio de tão espartano. Também pudera. O Kwid é uma obra da mesma mente por trás da primeira (e jurássica) geração do Logan. O nome da fera? Gerard Detourbet. Isso significa que os custos de produção do subcompacto foram barateados ao máximo. Pinos (sim, pinos) travam as portas. Mesmo na versão testada, de topo, o acabamento é tosco. O plástico duro é onipresente no habitáculo, presente por todos os lados. Os encaixes não são benfeitos. Detalhe em branco marfim na porta, bem como área plástica próxima ao cinto de segurança do condutor, estavam se soltando.

Ao volante
A direção assistida eletricamente, item de série na versão testada, é excessivamente direta e não transmite segurança ao condutor. O volante não volta para o centro, indicando um problema de cáster. O câmbio manual de cinco velocidades tem engates precisos, mas é possível ouvir o barulho e sentir o tremelique do trambulador. Em ciclo urbano, o Renault Kwid se mostra esperto, muito por conta da relação peso-potência e peso-torque. O motor 1.0 tricilíndrico gera 70 cv a 5.500 rpm e 9,8 kgfm a 4.250 rpm quando abastecido com etanol. Mas, graças à leveza do subcompacto, dá conta do recado na cidade. É evidente que em municípios com topografia acidentada o desempenho não é tão bom. Todavia  – ao contrário do Chevrolet Onix 1.0, por exemplo – é aceitável. Além disso, por conta de um bom diâmetro de giro (10 m) e da já citada direção, o veículo é bom de manobra.

Nas estradas o desempenho do Renault Kwid não é bom. As acelerações e retomadas são lentas demais. Para trazer o motor “de volta” tem de se pisar muito no acelerador. Acima dos 100 km/h, o comportamento dinâmico do subcompacto é motivo de temor. Volante e pedais começam a trepidar e condutores menos experientes podem não conseguir manter o carro no prumo. Nas curvas, a experiência é ainda pior. Por ser muito leve e um pouco mais alto, o Kwid apresenta instabilidade perigosa. A carroceria inclina demais até mesmo naquelas que pouco exigem do veículo. Para completar, a suspensão não é firme e sequer absorve as imperfeições do solo de maneira devida. Ponto positivo, porém, para o baixo consumo de combustível. Abastecido com álcool, registrou média de 10 km/l.

Para baratear, a Renault optou por retirar o comando variável de válvulas do motor. Em vez de correia dentada, foi de corrente. Já o tanquinho de partida a frio está presente, uma maldita insistência da fabricante. É preciso destacar que, como em todo três cilindros, o ruído metálico incomoda. O problema é que, no caso do Kwid, a coisa passa do ponto. O motor é excessivamente ruidoso.
O isolamento acústico praticamente inexiste. Isso sem contar a “bateção” no habitáculo. Como mencionado anteriormente, os encaixes são malfeitos. Painel central e portas fazem muito barulho, causando muito desconforto aos ocupantes. O bagagito também gera muitos ruídos por conta da ineficácia de sua fixação no processo de montagem.

Segurança e conforto
O Renault Kwid, além dos quatro airbags e dos dois pontos de fixação Isofix, conta com cintos dianteiros com regulagem de altura. Há dispositivo de alerta visual e sonoro para o uso do cinto de motorista e passageiro do banco da frente. Incomoda (e isso é bom). Na traseira, apoios de cabeça para todos os três ocupantes. O cinto central é abdominal.

Na versão testada, o subcompacto também oferece central multimídia MediaNAV. A tela sensível ao toque de 7” é resistiva, mas não compromete. A câmera de ré, embutida na insígnia da Renault, não é lá tão confiável, mas ajuda bastante. O veículo ainda conta com GPS e Bluetooth. A tampa do porta-malas pode ser aberta por meio de comando interno ou pela chave. Não há miolo de fechadura para abertura. Além disso, a versão Intense vem com ar-condicionado, trava e vidros dianteiros com acionamento elétrico, retrovisores com comandos elétricos e computador de bordo.

Veja o vídeo:

Batendo o martelo
O Renault Kwid é um produto desenvolvido para o mercado indiano, menos exigente que o nosso. Não à toa, o objetivo do projeto é corte de custos, barateamento. Além dos exemplos já mencionados, podemos ainda citar a única palheta do limpador de para-brisas e os três parafusos no cubo de cada roda, quando nós estamos habituados a quatro. Tudo foi pensado para deixar o carro barato.

Por se tratar de um produto de baixo custo de produção, não se pode esperar muito do Kwid. O modelo não é o “SUV dos compactos”, não é um exemplo da boa engenharia e, tampouco, da boa qualidade. Seu comportamento dinâmico deixa a desejar nas estradas. Mesmo equipado com quatro airbags e dotado de reforços estruturais, ainda não sabemos como o veículo irá se portar nos testes de colisão do Latin NCAP.

O Kwid, contudo, cumpre bem o seu papel em ciclo urbano. Na realidade, cumpre bem o papel de veículo de entrada (mesmo na versão testada, que beira R$ 40 mil). A verdade é que o Renault Kwid é um carro com preço competitivo. Muito, se levarmos em consideração o valor dos automóveis no Brasil. Por isso, mal chegou ao mercado e já obliterou a concorrência. Foi o segundo mais vendido do país no mês de setembro. Segurança? Conforto? Desempenho? Não. O preço é a alma do negócio.

Leia mais em: autopapo.com.br


Ficha técnica

Renault Kwid Intense 1.0

Motor: 1.0, tricilíndrico, bicombustível

Potência: 70 cv (etanol)/ 66 cv (gasolina) a 5.500 rpm

Torque: 9,8 kgfm (E)/ 9,4 kgfm (G) a 4.250 rpm

Transmissão: manual de cinco velocidades, tração dianteira

Direção: do tipo pinhão e cremalheira, assistida eletricamente

Freios: disco ventilado na dianteira e tambor na traseira

Suspensão: McPherson na dianteira, com barra estabilizadora; eixo rígido na traseira

Dimensões: 3,68 m de comprimento, 1,58 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de distância entre-eixos

Peso: 786 kg

Carga útil: 375 kg

Porta-malas: 290 litros

Consumo: 10,3 km/l (E)/ 14,9 km/l (G) em ciclo urbano; 10,8 km/l (E)/ 15,6 km/l (G) na estrada

0 a 100 km/h: 14,7 segundos

 

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