Esporte

‘A inclusão é a minha bandeira’, diz Silvia Grecco, vencedora do Fifa Fan Award

«Não é só futebol». Essa frase é bastante utilizada quando o esporte ultrapassa as quatro linhas do campo e afeta a população em diversos aspectos, sejam sociais ou emocionais. A história de Silvia Grecco, que narra os jogos do Palmeiras para o Nickollas, seu filho deficiente visual e autista, mostra o quanto a máxima é verdadeira.

No dia 23 de setembro, quando ela terminou o discurso na Itália após receber o prêmio Fifa Fan Award – dado ao torcedor do ano eleito por voto popular –, muitos dos presentes na plateia estavam com os olhos marejados de emoção. Provável que, aqui no Brasil, a reação dos que acompanhavam a cerimônia tenha sido a mesma.

Em entrevista ao Metro Jornal, Silvia explicou a importância de levar a história da sua família para o mundo conhecer. Ela também disse que pensa em um projeto para aumentar a presença de crianças com qualquer tipo de deficiência nos estádios pelo Brasil por meio de ações inclusivas. «Quando damos oportunidades, eles podem tudo», afirmou.

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Como foi o processo de adoção do Nickollas?
Ele tinha quatro meses. Fizemos o processo de adoção e fui chamada. Eu era a 13ª da lista e os 12 casais que estavam na frente optaram por não adotar o Nickollas. Quando fui ao hospital e peguei ele no colo tive a sensação de certeza que era o meu filho. Isso foi em uma sexta-feira e a gente só foi buscá-lo definitivamente na segunda-feira. O final de semana demorou tanto para passar que eu falo que foram os nove meses de gestação.

Você narrou os jogos desde a primeira vez que ele foi ao estádio?
Levei o Nickollas a primeira vez quando ele tinha 5 anos. Eu colocava o jogo no rádio para ele escutar, só que ele sempre tirava. Ele ficar sem saber o que estava acontecendo na partida me incomodava, então comecei a falar alguns detalhes, como cor do uniforme, quando era falta, lateral, tiro de meta. Até que teve um dia que ele me pediu para narrar o jogo todo.

Você narrou para ele como estava o ambiente na premiação. Isso acontece também no dia a dia?
Faço isso diariamente e com o tempo ele conhece tudo em volta. Se nós vamos da minha casa até o mercado, ele sabe onde ficam as árvores, se elas são grandes ou pequenas, onde tem um salão de beleza, um restaurante. Muitas vezes ele é meu Waze. O Nickollas fala os nomes das ruas e descreve o caminho.

Fotos/Arquivo pessoal Fotos/Arquivo pessoal Fotos/Arquivo pessoal Fotos/Arquivo pessoal Fotos/Arquivo pessoal

Ficou claro que futebol é o hobbie preferido do Nickollas. Quais as outras atividades que ele gosta?
Eu demorei para achar por causa da deficiência, mas fui testando. Têm três atividades que ele ama. Além dos jogos do Palmeiras, ele também é muito próximo da música, inclusive faz aula de teclado. Quando posso levo o Nickollas aos festivais, como Lollapalooza e Rock in Rio. Mas ele gosta de escutar de tudo e sempre me pede para colocar Milton Nascimento. Teatro é a outra paixão.

O que representa o futebol para o Nickollas?
A emoção à flor da pele. Ele vibra e fica muito feliz. A expressão corporal dele diz muito sobre o amor pelo futebol. Ele mexe bastante os braços e sempre está com um sorriso largo no rosto.

A paixão dele pelo esporte mostra que o futebol aflora as sensações e sentimentos, como a audição…
Com certeza. O pessoal da Fifa que veio gravar comigo disse que viram duas crianças no Nickollas, uma antes e outra durante as partidas. Quando falo que vamos no jogo ele se transforma, começa a pular até na hora de trocar de roupa. Ele quer entrar logo no estádio, saber as escalações e começar a vibrar com a torcida.

Como foi a sensação de ganhar o prêmio?
Eu fiquei muito emocionada, chorei bastante. Eu consegui ter a oportunidade de deixar o meu recado: as pessoas com deficiência existem. Vamos respeitar, incluir de verdade. Já vivemos em um mundo com tanta intolerância. As palavras na ordem do dia são respeito e inclusão. Quando damos oportunidade, eles podem tudo. Ele consegue assistir ao jogo, só que de outra forma.

No seu discurso você falou sobre inclusão. Esse prêmio pode ajudar nessa causa?
A inclusão é a minha bandeira. Tenho um projeto que já tem até nome: Amigos do Nick. A ideia é reunir crianças com qualquer tipo de deficiência e levar aos estádios. Rodar o Brasil com isso. Meu filho tem essa oportunidade, mas muitas mães não levam por medo ou porque não têm condições financeiras para pagar. Não quero que essa oportunidade seja somente do meu filho.

Palmeirense por causa do… Neymar!

Como a maioria das crianças da sua idade, Nickollas, de 12 anos, é fã do Neymar. Inclusive, uma das primeiras frases que ele falou quando começou a gostar de futebol foi «Gol do Neymar!». O curioso é que o garoto virou palmeirense com uma boa ajuda do atacante que fez história no Santos, rival do Verdão.

Silvia explicou que o pai de Nickollas torce para o São Paulo e ela sempre foi palmeirense fanática. Diante da situação, a família evitava influenciar o garoto na escolha do time.

E assim seguiu até a mãe levar o menino a um treino do Santos para conhecer o craque. «Consegui uma brecha para o Nickollas conhecer o Neymar. Quando o jogador pegou ele no colo, eu falei: ‘Neymar, fala a verdade para ele, para quem você torcia na infância?’. E ele respondeu que era para o Palmeiras», contou Silvia.

A partir daí, não teve volta. Nickollas virou palmeirense fanático, assim como a mãe. «Depois desse dia ele não parou de falar: ‘Porco, porco!'», afirmou.

Fotos/Arquivo pessoal Fotos/Arquivo pessoal

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