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Em texto emocionado, Diego Hypolito fala sobre abusos, superação, e homossexualidade

Em um texto escrito por ele próprio, o atleta brasileiro Diego Hypolito falou pela primeira vez, de forma aberta, sobre ser homossexual. Num tom emocionado e intimista, ele conta sobre seu processo de aceitação pessoal, a revelação a pessoas próximas, e mesmo episódios de bullying e preconceito que sofreu e temeu.

Para o site UOL Esporte, Hypolito escreve sobre a primeira vez que revelou sua sexualidade ao colega Michel Conceição, com quem dividia um quarto no alojamento da seleção brasileira de ginástica em Curitiba. Da cama de cima de um beliche, ele escreveu que precisava falar uma coisa, e Michel respondeu já saber o que era. Ele também era abertamente gay.

«Na minha cabeça ser gay era ser um demônio, um ser amaldiçoado que vive em pecado», diz Diego, que foi criado em meio religioso, e ainda hoje tem uma tatuagem de Jesus Cristo em seu braço. «Quando eu tinha uns dez anos, um treinador foi dizer para a minha mãe que ela devia mudar minha educação para que eu não virasse gay. Ela veio falar comigo, preocupada. Eu era muito inocente, nem sabia o que era isso. Mas isso me marcou».

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Ele conta como deixou a ginástica impedí-lo de revelar sua identidade, e supriu sua insatisfação na vida pessoal através de prêmios e boa performance nas competições. «Eu ia continuar a esconder a minha sexualidade para manter vivas as minhas aspirações no esporte. E deu certo, né? Uma medalha de prata em Olimpíada. Dois títulos e outras três medalhas em Mundiais. Mais 69 em Copas do Mundo».

Hypolito também fala sobre como foi assumir-se diante da família, algo que também era temido por ele. Diego teve uma má reação inicial da mãe, uma melhor do pai e o apoio incondicional de Daniele, sua irmã e colega de profissão. A revelação deixou um clima ruim no núcleo, que envergonhava-o, e o fez perder um natal em família.

O ginasta falou, também, sobre ter sofrido bullying e abusos físicos e verbais em sua profissão. Sua aparência o fez ser chamado de «feio» e apelidado de «Frankenstein»; sua personalidade alegre e festeira era julgada pelos colegas.

No entanto, o relato mais traumático de seu desabafo vem na esteira de sua relevação sobre os trotes que sofria na equipe de ginástica, feita em 2018. «Já me prenderam em um equipamento de treino apelidado de «caixão da morte», já me fizeram segurar uma pilha com o ânus e já me deixaram pelado, junto com outros dois atletas, para escrever no nosso peito a frase «Eu», «sou», «gay», uma palavra em cada um para nos humilhar».

Hoje, Diego deseja proteger atletas mais jovens e garantir que outros não tenham que viver suas más experiências. Ele diz saber da má repercussão que pode receber, porém não quer nunca mais «deixar de viver o que é».

«Ninguém é obrigado a entender nada, mas é obrigado a respeitar».

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