Esporte

Sócrates, um destro de esquerda; ídolo corintiano completaria 65 anos nesta terça

Com nome de filósofo, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira viveu seus 57 anos intensamente. Craque. Contestador. Inteligente. Diferenciado. Genial e, infelizmente, autodestrutivo. Não fosse a derrota para o alcoolismo no dia 4 de dezembro de 2011, Magrão, que também era Doutor, completaria hoje 65 anos.

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Enquanto dentro de campo encantava com seus passes de calcanhar, o meio-campista destro usou sua condição de ídolo do Corinthians e da Seleção para tentar melhorar o país. Criou a “Democracia Corinthiana”, onde pregou o fim das concentrações, lutou por eleições diretas no Brasil e fez duras críticas à apatia de craques que não pensavam além das quatro linhas.

Seu ativismo político extrapolou as fronteiras e, na Copa de 1986, no maior estilo Che Guevara, com cabelos compridos, barba e uma faixa branca amarrada na cabeça, manifestou sua solidariedade ao povo mexicano que foi castigado por um terremoto.

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Na Fiorentina, mesmo sabendo que o clube era da família que representava o maior partido de direita na Itália, fez questão de manter a comemoração com o braço erguido e o punho cerrado, gesto relacionado à esquerda.

Filiou-se ao PT e apoiou Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições para governador de São Paulo, em 1982, para deputado federal, em 1986, e presidente, em 1989. Foi convidado várias vezes para ser ministro dos Esportes, mas nunca topou. E recusou outros inúmeros convites para sair candidato. Quando chegou mais perto, recusou outra vez.

“Todos falavam dele sair candidato a prefeito de Ribeirão Preto (nas eleições de 1992 com uma coligação de sete partidos, entre eles PT e PSDB), mas o candidato acabou sendo o (Antonio) Palocci, que já era deputado estadual. Quando perguntaram se ele não sairia, disse que ‘aquilo não era pra ele’. Virou secretário de Esportes, mas queria colocar a molecada da Febem (hoje Fundação Casa) nos clubes da cidade. A classe média ficou horrorizada e ele durou pouco no cargo”, lembra o amigo Márcio Pallandri, dono do Empório Brasília, o bar no centro de Ribeirão Preto-SP que por muitos anos foi a segunda casa de Sócrates.

Autêntico, o Doutor, que formou-se em medicina, nunca escondeu sua paixão pelo vício. Bebia desde os 14 anos e fumava de 1 a 2 maços de cigarros por dia. E foi no mesmo Empório Brasília que o filho mais velho de um vendedor de rapadura apaixonado por filosofia grega previu sua morte. “Ele disse que queria morrer num domingo com o Corinthians campeão.”

A frase marcada na memória de Márcio correu o mundo no dia 4 de dezembro de 2011, quando Sócrates morreu em consequência de infecção generalizada. Era um domingo em que horas depois o Corinthians seria campeão brasileiro.

Essa mesma frase está gravada em uma singela placa no Empório Brasília, pendurada na parede logo abaixo de outra que diz “Mesa do Magrão”, sem dúvida o ponto mais disputado do lugar. “Apesar de sua ausência, essa mesa nunca fica vazia. Todos querem ouvir suas histórias. Ele foi diferenciado”, diz o amigo Márcio.

Braço erguido, punho cerrado

Sócrates repetia, a cada gol, o gesto dos norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, respectivamente de ouro e de bronze nos 200m rasos nas Olimpíadas do México-1968. Com ele, o símbolo da luta contra o racismo dos Panteras Negras também se tornou uma forma de mostrar que o futebol pode ser revolucionário.

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