Esporte

Como o futebol europeu criou a maior hegemonia em Copas do Mundo

Colunista da BBC News Brasil, Tim Vickery afirma que intercâmbio de jogadores de várias nacionalistas pode ter sido um impulso para melhora do futebol europeu.

As derrotas de Brasil e Uruguai nas quartas de final da Copa da Rússia criaram uma situação inédita na história do torneio: pela quarta vez seguida uma seleção europeia vai levar o troféu.

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Desde 2006, times da Europa vencem a competição. Neste ano, apenas Brasil e Uruguai poderiam quebrar esse ciclo, mas acabaram perdendo para França e Bélgica, respectivamente.

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Agora, a disputa fica entre Rússia, Inglaterra, Suécia, Croácia, França e Bélgica – essas últimas vão se enfrentar na semifinal.

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Nessa configuração, completam-se 16 anos sem vitórias de times sul-americanos, o outro continente que já venceu Copas. A Seleção Brasileira foi o último time de fora da Europa a ganhar uma edição, em 2002, no Japão e na Coreia.

Quatro anos depois, a Itália venceu o campeonato e conquistou seu quarto título. Em seguida, a Espanha ganhou o seu primeiro e, em 2014, Alemanha levou a taça para casa também pela quarta vez.

Mas por que essa hegemonia está ocorrendo?

Para Tim Vickery, colunista da BBC News Brasil e especialista em futebol, o intercâmbio de jogadores de vários países pode ser um dos fatores que melhoraram o futebol europeu.

Tite assumiu a seleção brasileira em 2016, depois de trajetória vencedora no Corinthians

«Nos últimos 25 anos, o futebol mudou muito. Os principais jogadores e técnicos do mundo vão se concentrar em poucas ligas, como a inglesa, a espanhola e a alemã», diz.

O jornalista esportivo e pesquisador de futebol Celso Unzelte, por outro lado, acha que a globalização do esporte fez com que o jogo latino piorasse, e não necessariamente que o europeu melhorasse.

«O abismo entre o futebol de clubes na América Latina e na Europa já é enorme e só aumenta. O que sobrou para nós é produzir jogadores, mão de obra. Nossos campeonatos são de terceira divisão mundial. Isso porque, com o futebol como bussiness que temos hoje, os times do nosso lado não têm como competir, não têm como reter os maiores talentos.»

O resultado, diz ele, é que os jogadores ficam muito dispersos pelo mundo, têm poucas oportunidades de jogar juntos. Para ele, a Seleção Brasileira, por exemplo, «não é uma seleção, é uma legião de estrangeiros que jogam juntos.»

Os técnicos também acabam sendo piores. Tite, para ele, é uma exceção.

Além disso, diz ele, as confederações européias são mais organizadas, se comparadas, por exemplo, à CBF e à AFA, associação argentina.

Na avaliação dele, o futebol mais competitivo hoje não é o de seleções, mas o de clubes. «O principal campeonato é a Champions League.»

Mesmo a produção de bons jogadores, para ele, pode estar ameaçada. «Temos o DNA, a cultura, mas o futebol de várzea está perdendo espaço para a especulação imobiliária, as crianças dividem sua atenção com outras coisas. Na minha época, a única coisa que tinha era futebol. Hoje, não é assim.»

Dificuldades e intercâmbio

Para Tim Vickery, as seleções sul-americanas, apesar de terem jogadores nos principais campeonatos da Europa, enfrentam dificuldades para se adaptar a novas maneiras e táticas de jogar.

«Os técnicos brasileiros não treinam grandes clubes europeus. O Tite até estudou na Europa, um dos únicos que foram lá e não ficaram (só) tirando selfies», explica.

Vickery cita uma contradição no futebol globalizado: enquanto a diferença entre o jogo das seleções diminui, entre os clubes, essa distância só aumenta. «Nessa Copa tivemos poucas goleadas, o que demonstra uma diferença menor. Por outro lado, grandes clubes europeus, como o Real Madrid, estão muito acima dos demais», diz.

Para Vickery, outra possível explicação é a presença de mais imigrantes naturalizados ou filhos de imigrantes em seleções europeias.

Um dos algozes do Brasil na Copa, o belga Romelu Lukaku é filho de pais gongoleses. Outro exemplo é Kylian Mbappé, o destaque da seleção da França, que está na semifinal.

Mbappé nasceu em Paris, mas seus pais são de origem congolesa e argelina. Já Paul Pogba, também nascido na França, tem pais de origem na Guiné.

«Os jogadores de futebol normalmente vêm da classe trabalhadora. E, na Europa, boa parte da classe trabalhadora é de imigrantes», diz Vickery.

Mas Vickery também vê uma melhora em outras seleções sulamericanas. «A Colômbia fez sua melhor campanha na última Copa, o Uruguai em 2010 também foi bem. A questão é que, na última década, Brasil e Argentina não chegaram para ganhar», diz.

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