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Por que os jogadores da Bélgica conversam entre si em inglês na Copa da Rússia?

Origens e idiomas maternos diferentes explicam a escolha do inglês como língua comum entre jogadores.

O idioma é uma parte essencial em um jogo de futebol. Treinadores dão instruções aos jogadores, que por sua vez conversam entre si durante o jogo.

Mas e o time multilíngue da Bélgica, como se comunica? Curiosamente, os jogadores desta que é uma das principais seleções da Copa de 2018 não conversam em holandês nem em francês, idiomas oficiais no país. Eles falam entre si em inglês, no campo e também nos vestiários.

Por quê?

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Fontes que participam do dia a dia da seleção belga afirmam que os jogadores escolheram o inglês para evitar a percepção de que estariam favorecendo algum dos dois idiomas oficiais.

A escolha surpreendeu jornalistas britânicos que acompanharam o jogo entre Bélgica e Inglaterra pela primeira fase do Copa – o belgas venceram por 1 a 0.

A maioria dos belgas falam holandês e vivem no norte do país. Outra boa parte do país fala francês – também há uma pequena comunidade que usa o alemão.

Essa divisão linguística pode ser percebida na escalação do time.

O meio de campo Kevin De Bruyne, jogador do Manchester City, nasceu em Ghent, na região flamenga, e tem o alemão como língua materna. Já o atacante Eden Hazard, do Chelsea, nascido na região de Valônia, tem como primeira língua o francês.

A questão da língua do time é anterior à Copa da Rússia.

Em 2014, durante uma entrevista à imprensa, o zagueiro Thomas Vermaelen falou em holandês, enquanto seu colega Axel Witsel conversou com jornalistas em francês.

O porta-voz da seleção disse ao jornal The New York Times que precisa organizar entrevistas coletivas separadas para cada idioma falado pelos jogadores.

Diversidade étnica

Em muitos países, essa diversidade de idiomas pode parecer esquisita, mas, na Bélgica, tudo é dividido entre as línguas: partidos políticos, escolas, revistas e jornais.

O país tem um grande número de imigrantes que não falam holandês ou francês como língua materna. Por causa disso, o inglês também é bastante usado.

De fato, a diversidade étnica do time – muitos jogadores são de famílias de imigrantes – dá à seleção belga uma interessante combinação de idiomas e de habilidades linguísticas.

O artilheiro do time, Romelu Lukaku, nascido na Antuérpia, também é famoso por falar seis idiomas: holandês, francês, espanhol, português e swahili. O capitão Vincent Kompany fala cinco línguas.

Alguns jogadores da seleção, no entanto, falam apenas francês.

O francófono Marouane Fellaini, hoje no Manchester United, foi descrito pelo comentarista da rede britânica ITV como «o jogador com o pior inglês da história».

Apesar de quase todos os jogadores entenderem francês, o inglês é «um meio de campo seguro», segundo a jornalista belga da BBC Suzanne Vanhooymissen.

«Ao usar o inglês como língua comum, as empresas e a seleção belga não podem ser acusadas de favorecer o holandês ou o francês em detrimento da outra. Isso poderia abrir uma divisão linguística», diz Vanhooymissen.

Mesas separadas

A Suíça é outro país multilíngue que está disputando a Copa na Rússia. Eles falam quatro línguas: alemão, francês, italiano e romanche.

O zagueiro Ramon Vega jogou na seleção suíça entre 1993 e 2001.

Ele diz que a língua foi um problema durante seus anos na seleção: «Os caras alemães, franceses e italianos sentavam separados para almoçar e jantar.»

«Roy Hodgson (ex-técnico suíço) dava suas palestras em francês, mas falava outras línguas quando precisava passar uma mensagem a um jogador específico», conta Vega. «Todo mundo se entendia, mas para ter certeza de que a pessoa compreendeu o que você disse, você repetia no idioma dela.»

Questões nacionais

Na seleção da Bélgica, conhecida como Diabos Vermelhos, essa estratégia suíça seria imprudente e provavelmente não daria muito certo.

«Na Suíça, as pessoas de línguas diferentes aceitam a noção de um país único, que é definida no plural», diz o especialista em nacionalismo Klaus-Jurgen Nagel, da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona.

«Mas no caso da Bélgica, a narrativa de nação única é contestada. Em Flandres, por exemplo, as pessoas se definem primeiro como flamengas e, só depois, como belgas».

Crescer em uma comunidade multilíngue foi uma vantagem, diz Vega. «Conhecer vários idiomas foi muito útil para mim quando me mudei para outros países, pois aprendi a usar a habilidade da persistência e paciência», diz o ex-jogador.

«Quando fui para Londres, tive muita dificuldade de entender o sotaque forte de meus colegas de time», acrescenta.

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