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“Foi o estopim”, diz árbitro vítima de preconceito racial

Com diversos problemas em sua estrutura, o Campeonato Gaúcho teve mais um fato para se incomodar na rodada de quarta-feira (05). Durante a vitória do Esportivo por 3 a 2 sobre o Veranópolis, o árbitro Márcio Chagas da Silva diz ter sido vítima de racismo.

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Ao entrar no gramado ele foi xingado por sua cor por alguns torcedores presentes na Montanha dos  Vinhedos e no final do jogo encontrou o seu carro, que fica em área restrita do estádio, com a lateral amassada e com bananas sobre o teto e o cano de descarga. “Muitas vezes fiquei quieto, mas desta vez foi o estopim”, desabafou.

O clube de Bento Gonçalves será denunciado no Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Gaúcha de Futebol, podendo ser punido com perda de pontos e multa.

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O presidente do Esportivo, Luis Ozelame, se pronunciou sobre o assunto. “Repudiamos. É o que há de mais baixo no ser humano. Se pudesse eu identificaria todos e levaria pessoalmente para a delegacia, mas é impossível para o clube administrar todas as situações de uma partida”, assegurou.

O dirigente, entretanto, contesta uma das fotos do caso. “O local parece ser um pouco diferente do nosso portão”, analisou.

Confira a entrevista com o árbitro Márcio Chagas da Silva:

METRO: Qual foi o seu sentimento naquele momento?

Fiquei muito indignado, porque não fui educado pelos meus pais para passar por isso. Infelizmente tinha crianças junto (na arquibancada). Cheguei em casa muito brabo e resolvi não redigir a súmula naquele momento. Em 2005, num jogo entre Caxias e Encantando, o técnico do Encantado me chamou de “macaco ladrão”.

Chegou a conversar com outras pessoas na hora?

Conversei com jogadores do Esportivo na hora que estava averiguando o carro. Eles disseram que, infelizmente, isso é comum na Serra por parte de alguns torcedores.

O que pode ficar deste caso para o futuro?

Se houver uma punição adequada servirá de exemplo. Muitas vezes fiquei quieto, mas desta vez foi o estopim. Mexeram com a minha honra. Temos que refletir, pois em alguns dias receberemos torcedores de várias etnias aqui.

Nesse momento você se sentiria à vontade de apitar em Bento novamente?

Não me sentiria à vontade. Tem que deixar a poeira baixar um pouco, mas não tenho nada contra a comunidade de Bento.

O jogo foi normal?

Fiquei bastante preocupado porque não houve nada no jogo. Imagina se eu tivesse errado contra o Esportivo? Iam colocar fogo no carro. Não teve nada no jogo.

Fora do futebol, já passou por situações semelhantes?

Sim, já passei por situações delicadas relacionadas ao preconceito, como piadinhas, por exemplo.

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