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Em ‘The Old Guard’, super-heróis já não usam mais fantasia

Conversamos com a figurinista Mary Vogt sobre como ela criou heróis ficcionais que parecem reais

Uma das roupas mais icônicas de super-herói é da Mulher-Gato, personificada por Michelle Pfeiffer, que encarnava a sexualidade e o poder tanto de uma vilã quanto de uma “femme fatale”. Esta foi uma cocriação da lendária figurinista Mary Vogt que, no novo filme da Netflix, “The Old Guard”, reavalia como deveria ser o visual de uma heroína (ou, nesse caso, uma anti-heroína), em tempos no qual o espetáculo é uma fórmula mais que batida, no que se refere à vestimenta de super-heróis de quadrinhos.

Isso se reflete no grupo de quatro imortais que lutam por milênios, cuja líder, Andy (Charlize Theron), mostra que super-heróis se parecem com qualquer um. O Metro Jornal conversou com a figurinista sobre a criação dos super-heróis desse filme, baseado na famosa HQ de Greg Rucka, Leandro Fernández e Daniel Miwa.

Quais elementos dos quadrinhos você usou?
Eu não queria tornar os quadrinhos mais literais. Existem HQs que precisam e devem ser lidas nesse sentido rigoroso. Mas nesse caso, nos relacionamos com eles, mas não seguimos à risca o universo apresentado graficamente.

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O visual de Charlize é bem “tomboy” e sexy ao mesmo tempo. Como você criou essa combinação?
Bem, isso é ela [risos]. Em alguns casos, nos ativemos à HQ. Nela, a heroína tem cabelo escuro, então Charlize queria isso, mas muito curto – isso foi ideia dela. Ela fica fabulosa. E por ela ter esse corte pixie pequeno e gráfico, nós também tivemos que fazer suas roupas desse jeito, numa maneira bem minimalista. Nesse sentido, nós criamos um visual bem moderno.

Ainda que, num flashback, tenha cabelos longos, ela ainda usa roupas simples, sem mangas, mostrando seus braços. Se você olhar para o passado e o presente da personagem, ela tem o mesmo visual, só que com alguns pequenos toques “hi-tech” e modernos. Com esse corte de cabelo, você não podia ter roupas tão delicadas ou chamativas. As roupas precisavam estar alinhadas ao corte, que também deveria representar, junto às peças, um visual marcante. O cabelo definitivamente ditou o resto do visual para ela.

Como você integrou as armas aos visuais para parecerem mais realistas?
Bem, isso vem dos quadrinhos, especialmente se estamos falando de armas medievais. O machado que Andy tem também obedece ao tom gráfico que eu queria dar à personagem, que também é minimalista e impactante ao mesmo tempo, com uma essência limpa. E isso dá às armas dela e a tudo que ela tem mais foco. É um design muito bonito, assim como na HQ.

Você teve outras influências além dos quadrinhos?
No caso de Andy, ela vem de Scythia, uma cidade antiga na Eurásia. Ela é uma personagem antiga, então eu pesquisei muito e acontece que as mulheres nessa época eram guerreiras maravilhosas e lutavam tanto quanto os homens. Elas também inventaram calças para mulheres, porque elas andavam a cavalo e lutavam. Parece totalmente mentira, porque você não vê mulheres nessa época usando calças em museus. Mas, estudando isso, eu consegui integrar essência e sentimento às roupas modernas de Andy.

Como você criou os figurinos dos outros personagens?
Nile [interpretada por KiKi Layne] começa sendo da Marinha. Ela não faz isso com suas próprias roupas, porque até o uniforme é dado. Então, a Andy fornece algo simples a ela, como uma camiseta e um jeans. Mas nós queríamos dar a ela um pouco do que ela gosta, então criamos essa camiseta da Janis Joplin, de um show da cantora de 1968, o que sugere que Andy estava lá. Ela ganha outro tipo de roupa, porque ela é a mais nova integrante.

Nós podemos ver ela com uma jaqueta de beisebol, bem utilitária, que dava a ela esse visual “outsider”. Depois, ela usa as roupas que escolhe. Já para os homens, tentamos integrar um pouco do passado, mas também tinha que ser simples e realista. Fizemos baseado nos quadrinhos, mas os personagens também precisavam parecer reais, então usamos cores simples, como preto, branco e azul.

Como você acha que o filme reinventou super-heróis em termos de figurino?
Eu acho que agora, no geral, personagens de HQ estão muito mais próximos à realidade. Nossa diretora [Gina Prince-Bythewood] não queria que eles estivessem em fantasias, mas também queria que fossem diferentes. Ela não queria nada que lembrasse um clichê de HQ. Isso incluía eles envelhecendo propriamente, os atores parecendo verossímeis. No time de super-heróis, dois personagens estavam nas Cruzadas e nós precisávamos mostrar isso. Mas, no geral, em filmes de quadrinhos, você também já viu essa mudança para o realismo. É por isso que pessoas se identificaram com eles.

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