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Os 20 anos do álbum clássico ‘Nadando com os Tubarões’, do Charlie Brown Jr.

Obra com ‘Rubão’ e ‘Não é Sério’ faz aniversário e entra para a história como o substrato sonoro de uma geração

Ao longo de pouco mais de 20 anos, entre 1992 e 2013, quando o vocalista Chorão morreu, aos 42 anos, a banda santista Charlie Brown Jr. foi um dos principais expoentes da última geração de grandes nomes do rock nacional. Na sequência, o rock perdeu o seu apelo às massas. Não morreu, mas voltou para os guetos.

Nesse contexto, “Nadando com os Tubarões”, terceiro álbum do CBJr., que completa agora 20 anos desde seu lançamento, foi certamente a peça sonora que melhor captou o espírito juvenil da virada do século. Lançado pela Virgin Records, foi também o último álbum com a formação original, já que o guitarrista Thiago Castanho deixaria o grupo após a turnê. A obra traz hits estrondosos como “Rubão”, “Não é Sério”, “Tudo Mudar” e “Ralé”, em meio a outras 13 faixas e seus 53:24 minutos.

Charlie Brown Jr. foi único e grande porque as letras do Chorão eram papo reto. Emocionavam e representavam a rapaziada mesmo dentro de sua simplicidade. Naquela época, todo carinha de calça larga e camisetão sentia a verdade do que ele tinha a dizer. O CBJr. foi o nosso Nirvana, e Chorão, o nosso Kurt Cobain, malaco, passional e sonhador.

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“Por intermédio do Champignon [baixo; 1984-2013] conhecemos o produtor Tadeu Patolla, em 1995, e mostramos uma demo com três músicas em inglês”, relembra Thiago Castanho como tudo começou. “Naquela época o nosso som era uma mistura de Pantera com White Zombie. Ele falou que era muito bem tocado, mas que não rolaria no Brasil. Na mesma época, começamos a escutar The Suicide Machines, Mighty Mighty Bosstones, entre outros que nos influenciaram com o reggae, ska e hardcore. Ouvíamos também muito rap, tipo Do or Die, The Pharcyde, The La Soul. No meio disso tudo começava a nascer a identidade do Charlie Brown Jr., que misturava rock, pop, reggae, ska, rap, funk e hardcore.”

Em alto e bom português

Daí, os caras conseguiram fazer uma demo de 35 músicas em português, em um estúdio móvel de quatro canais. Como a banda tinha cinco integrantes, as duas guitarras foram reduzidas a um único canal. O Tadeu, então, apresentou o som para o Rick Bonadio, conhecido por ter produzido os Mamonas Assassinas, que pirou e levou os rapazes para a Virgin. Do álbum de estreia, “Transpiração Contínua Prolongada” (1997), para “Nadando com os Tubarões”, o CBJr. compunha , gravava clipes e tocava sem parar e ainda assim lançava repertórios excelentes de longa duração em curtos intervalos. “O lance de um disco por ano aconteceu porque o Charlie Brown Jr. era uma banda altamente criativa, em que todos os músicos compunham”, explica Castanho. “Logo após o primeiro disco, eu, o Marcão [guitarra] e o Champignon montamos cada um o seu home studio. Gravávamos demos e apresentávamos pro Chorão. As composições não rolavam só dentro dos estúdios, a gente estava sempre junto compondo em camarim, quartos de hotéis, ônibus, aeroporto, no carro…”, diz o artista.

Da convivência com os demais integrantes em estúdio durante as sessões de gravação, Thiago se lembra com mais nitidez das “apoteóticas” gravações de guitarra. “Eu e o Marcão estávamos obcecados pela incrível dádiva de fazer rock and roll no Brasil. Dormíamos no estúdio. A gente gravava oito horas por dia e depois ficávamos tocando e fechando todas a bases, os arranjos e solos.”

Rapcore e futuro do rock

Outro ponto marcante do álbum foi a maior aproximação com o pessoal do rap. Participaram de “Nadando com os Tubarões” nomes em voga no hip-hop, como Sabotage, Negra Li e RZO, De Menos Crime, e, a partir de então, o CBJr. decidiu até agregar o DJ Anderson Franja. Thiago Castanho descreve: “O lance do beat box junto com a voz era um elemento que criava um link com a batida.  Foi aí que surgiram essas parcerias. Em  muitos shows rolavam várias jams no palco, e a resposta do público era demais. E como essa galera do rap sempre colou no nosso show, o Chorão teve a ideia de chamar eles pra fazer um som.”

Sobre o futuro do rock, para ele a esperança é a última a jogar a toalha. “Acho que depois dos Raimundos, Charlie Brown Jr., Planet Hemp e CPM22, os novos músicos começaram a migrar para outros tipos de som. Acredito que tudo faz parte de um ciclo, onde o que é bom permanece e o que é ruim é passageiro. Quem sabe não existe alguma banda de garotos de 15 anos que estão ensaiando agora, fazendo um puta som, que só vamos descobrir daqui a alguns anos?”

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