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Quase três décadas após lançamento, Magic: The Gathering atrai novo público e dá show de representatividade

O Magic: The Gathering é um jogo mais antigo do que eu. Lançado pela primeira vez em 1993, o MTG rapidamente chegou às mãos de crianças e adolescentes por meio de suas singulares cartas de tons terrosos e desenhos realistas.

O «trading card game», pela definição, é um multiplayer em que cada jogador comporta seu próprio grimório (ou deck, a seleção de cartas à mão), que será sua munição para continuar na partida. O participante começa com vinte pontos de vida e, no mínimo, 60 cartas. O objetivo é manter seus próprios pontos de vida e minar os de seu oponente.

Cartas de Magic: The Gathering
Youtuber no canal Ephemeral Rift mostra sua coleção de cartas

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Para isso, as cartas representam feitiços, criaturas e outras ferramentas que, ao final, funcionam em sua defesa ou para atingir e prejudicar seu rival. Cada uma acompanha as propriedades e instruções de uso, bem como uma ilustração estilizada do poder, personagem ou efeito que ela representa.

Nascida em 1999, cresci tendo Magic sempre ao meu redor, mas nunca participando de fato das sessões de jogo. Colegas de classe trocavam cartas durante o recreio escolar. Um primo mais velho tinha gavetas cheias delas, talvez centenas das peças de baralho que eu, escondida, passava longos momentos lendo e observando. Eram as ilustrações que mais me chamavam a atenção: elas traziam monstros assustadores, cenas de tensão, criaturinhas simpáticas e mulheres e homens poderosos.

O estilo medieval-fantástico de MTG é adorado por legiões de jovens e, portanto, utilizado por franquias diversas de jogos. Dungeons & Dragons, um popular e decano RPG, tem similaridades no mecanismo e, atualmente, está sob a alçada da mesma empresa que detém os direitos de Magic, a Wizards of the Coast.

Assim como D&D, o MTG nasce como jogo material, com cartas e encontros físicos, e é adaptado anos depois para o meio eletrônico. Nele, disputa contra outras franquias criadas e desenvolvidas para as plataformas digitais – enredos e mecanismos de jogos que nasceram para o PlayStation, o Xbox, ou consoles mais antigos.

No entanto, durante a cobertura da Brasil Game Show 2019 – a maior feira latino-americana dedicada exclusivamente aos games -, a equipe do Metro Jornal se depara com um grande e movimentado estande dedicado exclusivamente ao Magic: The Gathering. Aquele, das cartas envelhecidas na gaveta do meu primo mais velho.

Mas o Magic cresceu, expandiu-se, e agora oferece uma versão online que conecta jogadores de qualquer lugar do mundo. Após um período operando na versão beta, o «Arena» foi lançado oficialmente em setembro de 2019, em contexto de expansão acelerada dos jogos online.

Não apenas o «Arena» pode facilitar o encontro entre jogadores, como também poderá inserir o MTG em uma área lucrativa e cada vez mais consolidada do gaming: o streaming.

A captura em vídeo das telas de jogo, para reprodução ou mesmo transmissão ao vivo online e durante eventos, têm sido uma das maiores fontes de renda e permitido a profissionalização dos jogadores. Na BGS 2019, ao caminhar pelos corredores, era impossível não perceber crianças, adolescentes e mesmo adultos parando para conversar ou tirar fotos com seus «streamers» preferidos.

O YouTube Gaming, o Twitch e o Facebook Gaming, algumas das mais populares plataformas para transmissão de jogos online, também tinham estandes gigantescos e movimentados. É um mercado em expansão, e o Magic não poderia ficar de fora.

O MTG: Arena era testado por uma multidão de jovens, sentados em frente aos computadores montados no estande na franquia. Ao lado, jogadores famosos disputavam entre si e com visitantes curtas partidas, que atraíam uma modesta plateia. Apesar de estar longe de ser a atração principal da feira, o público da BGS parecia adorar Magic – e queríamos descobrir por que.

Conversamos com Luciana Couto, jogadora de MTG desde a adolescência que agora ajudava a iniciar membros do público da BGS no «Arena».

Luciana Couto, jogadora e coach de Magic: The Gathering
Luciana Couto, jogadora e coach de Magic: The Gathering

Para ela, a comunidade formada ao redor do jogo é uma das principais justificativas para a longevidade de Magic. Esta comunidade, formada com partidas presenciais muito antes da expansão dos multiplayers online, não deve acabar com o surgimento do MTG: Arena.

Diversidade nas cartas (e fora delas)

Lu também é cofundadora da Liga das Garotas Mágicas, comunidade de mulheres que jogam MTG, e integra o MTG LGBT+.

«A comunidade do Magic é muito boa, até porque a empresa tem toda uma política de inclusão e representatividade. Desde o começo, as mulheres eram muito bem representadas, tinham poder na história, e nunca foi nada forçado, por moda», conta.

A reivindicação de representações femininas respeitosas, que não caiam na simples sexualização do corpo de personagens mulheres, é frequente em comunidades gamers. Até hoje, jogadoras relatam desconforto com os papeis dados às garotas nos jogos.

Com Magic, no entanto, Luciana conta ter sentido maior consciência – tanto entre jogadores, quanto da produção do game: «eu me encantei muito com as artes, com as ilustrações. Principalmente das personagens femininas, que sempre foram muito respeitadas, tinham a vestimenta adequada. As guerreiras tinham armadura completa, sem barriga de fora, sabe?».

Tais formas de retratar mulheres nas telonas e telinhas dos consoles, ou nas ilustrações das cartas, acabam por tornar mais difícil para jovens jogadoras integrarem espaços gamers. O desconforto pode somar-se ao medo de viver situações de discriminação, bullying, ou até mesmo assédio.

A própria Luciana conta que, após experienciar momentos desconfortáveis jogando Magic em espaços públicos, acabou decidindo por jogar apenas em casa, com pessoas que já conhecia.  «Anos se passaram e daí, já mais velha, eu falei ‘quer saber? Se alguém falar algo para mim, eu vou jogar de volta’. E aí eu fui [de volta aos círculos públicos de jogos], com a cara e a coragem».

Foi aí que Luciana encontrou outras mulheres, com experiências parecidas com a dela. Junto a outra jogadora, Akei Uehara, ela criou a Liga das Garotas Mágicas, que reúne mais de mil garotas que jogam em um grupo do Facebook. A página da liga, na mesma rede social, acumula 4.579 curtidas.

Posteriormente, veio o coletivo para jogadores da comunidade LGBT+ e simpatizantes. Luciana conta que, além de uma representação feminina que tem muito a ensinar para outras franquias de jogos, MTG também tem importantes personagens considerados LGBT+.

«Tem personagens não-binários, personagens transexuais, tem casais homossexuais nas cartas», conta. A linguagem utilizada nas instruções do jogo também é pensada para incluir todos os jogadores possíveis, evitando utilizar pronomes femininos ou masculinos, quando possível.

Tal zelo com a comunidade, para Luciana, faz com que, mesmo duas décadas após seu lançamento, Magic continue atraindo novos e jovens jogadores.

Estande de Magic: The Gathering na BGS 2019
Estande de Magic: The Gathering na BGS 2019

Como começar?

Depois de nossa conversa, perguntei a Luciana como alguém como eu – que pouco conhece MTG, e é pouco assíduo de jogos online – poderia começar a explorar o game.

Para quem prefere começar no jogo físico – com as cartas físicas, em reuniões presenciais -, é possível localizar lojas próximas à você que estejam autorizadas pela Wizards of the Coast a iniciar novos jogadores.

Nelas, além de descolar seu primeiro baralho de cartas, é possível aprender com players mais experientes e até mesmo disputar suas primeiras partidas.

Clique aqui para acessar o Localizador. Lá, selecione «Stores» no primeiro campo de busca, e, no segundo, digite seu endereço. No terceiro espaço, selecione a distância máxima para lojas exibidas na busca. Em seguida, é possível clicar nos resultados para exibir o calendário de eventos de cada loja, além de visualizar seu endereço e número para contato.

Também é possível começar já pela versão online de Magic: The Gathering, pelo programa Arena. Clique aqui para baixá-lo gratuitamente.

Após a instalação, Luciana recomenda seguir o tutorial do início ao fim. Para receber mais instruções, ela conta que é possivel receber treinamento de outros jogadores, alguns deles também com canais de streaming.

As comunidades de mulheres e LGBT+ também são bons espaços para conhecer novos jogadores. Clique para conhecer a Liga das Garotas Mágicas e o grupo MTG LGBT+.

 

 

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