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Valter Hugo Mãe vem ao Brasil e destaca relação com Portugal: ‘há uma irmandade cultural inevitável’

Valter Hugo Mãe é um apaixonado pela cultura brasileira. “Quanto mais me aproximo [do Brasil], mais tudo que é brasileiro se inscreve em mim”, confessa o escritor português, que aos 47 anos é considerado um dos maiores nomes da literatura contemporânea europeia.

Grande homenageado da 8ª edição do Fliaraxá (Festival Literário de Araxá), que acontece de 19 a 23 de junho na famosa cidade da região do Alto Paranaíba, no oeste de Minas Gerais, ele inicia nesta semana uma verdadeira maratona literária pelo país para lançar seus três livros mais recentes, “As Mais Belas Coisas do Mundo”, “Contos de Cães e Maus Lobos” e “O Nosso Reino”.

Em entrevista ao Metro, o autor revela detalhes de novos projetos e celebra a força da influência brasileira em suas obras.

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Neste ano você será o homenageado do Fliaraxá ao lado do patrono Machado de Assis. O que isso significa para você? 

Uma alegria enorme e a contínua responsabilidade com um mundo de leitores. Machado é patrimônio mundial. Autor genial. Não poderia estar melhor acompanhado. Eu gosto da fase madura dele, tudo é impecável. Mas diria que “O Alienista”, presente no livro “Papeis Avulsos”, é meu favorito. Adoro o debate sobre a loucura, que é uma retórica literária valiosa, pícara, inteligente.

Após quatro anos sem nenhum lançamento, você disponibiliza três livros ao mesmo tempo. Que recepção espera do público?

Sempre espero que as pessoas venham ao lançamento, se divirtam, façam fotos comigo sorrindo, digam que estão bem. Quero muito que meus livros possam servir de motivo de festa para os leitores.

Apesar de ter nascido em Angola, você sempre é apresentado como um artista português. Qual a influência e a importância da nação africana para você?

Nasci apenas em Angola. Não tenho memórias do lugar. Lamento isso. De todo o modo, a ressonância, através do que me dizem os meus pais, e pelo estigma nos anos de 1970 e início de 1980 em relação aos retornados das antigas colônias, criou em mim uma vontade de entendimento e uma intolerância aguda em relação à temática colonial, ao racismo ou às sequelas da escravização dos povos, mormente dos povos negros, mas também indígenas. Haverei de escrever um romance angolano, se a sorte ainda me fizer viver.

Você certa vez disse que  “a melhor coisa que os portugueses fizeram foi o Brasil”. Qual sua relação com o país?

Esse é um pensamento de Agostinho da Silva, um dos maiores pensadores portugueses que disse isso como uma declaração de amor. Eu citei a frase por compartilhar desse fascínio pelo Brasil, que acabou sendo resultado histórico de uma intervenção portuguesa que, como todas as ocupações, foi atroz. Nada vai redimir o horror que foi o passado da humanidade, desde logo, o horror que foi a expansão europeia. No entanto, eu, como Agostinho da Silva, fascinado com a cultura brasileira, encontro uma “portugalidade” aqui com muita ternura. Há uma irmandade cultural inevitável. Só quem nunca esteve nos dois países não entende isso.

Então Angola está em segundo lugar no seu coração?

Não é uma questão de hierarquia. O meu caso pessoal, embora tenha nascido em Angola, levou a quem minha cultura seja muito mais marcada pelo Brasil. Sou mais de Cartola, tenho um samba triste dentro de mim. Não vou tirar nunca.

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