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‘Bacurau não é advertência ao governo Bolsonaro’, diz Kléber Mendonça Filho; diretor compete em Cannes

Três anos depois de levar “Aquarius” ao Festival de Cannes, o cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho volta a competir no evento francês com “Bacurau”, no qual se aprofunda ainda mais na anatomia política do Brasil. Dessa vez, ele dirige ao lado de Juliano Dornelles, com quem iniciou esse projeto em 2009, antes mesmo de “O Som ao Redor” (2012), seu longa de estreia.

A sensação é de que parte de sua ficção está tomando vida com toda a agitação política vivida hoje no Brasil, especialmente com essa proposta atrevida de filme B, estrelada por Sonia Braga, que mistura ficção científica e horror. Parece exagerado, mas é realmente assustador e, quem sabe, pode render algum prêmio aos diretores no encerramento, marcado para este sábado.

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Estão dizendo que esta é uma continuação de ‘Aquarius’. Vocês concordam?

Kléber Mendonça Filho: Sim, a ideia geral é similar àquela de que há gente redefinindo o mundo segundo suas próprias especificações, o que é algo muito assustador. Todos nós, enquanto cidadãos, podemos desaparecer do sistema algum dia.

Vocês sentiram que precisavam se aproximar daqueles que estão longe do poder?

KMF: Isso tinha a ver com gênero [cinematográfico], algo que aprofundamos agora. Uma vez que entendi esse lado – e Juliano sempre se sentiu mais confortável com isso do que eu –, segui esse caminho. Tanto “Aquarius” quanto “O Som ao Redor” são realismo social, mesmo que tenham pitadas de gênero.

Esse filme tem a ver com o Brasil ou é mais amplo?

Juliano Dornelles: Estamos vivendo um momento particular na política sobre o qual todos estão falando, mas a história do filme, na verdade, não é realmente nova.

KMF: Isso é algo que está acontecendo em vários países, e o Brasil é um deles. A história segue se repetindo da pior maneira possível. A sensação é de que estamos vivendo uma distopia. Há uma nostalgia de quando vivíamos uma ditadura.

JD: Muitas pessoas estão cansadas e enojadas com essas situações e estão prontas para sair do país. O que está acontecendo com o Brasil é absurdo. Este governo maluco está perdendo popularidade a cada dia. Tiraram a presidente Dilma Rousseff do poder com um golpe de estado – todo mundo percebe isso agora. A premissa é de que haveria dias melhores para a economia, mas ela vai de mal a pior.

Vocês veem este filme como uma rebelião?

KMF: Sim. O engraçado é que é uma fantasia política, um tipo de faroeste. Eles precisam usar armas de um museu, e acho que essa ironia funciona bem politicamente.

Vocês pensam em deixar o Brasil?

KMF: Tenho lido alguns roteiros e posso filmar algo fora do Brasil, mas amo Recife e meu país, e adoraria permanecer e trabalhar lá. Mas quem sabe? Temos que ver como as coisas se desenrolam no Brasil.

JD: Não penso em sair, mas já pensei, porque comecei a me sentir um pouco assustado. Agora quero esperar e pagar minhas contas.

KMF: Temos que ver como o filme vai ser recebido. Alguns jornalistas estão tentando provocar atrito com o governo. Não enviamos nenhuma advertência ao governo Bolsonaro, apenas apresentamos o filme.

Assista ao trailer:

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