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Marcas dão cara nova ao São Paulo Fashion Week

Mipinta Foto: Agência Fotosite

Sem nomes tradicionais no line-up, penúltimo dia de evento mostrou estilistas com ideias frescas nas passarelas

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O São Paulo Fashion Week, que acontece pelo segundo ano consecutivo no espaço Arca, na Vila Leopoldina, chegou ontem ao penúltimo dia deixando clara a proposta de sua 47º edição. Com a debandada de estilistas que faziam parte do calendário do evento, marcas mais novas marcaram presença na passarela, dando um ar mais jovem ao line-up.

Dentro do Projeto Estufa, que desde 2017 projeta novos estilistas, ÃO e Mipinta abriram o dia com personalidade. Cotton Project, Apartamento 03, Ratier, Haight e Ronaldo Fraga, o único dentre estes que está desde os primórdios no evento, completaram a programação.

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ÃO

“They think they can consume everything”. Assim começou a trilha sonora do desfile da ÃO, que se apresenta no SPFW pelo segundo ano consecutivo no Projeto Estufa. Sons eletrônicos experimentais misturados ao cravo sintetizado imitavam a textura das roupas em um aliança entre o tradicional e o tecnológico.

Seguindo estética adotada pela diretora criativa Marina Dalgalarrondo em suas coleções anteriores, os drapeados em tecidos monocromáticos comandaram a passarela sem gênero. Eles apareceram até como balaclavas renascentistas, algo que já havia sido mostrado por ela no ano passado.

Modelos, cujos cabelos acompanhavam as curvas dos tecidos, entravam com sorriso forçado, lembrando uma expressão desconcertada. Os sapatos sociais usados por eles e elas com bico levemente exagerado, como os de palhaços, reforçaram o tom debochado. A puffer jacket, hit da temporada passada, marcou presença com modelagem oversized e cor vermelha.

Mipinta

Estreante no SPFW pelo Projeto Estufa, a Mipinta mergulhou de vez no evento. Todos os modelos entraram na passarela com uma segunda pele, que cobria tudo, dos pés à cabeça: um tecido que lembrava o neoprene, utilizado por surfistas e mergulhadores, apareceu com cores vibrantes, como azul e vermelho. Desse modo, não era possível definir o gênero de quem estava por dentro, levando ao limite o conceito de moda genderless, que vem crescendo nos últimos anos.

Todas as peças do desfile, com formas geométricas coloridas bem definidas, pareciam preparadas para enxurradas de água. Nos pés, galochas brancas. No rosto, máscaras de mergulho e óculos de natação. Mas a referência marítima não parou por aí. Em certo momento, um modelo entrou com casaco feito com o que pareciam retalhos de sacos plásticos, lembrando as toneladas do material que são descartados no fundo do mar todos os anos.

Cotton Project

A Cotton Project, primeira marca do line-up oficial a desfilar no dia, manteve sua linha de mistura entre o streetwear, casual e social. Moletons, sobretudos xadrez, conjuntos em veludo se misturavam em tons como amarelo, marrom, preto e cinza. O styling priorizou looks um pouco mais rígidos, milimetricamente arrumados. A ideia dos estilistas Rafael Varandas e Acácio Mendes era trazer o universo dos beatniks, movimento dos anos 50 e 60, para a apresentação.

A marca, que costuma fazer referências sutis ao que bomba no mundo fashion, não deixou de fora boinas e camiseta com gola rolê. Tendência que está tomando as passarelas em diferente peças e estilos, o animal print apareceu em sidebag imitando pele de cobra vermelha.

Apartamento 03

O estilista mineiro Luiz Cláudio Silva não poupou sofisticação para o desfile de sua marca, a Apartamento 03. Os primeiros looks a entrarem na passarela, todos brancos, vieram forte na alfaiataria, aqui com tecidos mais leves, como o linho.

A coleção feminina procurou discutir o conceito de beleza natural. Tons chocantes de vermelho, roxo e verde marcaram a transição para o artificial, que culminou em vestidos de maxi paetês transparentes ao fim da apresentação. Durante todo momento, algumas modelos utilizavam vestidos totalmente vazados por cima das roupas, conferindo um efeito de movimento esquelético às peças.

Unanimidade nas passarelas do SPFW, a marca também mostrou um jeito novo de utilizar as shoulder bags. Agora, elas aparecem deslocada do ombro para a cintura, como as pochetes, que viraram febre nas últimas temporadas.

Ratier

A indumentária religiosa, que há séculos veste a humanidade, pôde ser vista na passarela da Ratier, marca que participa desde 2016 do SPFW. O tema escolhido pelo diretor criativo Renato Ratier, dono do D-Edge, foi justamente esse: as crenças religiosas.

Antes de começar a apresentação, sons de sino ecoaram nos altos falantes. Não por acaso, o primeiro modelo apareceu com um na mão. Aos poucos, o preto que está no DNA da marca, deu origem a looks em branco, amarelo, roxo e marrom.

Em clara referência ao catolicismo, um deles lembrava roupa de freira, aqui em versão mais ousada, em couro. Em outro, a modelo usava um niqab amarelo, vestimenta islâmica que deixa somente os olhos à mostra. Assim, Ratier tentou mostrar um pouco da miscigenação de crenças no Brasil e no mundo, mas deixou de fora as referências às religiões de matriz afro-brasileiras.

 

Haight

Apesar de minimalista, o desfile da Haight trouxe elegância ao beachwear mostrado na passarela. Desde 2014 no calendário do SPFW, a marca teve como referência uma cartela de cores extraídas da natureza, de areias, argila e terra, tendo o vermelho como destaque. Os tons de bege representavam a camada humana nas roupas.

Dessa vez a moda praia não veio com biquínis e maiôs colados ao corpo. Ao contrário, as peças muitas vezes não acompanhavam a silhueta das modelos, reinterpretando a silhueta feminina. As modelagens arejadas por vezes recebiam um tratamento assimétrico.
Ronaldo Fraga

O consagrado estilista Ronaldo Fraga foi responsável por encerrar a noite de desfiles no galpão. Seu ponto de partida estava no diálogo com as artes visuais. Os painéis “Guerra e Paz”, pintados por Cândido Portinari entre 1952 e 1956, serviram como inspiração. Sempre sensível ao momento do Brasil, o mineiro trouxe à tona as questões que ainda pautam o debate nacional.

Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro há pouco mais de um ano, foi lembrada em pelo menos duas peças. O rosto estampado no calçado, ela aparecia com uma mira na cabeça. Em uma camisa alongada, a mesma imagem – mas sem a mira – foi construída delicadamente com fios.

No desfile político de Fraga, livros cujos títulos eram “história”, “filosofia” e “geografia” se empilhavam em cima de um capacete militar. Parte das roupas apresentavam buracos de tiros, em referência aos 82 disparados pelo exército que mataram há pouco tempo o músico Evaldo dos Santos.

Veja fotos dos desfiles:

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