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Em ‘Luzes de Niterói’, quadrinista revive cidade natal a partir de memórias do pai

O quadrinista Marcello Quintanilha faz parte daquele grupo de pessoas que tem saudades do que não viveu. Misturando um pouco de obsessão e curiosidade pelo passado, ele dá forma a essas memórias a partir de seu trabalho, como apresentado nas páginas de “Luzes de Niterói”, sua mais recente graphic novel.

O foco de interesse do artista é justamente a cidade que figura no título, onde ele nasceu e cresceu antes de se estabelecer em Barcelona, onde vive hoje.

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“Eu acompanhei a degradação desse ambiente, que atingiu seu apogeu econômico até o fim dos 1950, mas foi empobrecendo à medida que as fábricas fechavam as portas e os times de futebol delas foram deixando de existir. Tudo aquilo representava um passado mais vibrante e, talvez, mais feliz”, afirma ele.

Nascido em 1971, Quintanilha teve contato com essa realidade apenas a partir das pessoas que o viveram. Talvez por isso, mais do que retratar com fidelidade prédios históricos e ruas da cidade, o artista se debruça sobre experiências capazes de evocar uma Niterói que não existe mais.

O protagonista é seu próprio pai, jogador de futebol de um pequeno time niteroiense durante os anos 1950. Horas antes de uma importante partida, ele se lança com um amigo ao mar em uma aventura inesperadamente caótica, que inclui um plano frustrado de venda de peixes, um insólito encontro com a atriz e naturista Luz del Fuego (1917-1967) e uma tempestade capaz de colocar a vida em risco.

Quintanilha costura o relato desse dia com outras histórias que dão forma à sua Niterói, como a relação intrínseca entre o operariado e o futebol, que também é retratada de forma nostálgica.

“Eu me interesso muito pela formação dos times. Muitos deles tiveram origem em fábricas comandadas por ingleses, que foram determinantes na disseminação e constituição do futebol como algo eminentemente popular”, afirma.   

Em termos narrativos, o livro se destaca pela desenvoltura com a qual o narrador dialoga com os personagens, saltando de uma lembrança para outra, e também pelo esmero no uso de gírias do passado.

“Essa história recupera um vernáculo que era muito popularizado na época, retratado nas chanchadas, que acredito ser um dos pilares do que entendemos hoje como cultura de massa. Também fui obcecado por um bom tempo por Machado de Assis. O narrador tem uma característica dele que é provocar o personagem o tempo todo e criar uma relação tácita com o leitor.”

“Luzes de Niterói” marca o retorno da cor em obras de mais fôlego de Quintanilha, premiado no prestigiado Festival de Angoulême por “Tungstênio” (2014).

Esse é ainda o primeiro trabalho dele viabilizado por financiamento coletivo. “É fabuloso que existam novos mecanismos que nos ajudem a superar determinados momentos de crise, como aconteceu nos anos 1990, quando a maior parte das publicações foi dizimada”, lembra ele.

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