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Instituto em Diadema oferece oficinas de grafite, dança e discotecagem para idosos e crianças

“Vocês sabem o que é rima?”, pergunta o arte-educador Wagner de Oliveira José, mais conhecido como Sasquat, a uma sala com cerca de 30 idosas. Junto a arte-educadora Karen Santana, ele ministra oficinas de rima e pandeiro a estudantes da rede pública municipal de ensino de Diadema. Neste dia, em fevereiro, o público era diferente, fruto de uma parceria entre o Matéria Rima, instituto do qual os dois fazem parte, e o CCMI (Centro de Convivência da Melhor Idade), em Diadema.

O encontro era o segundo de uma série de quatro oficinas que instituto está oferecendo no CCMI. Em fevereiro, as idosas  aprenderam a grafitar. Os próximos, agendados para este mês e maio serão de danças urbanas e discotecagem.

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“Sas-quat, Ja-ne, Val-di-ra, No-e-mia”, repetem as participantes, mexendo o corpo. Nesta dinâmica, elas sincronizavam palavra, corpo e ritmo. “Trabalhar essa questão de memorização com eles é muito importante. Eu tenho uma avó que tem alguns problemas com isso. Eu pensei, ‘vou passar aquele exercício que eu faço com ela’”, conta Sasquat, que ministrava essa oficina a idosos pela primeira vez.

Na segunda parte do encontro, elas aprenderam a tocar pandeiro. Aos poucos, o barulho generalizado se transformou em um ritmo cadenciado. “Tum, tum, pá, tum, tum, pá”, tocavam todas. Os “tum” imitam o grave das batidas de rap, os “pá”, o agudo, explica a arte-educadora, que também é rapper.

Terminada a dinâmica, era hora de rimar. “Chupeta” e “borboleta”, “gato” e pato”, “capacete” e “sorvete”. As idosas eram convidadas a colar imagens dessas palavras em uma lousa. “Amor”, disse uma em voz alta. “Horror”, respondeu outra, seguida por risadas. “Agora que vocês estão craques com a rima, vamos criar a própria poesia”, diz Santana, dando início à parte final da oficina.

Envelhecimento ativo

“Foi mais fácil a rima do que bater pandeiro”, brinca Noemia Binato, aposentada de 74 anos que participou da oficina. “Eu gosto, é bom para a saúde. Não é porque a gente é idoso que vai ficar aí nos cantos”. Ela frequenta o CCMI desde a sua inauguração, há 23 anos. Hoje, pratica dança oriental, cigana e ginástica no local.

“A gente fala muito sobre envelhecimento ativo.É mais do que atividade física, é a criação de oportunidades – de cultura, educação. A gente trabalha o estímulo cognitivo, memória, raciocínio, coordenação motora”, afirma Tiago Ordonez, coordenador do CCMI.

“É coisa da Bahia, né?”, pergunta a aposentada Maria Carolina de Lima, 93 anos, sobre o pandeiro. “Na Bahia, a gente usa muito, mas são os homens. Nós mulheres nunca pegamos”, conta ela, que viveu no estado nordestino, mas imigrou para a Grande São Paulo duas vezes. “Naquela época, eu era muito criança, gostava de ver os outros bater, sambar, mas eu mesmo nunca entrei na roda”.

A oficina, dentre as tantas outras que participa, como de crochê, tricô e bordado, lhe trouxe à memória a infância. “Quando eu era nova, a gente fazia muita poesia. Eu fui lembrando e escrevendo.”

Vidas são transformadas com hip hop

“O nome já diz, né? Matéria Rima. Tem matéria de português, química, a nossa matéria é a arte”, diz, Sasquat, arte-educador do Instituto Matéria Rima. “Só de a Karen bater o pandeiro e o menino olhar diferente, às vezes o comportamento dele muda. A arte, aliada à educação, salva vidas”.

O Matéria Rima começou em 2002, como um grupo de hip hop, liderado por MC Joul. Ao enfrentar dificuldades na escola, ele acabou criando uma metodologia de aprendizado por meio da rima. O projeto se expandiu e o Matéria Rima se tornou um instituto, realizando trabalho socioeducativo em escolas da rede municipal de Diadema desde 2013. Hoje, o projeto atende 1.479 alunos, em 20 escolas de ensino fundamental, com oficinas. “As crianças endoidam. Nós temos um limite de alunos para atender. Geralmente, a fila de espera é mais de cem”, diz Sasquat.

Por conta de sua história, o instituto trabalha com  quatro eixos da cultura hip hop: danças urbanas, grafite, rap e discotecagem. “Essa cultura foi surgindo de um movimento orgânico e começou a ser usada para diminuir a violência. Ele vem com essa história, de uma mensagem de paz, respeito. As gangues que antes se matavam, começaram a batalhar através da rima, do conhecimento”, conta Karen Santa, arte-educadora do Matéria Rima. “Esse legado que o hip hop tem: ele já vem para transformar.”

As próximas oficinas do Instituto Matéria Rima (r. Paquetá, 23) no CCMI serão de dança, no dia 24, e discotecagem, em maio, ainda sem datas definidas. Mais informações podem ser obtidas em 11 4308-0339.

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