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Pedro Bandeira lança coletânea de poemas: ‘poesia é a arte do eu’

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Pedro Bandeira nasceu em Santos, em 1942. Ator, publicitário, só passou a se dedicar à literatura com exclusividade em 1983, um ano antes do lançamento de um de seus livros mais famosos, “A droga da obediência”. Hoje em dia, com mais de 25 milhões de livros vendidos no país e 80 títulos publicados, o autor é um nome consolidado nas prateleiras de qualquer escola: e que terão de abrir mais um espacinho para seu novo livro, “O que eu quero pode acontecer”, uma coletânea de poemas que ele acaba de lançar (leia mais ao lado). Em entrevista ao Metro Jornal, o autor fala do novo trabalho e também de sua relação com a escrita.

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Na escola, jovens costumam associar poesia a algo “chato”, métricas e alexandrinos… É mais difícil, na sua opinião, chamar a atenção deles para a poesia?
Sabe-se que, no processo de apropriação da leitura, da plena compreensão do que se lê, textos em prosa são mais difíceis do que a poesia por não trazerem em si a musicalidade natural da língua falada. A redondilha de sete silabas é usada em muitas línguas, porque reflete o hausto natural da respiração, ajudando o leitor a pontuar melhor o que está lendo. Note como os versos de sete sílabas são comuns, recordando exemplos como “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá”, ou “Batatinha quando nasce / esparrama pelo chão”. Creio que a reação negativa de estudantes em relação a poesias ditas “chatas” pode ser compreendida pelo fato de lhes serem oferecidos poemas que nada falam sobre suas emoções. É só ver o quanto todos os jovens gostam de poesia ao perceber quantas letras de músicas ele sabem de cor! É claro que os alexandrinos são menos atraentes e mais difíceis de serem sentidos. Mas isso passa: logo, logo todas as formas de poesia acabam penetrando o coração de todos.

Em “O que eu quero pode acontecer” o senhor não deixa de lado temas difíceis como morte e vaidade. O senhor pensa em como seus leitores receberão essas mensagens ao escrevê-las?
Note que tanto neste livro como em outros livros meus de poesia para crianças, eu sempre ponho uma criança como narrador de cada poema, porque poesia é a arte do “eu”. É a arte que reflete sentimentos, ilusões, desilusões e esperanças do ser humano. Quando ponho crianças como protagonistas desses poeminhas, posso e devo procurar refletir sobre quaisquer sentimentos que façam parte de suas vidinhas – até mesmo a inveja ou – por que não? – a tristeza pela morte de seu cachorrinho ou de seu vovô. Mas é claro que, em cada um, tenho de procurar pensar com a cabecinha jovem do meu leitor, não com a minha cabeça e coração de velho. Mas que o meu amor está em cada verso meu, e claro que está!

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Seu trabalho se inspira de alguma forma em sua própria experiência?
Meu trabalho nada tem a ver com o que fui: tem a ver com o que o meu leitor é. É para eles e sobre eles, sobre seus sentimentos, suas emoções que eu escrevo. Eles sabem disso – sabem que cada página de um livro meu funciona como um espelho, onde eles se sentem compreendidos.

Hoje adolescentes e crianças tem uma vida digital atribulada. Ainda é possível fazê-los se sentarem e se dedicarem à leitura?
Tudo o que existe no mundo é atraente, nada pode ser negado às crianças e aos jovens. Comecei a publicar muito antes da criação do mundo da informática, e hoje meus livros vendem mais do que naquela época. As crianças e os jovens querem tudo, desde um divertido jogo de computador até uma bela e bem ilustrada aventura num livrinho. A modernidade coexiste com o passado, numa boa.

Da sua enorme produção, o senhor elencaria um “filho” preferido?
Cada livro meu é um pedaço do meu pensamento e do meu amor pelos meus leitores. É mais: é o reflexo da certeza que tenho de que esses leitores haverão de construir um Brasil melhor do que aquele que nós lhes estamos oferecendo. Cada livro meu é um pedaço de mim e eu não poderia dizer que gosto mais do meu dedo mindinho do que do meu nariz, não é?

Seus livros são um fenômeno entre jovens, mas a literatura infantojuvenil ainda é tratada como algo menor por alguns leitores…
Esses “leitores” naturalmente não são os jovens. Talvez sejam apenas alguns acadêmicos embolorados que não confessam, mas adorariam ter o sucesso de uma J. K. Rowling e seu Harry Potter. Mas já há acadêmicos que não pensam assim.

O senhor está se aproximando dos 80 anos. Ainda se sente confortável com o rótulo de escritor juvenil?
Sou muito, muito feliz, com a minha profissão. Gostaria de morrer criando, oferecendo novas iguarias literárias para os meus queridos leitores, de quem me sinto um vovô, de verdade. Quero morrer cantando!

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