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Exposição no Sesc Consolação explora espírito punk do ‘faça você mesmo’

Em um mundo sem algoritmos ou streaming, conhecer uma banda nova com um som do seu interesse podia levar meses. Se hoje esse cenário provoca ansiedade, nos anos 1980 e 1990 ele ajudou a maturar a cultura punk rock no Brasil.

Durante esse período, jovens e adolescentes driblavam a falta de grana para fazer circular informações musicais. Por meio de fanzines mimeografados ou fitas k7 gravadas no quarto da casa dos pais, eles contornavam as grandes gravadoras para distribuir faixas independentes não só pelo Brasil, mas pelo mundo. Estabeleciam, assim, uma rede social bastante ativa mesmo sem as facilidades digitais.

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A exposição “Não Temos Condições de Responder a Todos” evoca o espírito do “faça você mesmo” dessa geração ao reunir materiais como cartazes, camisetas, cópias xerocadas e vinis que resultaram desse movimento. Em paralelo, oficinas propõem que o visitante experimente montagens e colagens para criar suas próprias publicações, como zines e cartazes.

O nome da mostra remete a uma frase publicada por Marcílio Lopes no fanzine “Crude Reality”, aludindo à impossibilidade de dar uma devolutiva ao grande volume de cartas recebidos na ocasião.

A curadoria é de Alexandre Cruz “Sesper”, vocalista da banda Garage Fuzz, que juntou material próprio a uma série de documentos de outros colegas do período.

Para ele, é possível estabelecer uma ponte entre esse momento e a cultura de hoje. “A gente não quis dar a entender que essa época era bem melhor do que hoje. A gente quis apenas ilustrar como era esse processo de troca e a importância que ainda tem um curador”, afirma ele.


As músicas eram compartilhadas em fitas k7 gravadas com a menor qualidade possível para garantir o máximo de músicas; quem levar um pendrive consegue gravar algumas dessas playlists artesanais.

 

Sem computador ou editor de texto, os zines eram montados à base de carimbos, máquina de datilografia, decalques, cola branca, tesoura e fita adesiva.

 

Os selos recebiam uma camada de cola branca; assim, era possível raspar o carimbo e reaproveitá-los em um novo envio.

 

Os astros do punk eram extremamente acessíveis e recebiam correspondências para entrevistas no endereço de suas próprias casas.

 

Para driblar a tarifação da compra dos discos, os moleques da época enviavam dinheiro vivo pelos Correios, dentro de envelopes.

 


Hora do som

A exposição se completa com um festival que acontece hoje, às 18h30, no Ginásio Vermelho. Quatro bandas fazem uma ponte com o punk da época em um minifestival que reúne os ingleses do The Stupids, os argentinos do Tildaflipers e as bandas brasileiras Cankro e Angústia. Os ingressos custam R$ 30.


Perguntas e respostas com Alexandre Cruz Sesper, curador da exposição

Como funcionava a cena punk?
Esse foi um período em que a gente trocou muita correspondência e que marcou a formação de várias bandas e fanzines. Esse era o networking da nossa época, nossa forma de nos informar. Chegávamos a gravar quatro discos em uma mesma fita k7. O que valia mais era trocar para receber material novo.

Por que resgatar esse movimento agora?
Tem dois motivos. O primeiro é que está fazendo 30 anos desde que a gente começou a desenvolver essa história. A segunda é que hoje em dia a galera anda meio distante dos formatos físicos, esse intercâmbio de informações foi ficando mais individual, com os algoritmos do streaming. Esse era um tipo de troca que tinha necessidade de várias pessoas atuarem para a coisa funcionar.

Você conseguiu fazer dinheiro nessa época?
Nunca fiz dinheiro com banda. A vida era ir pra escola, fazer uns bicos, escrever e tocar. Mesmo as bandas maiores tinham grana só para custear o básico. Foi assim que comecei a fazer colagem, e meus primeiros conceitos artísticos são desse período, com formação autodidata, para fazer os cartazes e logotipos das bandas.


Serviço
No Sesc Consolação (r. dr. Vila Nova, 245, tel.: 3234-3000). Sex., das 10h30 às 21h30; sáb., seg. e ter., das 10h30 às 18h30. Grátis. Até 5/3.

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