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Debbie Harry traz a banda Blondie ao Brasil pela primeira vez

Por anos, Debbie Harry era Blondie. E isso significa mais do que uma vocalista de cabeleira platinada («blondie», em tradução livre, é algo como «loira») chamada pelo nome da banda. Havia uma fusão de personalidade ali. Deborah Ann Harry, vinda da Flórida, com a figura que arrebentava os palquinhos de casas de shows como CBGB’s e Max’s Kansas City, em Nova York, na segunda metade daqueles loucos anos 1970.

«Blondie», a persona, protegia Harry, como um escudo. Também era uma «fantasia», como David Bowie fazia, transformando-se sempre

É preciso entender, como diz um artigo da revista Inspirer, que Debbie e o Blondie saíram de uma cena efervescente da música underground, mas pequena, que viria a ser chamada de punk, para se tornar uma das bandas mais populares do mundo no fim daquela década, graças ao terceiro álbum deles, Parallel Lines, de 1978 – trabalho que alcançou o posto de mais vendido no Reino Unido na semana do lançamento, por exemplo.

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Em quatro anos, com as turnês exaustivas, meses longe de casa e presença constante no palco, Debbie, figura que nos camarins é descrita como reservada, era mais «a Blondie», a performer segura que estudou seus trejeitos no palco com gente como Marilyn Monroe. «Percebi que tinha que me separar dessa persona numa época», conta Debbie, aos 73 anos, ao jornal O Estado de S. Paulo. «Eu acho que passei por um processo de entender quais eram as minhas ideias, e o que era a figura ‘Blondie’.»

A banda chegou ao fim em 1982 – foram somente quatro anos de estrelato. E, quando voltaram, em 1999, atingiram o topo das músicas mais tocadas na Inglaterra (eles, sim, de novo) com a canção Maria. Mas ainda precisavam fazer as pazes com o passado – em 2003, por exemplo, o grupo soltou o álbum The Curse of Blondie, cujo título pode ser traduzido livremente como «a maldição do Blondie». E o fizeram. Da formação clássica, restam Debbie (voz e guitarra, por vezes), Chris Stein (guitarra) e Clem Burke (bateria). Eles são acompanhados hoje por Leigh Foxx (baixo), Matt Katz-Bohen (teclado) e Tommy Kessler (guitarra). Ano passado lançaram um álbum, chamado Pollinator, o 11º da carreira deles.

E, 45 anos depois da criação da banda, Blondie se apresentará em terras brasileiras. Debbie conhece o País, pois já esteve por aqui (sua carreira solo, aliás, dá mais espaço para experimentalismos, como um disco mais jazzístico, lançado em 2010), mas a banda faz sua estreia em São Paulo, no dia 15 de novembro, como uma das mais importantes atrações do Popload Festival, evento realizado no Memorial da América Latina.

Também se apresentam, na mesma data, a neozelandesa Lorde, o duo MGMT, as bandas Death Cab for Cuttie e At the Drive In e os brasileiros Mallu Magalhães e Tim Bernardes (em um show em conjunto) e Letrux. «Vai ser ótimo tocar aí depois de todos esses anos», ela adianta. «Mostraremos canções do nosso disco, é claro, mas também vamos tocar aquelas que entendemos serem conhecidas do público.» Debbie conta que pretende fazer uma homenagem a Naná Vasconcelos, o percussionista brasileiro morto em 2016, aos 71 anos, que gravou com ela no disco solo da artista, Def, Dumb & Blonde (1989) – eles assinam juntos a música Calmarie. «Naná era um homem adorável.»

Atualmente, Debbie também tem se dedicado a um «livro de memórias», como ela explica, «porque é muito mais do que uma autobiografia». Face It, segundo o empresário dela, deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem (na primavera, para o Hemisfério Norte, e outono, no Brasil).

«Espero que sim», ela diz, ainda incerta sobre cumprir o prazo estipulado. «É um livro mais sério», ela diz, sobre o conteúdo. «Não vou só falar dos tempos de festa, de ficar bêbada e coisas assim. Vou relembrar minha infância, outras questões que me fizeram chegar ao Blondie.» No início do processo, ela respondeu às questões de Sylvie Simmons, jornalista e autora de livros como I’m Your Man, a biografia de Leonard Cohen.

«Agora, estou mergulhada nessas memórias.» O que nunca é fácil, garante a artista. Revisitar o passado, dos tempos nos quais foi pinçada por uma grande gravadora de uma cena amadora, inclinado ao uso de drogas injetáveis, ao lado de nomes como Ramones, Television e Patti Smith, e colocada par ao mundo todo como figura central do punk e do new wave (movimento dissidente do punk, de sonoridade mais branda e visual festivo). «É um sentimento agridoce, às vezes de felicidade, às vezes de tristeza.»

A Debbie Harry de 2018 realmente desistiu de lutar contra o passado. Não resiste mais ao tempo. Passou a entender tudo como parte de um processo, a «continuidade». «Tudo muda», ela diz. O mesmo se dá ao feminismo, já que o espaço feminino na música cresceu absurdamente desde que ela se apresentou pela primeira vez, embora ainda esteja longe do ideal. «É um esforço coletivo, que existe há anos, e tornou a presença feminina mais aceitável», ela avalia. Ela diz que vê o mundo tomado por uma «onda conservadora». «Tudo está tão míope.» Até mesmo a sua Nova York não é mais a mesma. O prédio onde existia o CBGB’s, em Manhattan, é atualmente uma loja de roupa de grife. Debbie, hoje, é Blondie também. «Eu incorporei o que era importante para mim. E me tornei uma só.»

POPLOAD FESTIVAL

Memorial da América Latina. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664. Dia 15 de novembro (5ª), a partir de 12h. R$ 180/R$ 750

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