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Ícone do Cinema Novo, Cacá Diegues é eleito para Academia Brasileira de Letras

Ao centro, o diretor expoente do Cinema Novo comemora a vitória na eleição da ABL Fernando Frazão/Agência Brasil (Fernando Fraz√£o/Ag√™ncia Brasil)

O cineasta Cacá Diegues, de 78 anos, foi eleito, na quinta-feira (30), imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras). Ele vai ocupar a Cadeira 7 da instituição, vaga desde a morte do também cineasta Nelson Pereira do Santos, em abril.

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Em um pleito que contou com 11 candidatos, Diegues recebeu 22 dos 35 votos e derrotou o colecionador de manuscritos Pedro Corrêa do Lago, que obteve 11. A escritora Conceição Evaristo, cuja candidatura recebeu apoio de movimentos negros nas redes sociais, teve apenas 1 voto.

“Para mim, é uma honra. Estou muito feliz e pronto para começar a trabalhar na Academia, porque eu não estou indo só pela honraria. Quero fazer da ABL um centro cultural importante”, comemorou Diegues em entrevista ao Metro Jornal, durante a recepção para amigos e acadêmicos, em seu apartamento em Copacabana.

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Natural de Maceió, Carlos José Fonseca Diegues foi um dos precursores do Cinema Novo, movimento que, nos anos 60, se notabilizou por questionar a estética das produções brasileiras da época, marcada pela forte influência de Hollywood.

Ao longo da carreira, dirigiu e produziu 18 filmes, entre eles “Bye Bye Brasil”, que concorreu à Palma de Ouro em 1980, no Festival de Cannes, na França. Mas foi antes, com “Xica da Silva” (1976), que ele ficou mais conhecido. E também levou o texto de Jorge Amado ao cinema, em “Tieta do Agreste” (1996).

Com o recrudescimento da repressão do regime militar, após a promulgação do AI-5, Diegues exilou-se na Itália e na França, em 1969. Então casado com a cantora Nara Leão, voltou ao Brasil em 1972 e produziu alguns de seus filmes mais celebrados, como “Quando o Carnaval Chegar” (1972) e “Joana Francesa” (1973). Em 1977, divorciou-se de Nara e, quatro anos depois, casou-se com a produtora Renata Almeida, com quem vive até hoje.

O mais recente longa do alagoano é “O Grande Circo Místico”, inspirado na obra literária de Jorge de Lima (1893–1953). O filme foi exibido nos festivais de Cannes e Gramado e tem estreia prevista para 15 de novembro.

Intercâmbio com literatura

O presidente da ABL, o acadêmico Marco Lucchesi, disse que a incorporação do cineasta à academia de Machado de Assis coroa uma carreira marcada pelo intercâmbio entre literatura e a sétima arte.

“O Cacá é não só um dos grandes nomes do Cinema Novo, mas também um leitor da literatura brasileira, que ele levou às telas. É um homem que vive entre as letras e o cinema”, elogiou.

Também imortal, o filólogo Evanildo Bechara acredita que a eleição de um cineasta representa homenagem a Nelson Pereira dos Santos. “O Cacá representa a continuidade do brilho do seu antecessor. A casa achou que o Cacá representaria a tradição da cadeira e do último ocupante”, argumentou Bechara, que revelou ter votado no vencedor.

Único acadêmico negro da instituição, Domício Proença Filho afirmou que considera legítima a campanha virtual pela eleição de Conceição Evaristo, que incluiu um abaixo-assinado com mais de 22 mil assinaturas. Mas, para ele, a escritora não seguiu a “liturgia” tradicional das candidaturas. “É uma casa de amigos. Você tem que se escrever, fazer a campanha, visitar. Eu não entrei aqui por ser um negro escritor, mas por ser um escritor negro”, explicou.

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