O cinema autoral de Phillippe Garrel não corre o risco de se tornar repetitivo quando ele apresentar obras como «À Sombra de Duas Mulheres», que estreou nesta última quinta-feira (10). Seu olhar sobre as relações humanas apontam para detalhes que, se aparentes na primeira impressão, logo se tornam determinantes.
Aqui, Pierre e Manon formam um casal de documentaristas e, apesar de estar apaixonado por Manon, Pierre conhece Elizabeth, cai de amores por ela e deseja manter o relacionamento com as duas mulheres. Claro que não vai dar certo e, do desencontro, Garrel aproveita para mostrar como um triângulo amoroso pode ressaltar a equalização na libido de homens e mulheres.
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Como já noticiou Rodrigo Fonseca, blogueiro do Estado, na visão do diretor, «ambos os sexos têm fome (e direitos) para desejar com quantidade e qualidade, apesar de a moral ocidental propor que só o macho da espécie tem licença para o cogito anticartesiano ‘Cobiço, logo existo'». Fonseca arrisca dizer (e vários críticos concordam) que se trata do melhor longa de Garrel desde Amantes Constantes, de 2005.
O clima é reforçado ainda pela trilha sonora de Jean-Louis Aubert e a narração de Louis Garrel, filho do diretor. O curioso é que «À Sombra de Duas Mulheres» forma uma trilogia com «O Ciúme» e «O Amante de um Dia», este recentemente exibido nos cinemas brasileiros. «As três partes tratam, de forma geral, da sexualidade feminina», observou o crítico do Estado Luiz Zanin Oricchio. «E, em particular O Ciúme e À Sombra, que expressam uma carnalidade que antes não se encontrava no cinema de Garrel. Na crítica dos Cahiers du Cinéma, Stéphane Delorme a atribui à influência do corroteirista Jean-Claude Carrière, que, como todos sabem, escreveu vários filmes de Luis Buñuel.» E completa: «Esse novo ‘corpo’ lhe dá uma densidade, sem perder a leveza que sempre teve».
Veja o trailer do filme: