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ANJ concede Prêmio Liberdade de Imprensa à jornalista Míriam Leitão

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) entregou nesta quarta-feira , 22, o Prêmio ANJ Liberdade de Imprensa à jornalista Míriam Leitão. Colunista da Globonews e do jornal O Globo, Míriam foi alvo este ano de hostilidades por parte de militantes do PT e do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência, na semana passada.

A cerimônia de entrega, realizada em um hotel na região da Avenida Paulista, foi marcada por alertas sobre ameaças à liberdade de imprensa no Brasil diante do cenário de radicalização política tanto por parte de militantes extremistas quanto de setores do Judiciário e autoridades públicas.

Em um discurso de forte teor e emocional, Míriam lembrou que diversos jornalistas têm sido obrigados a se posicionar em defesa da liberdade de expressão diante da onda de ataques virtuais e físicos.

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«O que me tranquiliza é saber que não é exatamente para mim o prêmio, mas para uma ideia e uma atitude que inúmeros jornalistas, no Brasil inteiro, têm adotado quando se veem diante da agressão à diversidade de pensamento», disse ela.

No dia 13 de junho, Míriam foi hostilizada por delegados que participaram do 6º Congresso Nacional do PT em um voo entre Brasília e Rio. Ela é alvo da militância do partido há anos devido às críticas que fez à condução da política econômica no governo da presidente cassada, Dilma Rousseff. Na semana passada a jornalista voltou a ser alvo de ofensas, desta vez por parte do deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência, que a insultou nas redes sociais devido às críticas de Míriam à falta de conhecimento do parlamentar para a área econômica.

«Ouvi os gritos e as ofensas de quem não tolera o pensamento divergente e a liberdade de opinião. O voo entre Brasília e Rio pode ser muito longo (…) Na semana passada, ouvi novamente ofensas e gritos lançados de um palanque. Esses dois ataques vieram de grupos que estão em campos opostos na vida política brasileira e que disputam o poder no Brasil. Sobre esse ponto é preciso refletir», disse ela.

Míriam recebeu o prêmio das mãos do vice-presidente da ANJ e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão da entidade, Francisco Mesquita Neto, presidente do Grupo Estado.

«As sucessivas crises políticas e econômicas no País alimentaram a desconfiança da sociedade civil em relação às instituições e fortalecem o instituto liberticida de uma parcela minoritária da população, que não compreende ou finge não compreender o verdadeiro papel da imprensa para a manutenção da democracia», disse ele. «É uma minoria ruidosa, composta por diversas cores políticas, que usa as redes sociais como instrumento para intimidar adversários, disseminar ideais autoritários e difundir informações mentirosas ou distorcidas», completou Mesquita.

Ele ressaltou ainda outros riscos recentes à liberdade de imprensa como a disseminação de mentiras, as chamadas «fake news» pelas redes sociais com o uso de robôs, a resistência de setores do Executivo em cumprir a Lei de Acesso à Informação os casos de censura prévia por parte do Judiciário.

Marlo Rech, presidente das ANJ, lembrou que a entidade foi criada em 1979, quando a liberdade de expressão era restrita pela ditadura militar, e que depois de quase quatro décadas de avanços, hoje o País vive um retrocesso e citou como exemplo a enxurrada de ações coordenadas movidas por juízes do Paraná contra o jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, que publicou uma série de reportagens expondo as remunerações no Judiciário paranaense.

«Nos últimos tempos temos assistido a uma sequência de tristes retrocessos na liberdade de manifestação. De um lado, além da integridade de jornalistas e veículos de comunicação, seguimos sofrendo agressões amparadas pelo aparato jurídico, como a tentativa de estrangular o jornal Gazeta do Povo, alvo de dezenas de ações judiciais simultâneas», afirmou.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, que recebeu o prêmio em 2008 por ter sido o relator do processo que extinguiu a Lei de Imprensa criada pela ditadura militar (1964-1985), sugeriu a realização de um pacto nacional em defesa da Constituição.

«Há má vontade contra esta Constituição que é preciso debelar. Porque ela é boa. Tremo nas bases sempre que vejo uma mexida na Constituição. Já são 96», disse Ayres Britto.

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