De todas as graphic novels inspiradas em criações de Mauricio de Sousa, “Capitão Feio – Identidade”, dos gêmeos paranaenses Magno e Marcelo Costa, é a primeira dedicada a um vilão.
A obra, no entanto, propõe um olhar menos maniqueísta e mais generoso para o personagem, que, historicamente, tem como principal meta poluir o mundo.
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O desafio dos irmãos era provocar empatia por um sujeito que busca algo muito ruim, especialmente em tempos de aquecimento global. Para isso, os dois decidiram criar uma história não sobre a origem dos poderes de Feio, mas sobre a gênese dele enquanto vetor de maldades – daí o título “Identidade”.
Quando a trama começa, encontramos o personagem, até então sem nome, buscando objetos em um lixão. Ele é capaz de voar e de convocar monstros de sucata, mas seu único objetivo é ficar afastado da civilização o máximo possível, morando nos esgotos do subterrâneo.
Um incidente o faz se sentir encurralado, levando-o a se defender com seu poder de emanar nuvens de sujeira. Quando isso acontece, a sociedade logo o considera uma ameaça, batizando-o justamente de Feio.
Sem memórias de seu passado, o personagem se configura como um pária, seja em seu autoexílio do mundo, seja quando é deliberadamente excluído, essencialmente, por ser diferente.
Na interpretação dos irmãos Costa, as reações das pessoas a Feio não são muito diferentes dos preconceitos que a classe média têm em relação a moradores de rua ou viciados em drogas.
Com bons momentos de ação e honrando a mitologia do personagem, a trama se constrói, portanto, como um clamor por alteridade – uma lição preciosa em tempos de radicalização e incompreensão por falta de diálogo.