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Contestação ao regime angolano inspiram Agualusa em ‘A Sociedade dos Sonhadores Involuntários’

André Porto/Metro

Em seu 14º romance, José Eduardo Agualusa cruza as histórias de um jornalista angolano, uma artista plástica moçambicana, um neurocientista brasileiro e um hoteleiro com passado obscuro conectados, de alguma forma, pelos sonhos.

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“A Sociedade dos Sonhadores Involuntários” surgiu do interesse do escritor pelo onírico e pela Primavera Árabe, que repercutiu em Angola, em 2011, na forma de um movimento de contestação ao regime que lutava por uma maior abertura democrática.

O livro foi lançado quando esse movimento angolano não foi tão adiante… Eu estava convencido de que ele poderia culminar em um movimento mais amplo de contestação, e isso realmente não aconteceu. Mas ele continua, talvez não com a dimensão que eu gostaria.

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Qual sua relação com o [neurocientista brasileiro] Sidarta Ribeiro, que está no livro na forma do personagem Hélio de Castro?

Quando comecei a escrever o livro, encontrei uma entrevista do Sidarta falando do trabalho dele com os sonhos e como ele acha importante resgatá-los. Fiquei tão impressionado que fui atrás dele. Consegui uma bolsa de criação literária e fiquei um mês escrevendo em Natal, quando tive a oportunidade de conversar com ele e ficamos amigos. Portanto, é natural que tenha utilizado no livro algumas das ideias dele.

O que você quer dizer ao falar que o sonho é político?

Vivemos num momento de desorientação e de falta de ideais. O mundo está órfão de ideais. Sente-se isso em toda parte. Nesse sentido, o sonho de construção de utopias é político e revolucionário, pois todas as grandes mudanças começam com o sonho de alguém que contagia outras pessoas até ser capaz de transformar a sociedade de forma mais concreta.

Mostrar a história de Angola é uma preocupação sua?

Não exatamente, mas acho que quem compra um livro já tem interesse pelo outro. Cada livro é uma janela não só sobre um lugar, mas também sobre a cultura de outro povo e a alma de alguém. O Brasil precisa reencontrar uma África produtora de cultura, porque ele é um país de matriz africana. O Brasil precisa fazer esse reencontro como uma forma não só de reconhecer a si próprio, mas para também devolver a dignidade à maioria dos brasileiros, que é de descendentes de africanos.

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