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Compras de Natal e contas de início de ano demandam maior planejamento financeiro

Depois de 12 agitados meses, nada mais natural do que tentar deixar as preocupações de lado e relaxar um pouco no final de ano. O difícil é que, para muitos, final de ano é sinônimo de gastos extras.

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“Nessa época nós compramos presentes de Natal, investimos em lazer- planejamos uma viagem de Réveillon ou mesmo saímos mais de final de semana, enfim, nos permitimos mais”, observa Ricardo Teixeira, professor da FGV e especialista em gestão financeira, que conversou sobre o assunto com o Portal da Band.

E isso não está errado. Temos que nos permitir mesmo, afinal, o problema não é fruto dessas comprinhas ou passeios, mas sim da falta de planejamento financeiro.

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A primeira atitude essencial a ser tomada é fazer aquele famoso raio-x das finanças. É preciso considerar as despesas que mais pesam no bolso durante todo o ano – habitação, alimentação, vestuário e transporte – e acrescentar os gastos com presentes e diversão.

“Existe o mito de que fazer planejamento financeiro é algo complexo, precisa entender de matemática, e não é. É simplesmente colocar no papel o que você gostaria de fazer, quanto de dinheiro tem e ver se vai dar certo”, pontua Carol Sandler, fundadora do site Finanças Feminina e autora do livro Detox das Compras.

Contas

Você fez suas contas, viu que deu para comprar alguns presentes e ainda curtir uma praia em um fim de semana de dezembro? Ainda assim, fica difícil se animar pensando que o ano começa com contas para pagar.

Janeiro vem com as indesejáveis siglas: IPTU, imposto da casa ou apartamento, e IPVA, imposto do carro. Alguns também pagam os valores de seguros nessa época, o que novamente nos obriga a fazer contas.

“Toda vez é preciso verificar o que vale a pena fazer: pagar à vista com desconto ou parcelar [o valor dos impostos]. Tem ano em que o desconto é atrativo, e vale a pena tentar pagar tudo de uma vez. Para quem não consegue fazer isso, tem que ter organização para não se perder nas parcelas. Não adianta pegar um dinheiro, parcelar e gastar todo o resto com outras coisas. O dinheiro desses impostos, quando é parcelado, não pode ser mexido mais”, alerta o professor Ricardo Teixeira.

Para quem não consegue segurar um dinheirinho ali na conta, Teixeira aconselha aplicar o valor. Há duas vantagens neste caso: o dinheiro fica “retido” e você ainda consegue fazer essa quantia render um pouco.

Para aqueles que têm filho, também deve-se levar em conta gastos com matrícula, uniforme e material escolar. A dica é a mesma: separar um dinheiro para esses gastos e buscar opções em que o custo/benefício esteja em equilíbrio.

Dívidas

Agora vamos entrar em um tema que muita gente não gosta de falar, mas é perseguido o ano todo por esse assunto: as dívidas. Essas pendências financeiras tendem a se transformar em um bicho de sete cabeças pois somam-se a todos esses gastos que já citamos acima.

Sejam as parcelas de compras que fizemos ao longo do ano, ou então dívidas de crédito pessoal, cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito, boa parte das famílias chega ao final de ano bem endividadas.

Segundo estudo divulgado pela Serasa Experian em outubro de 2017, o número de consumidores inadimplentes no país chegou a 61 milhões, 4,45% a mais do que em outubro de 2016, quando o número era de 58,4 milhões.

O ideal, sugere Carol Sandler, é que você não comprometa mais de 30% de seu salário com dívidas. “O que acontece é que muitos acabam comprometendo mais da metade do que ganham com essas parcelas”, conta ao Portal da Band.

Entre aqueles planejamentos que fazemos todo final de ano, quitar dívidas está entre os projetos futuros. “As pesquisas sempre mostram que, nessa época, a ideia é gastar o 13º, por exemplo, para sanar as dívidas. Mas aí chega fevereiro com levantamentos que revelam que a inadimplência subiu no mês de janeiro. Ou seja, a gente sabe o que é certo fazer, mas acaba não fazendo”, explica Carol Sandler.

O professor Ricardo Teixeira complementa e ressalta que a questão é sempre de planejamento. “Quando receber o 13º, tente sanar as dívidas que possuem uma taxa maior de juros. Se não conseguir pagar todas, quite o que der e procure um crédito pessoal mais barato. Para quem não recebe 13º, ou não consegue usar esse valor extra para isso, é possível fazer a portabilidade da dívida para um outro banco que ofereça uma solução melhor.”

Reserva para imprevistos

Até o momento falamos de gastos que sabemos que vamos ter, mas ninguém tem o dom de prever o futuro, não é mesmo? Infelizmente, imprevistos acontecem e muitas vezes nos momentos mais importunos.

É por isso que guardar dinheiro é fundamental; ainda assim, somente 62% dos brasileiros fazem isso, de acordo com um levantamento feito pela SPC Brasil e CNDL este ano. Mas, assim como equilibrar gastos, contas e dívidas, poupar também não tem uma fórmula mágica. Uma das dicas de Carol Sandler é tirar o dinheiro da frente de seus olhos, ou melhor, de perto do seu bolso.

“Se você não pode comprometer uma parte significativa do seu salário, comece com uma meta modesta. Pegue 5% do seu salário e já tire da conta corrente, jogue na poupança ou aplique em um fundo, no Tesouro Direto ou então compre um título. Dessa forma, você não poderá mais contar com aquele dinheiro, que ficará guardado e rendendo, e vai aprender a viver com um pouco menos.”

A especialista garante ainda que poupar e aprender a viver sem aquela porcentagem pequena de seu salário é uma questão de costume e te permite sair da “vulnerabilidade e dependência” que algumas vezes o dinheiro causa, principalmente quando um encanamento estourar ou se o carro quebrar, por exemplo.

Gerando uma renda extra

No entanto, há meses que não tem jeito. Não dá para guardar dinheiro ou então a quantia dos juros que renderam do fundo que você aplicou não está sendo suficiente. Nessas horas, é sempre interessante pensar em alguma atividade que possa render uma graninha a mais.

Final de ano, por exemplo, é uma época boa para quem tem talento na cozinha preparar quitutes natalinos para vender na empresa ou na vizinhança. Neste vídeo, a especialista Carol Sandler dá ainda outras dicas:

A verdade é que ninguém gosta de viver uma vida de restrições e muitas coisas de boa qualidade custam mais caro. Sem planejamento financeiro, porém, fica difícil arcar com o básico para viver, quem dirá atingir metas pessoais ou nos proporcionar “pequenos agrados” vez ou outra?

“Entre as resoluções que pensamos no final de ano, o melhor a se fazer é começar a cuidar do dinheiro de forma saudável. Passamos o ano cuidando de muita coisa: corpo, saúde, família, mas nem sempre do bolso, e isso deve ser um hábito tão natural quanto usar o fio dental. Tem que ter cuidado, controle e real dimensão de seu valor: nem supervalorizá-lo, porque aí viveremos em uma neurose de que ele nunca é suficiente, e também não subestimá-lo, senão fica impossível realizar nossos sonhos”, recomenda Sandler.

E lembre-se: final de ano também é época de curtir. Sem isso, o cansaço e o estresse podem acarretar problemas de saúde, que mais para frente também vão mexer com as nossas finanças; em resumo, aproveitar sabendo gastar com consciência é um bom investimento em nós mesmos.

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