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Mercados comemoram intervenção do Banco Central para defender real

Mercados e analistas receberam bem nesta sexta-feira a decisão do Banco Central brasileiro de intervir no mercado com até US$ 55 bilhões até o fim do ano para sustentar o real, em seu mínimo desde 2009.

Esta semana o real caiu a R$ 2,45 por dólar, seu menor valor desde dezembro de 2008, em pleno estouro da crise financeira internacional. «A postura do Banco Central é necessária, dada a atual volatilidade dos mercados», disse à AFP Wellington Ramos, analista da agência de classificação de risco Austin Rating em São Paulo. «Há uma necessidade de recuperar a confiança dos investidores», acrescentou.

Na quinta-feira à noite, o Banco Central anunciou que intervirá no mercado com ofertas diárias de swap cambial ou venda futura de dólares para conter a alta do dólar, uma estratégia que não utilizava desde 2002.

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De segunda a quinta-feira oferecerá até US$ 500 milhões em «swaps» e na sexta-feira até US$ 1 bilhão com compromisso de recompra, em outro mecanismo de oferta de dólares para o mercado à vista.

Até agora, o real caiu cerca de 17%, enquanto aumenta a desconfiança dos mercados sobre as grandes economias emergentes como Brasil, Rússia e Índia. Na América Latina, a tendência afetou as moedas da Argentina, Chile, México e Colômbia.

Os investidores querem aproveitar um futuro aumento das taxas de juros dos Estados Unidos, que já começa a despontar e retiram de forma massiva as quantias investidas nos mercados emergentes, nos quais veem fragilidades estruturais.

«O anúncio do Banco Central brasileiro é muito positivo», afirmou à AFP o analista Silvio Campos, da consultoria de mercado Tendências em São Paulo. «Esclarece e oficializa ao mercado uma ação diária para atender a demanda de dólares. É o que vinha sendo feito, mas, a partir de agora, será de uma forma transparente e previsível», afirmou.

O Banco Central gastou US$ 45 bilhões até agora para sustentar o real, mas a última vez que anunciou intervenções diárias de uma quantia determinada foi em 2002. «O maior objetivo do Banco Central é dizer ao mercado que continuará entregando o que for necessário», enfatizou Campos.

O analista explicou, contudo, que em 2002 a quantidade oferecida pelo Banco Central foi muito menor e, por isso, o efeito sobre os mercados não foi como o que se espera agora.

«Na época, o problema era muito grande. Havia perda de confiança, fuga de capitais e o Brasil não tinha grandes reservas como agora. Era um cenário muito diferente porque agora se sabe que o Banco Central pode intervir de maior forma», explicou.

Durante os últimos anos, o real esteve muito forte diante o dólar, chegando a ser cotado a R$ 1,5 por dólar. Essa paridade, contudo, não era muito bem vinda nem pelo governo nem pela indústria, que esperava uma mudança mais competitiva para as exportações brasileiras. Por outro lado, um real mais fraco pressiona a inflação, algo que preocupa o Banco Central e o governo.

Para conter a inflação, o BC elevou em julho a taxa de juros ao ano a 8,5% de um mínimo histórico de 7,25% vigente até abril. A inflação no Brasil foi de 6,27% em 12 meses até julho, abaixo, mas muito próximo do teto da meta oficial de 6,5%. Os alimentos e os transportes tiveram uma inflação muito superior ao teto da meta.

O Brasil enfrenta, além disso, um decepcionante ritmo de crescimento econômico, apenas 0,6% no primeiro trimestre em relação ao anterior. Na quinta-feira, o ministro de Finanças, Guido Mantega, reduziu novamente sua previsão de crescimento do PIB para 2013, a 2,5%, contra 4% projetado em dezembro.

 

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