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‘A Cidade do Futuro’ e o debate sobre as famílias do amanhã

Vencedor na categoria «melhor filme» em 4 festivais no exterior, o longa brasileiro «A Cidade do Futuro» finalmente estreia nos cinemas nacionais. A produção foi lançada mundialmente em 2016 e, desde então, já passou por 14 países, em 38 festivais diferentes. E o que mais chama atenção na trama é que a história contada é uma dramatização do cotidiano real dos protagonistas, intérpretes de si mesmos.

«A Cidade do Futuro» segue as histórias de Gilmar, Milla e Igor, três jovens que vivem em Serra do Ramalho (BA), uma pequena cidade às margens do rio São Francisco. Os dois primeiros mantêm um relacionamento aberto, em que eles saem com pessoas de ambos os sexos. As coisas começam a mudar quando Milla aparece grávida e decide formar uma família com Gilmar e Igor, a terceira ponta desse triângulo.

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A ideia inicial dos diretores Cláudio Marques e Marília Hughes era gravar um documentário sobre a cidade de Serra do Ramalho. Ela foi planejada nos anos 1970 exclusivamente para receber as pessoas que moravam em Sobradinho, onde hoje existe uma represa. Porém, ao chegar na cidade, se deparam com jovens que fugiam dos padrões conservadores em pleno sertão nordestino. Hughes e Marques resolveram então gravar um filme de ficção, focando no trio composto por Gilmar, Milla e Igor.

O documentário, contudo, não foi esquecido: partes dele entraram no produto final e são intercalados com a história principal. Se de início pode parecer um pouco confuso, não é preciso muito tempo para que se perceba a intenção de ligar as histórias e abrir espaço para reflexão. Assim como foi injusto os moradores de Serra do Ramalho terem sido obrigados a sair de Sobradinho, a construção de um novo conceito de família não deveria ser motivo para ninguém deixar seu local de origem. Logo se vê que a trama política no filme é forte – indo além da hashtag #mariellepresente, incluída nos créditos iniciais das cópias recentes.

O elenco é todo composto por atores iniciantes no cinema. Isso traz alguns momentos interessantes, mas também dificuldades. Enquanto Milla se mostra à vontade em cena, Igor, por exemplo, começa o filme desconfortável com a presença da câmera, recitando os diálogos quase mecanicamente. Isso é contornado pela direção com a aposta em cenas em que gestos, expressões faciais e planos mais abertos dizem muito mais que o diálogo. Justamente por isso, o filme vai entregando os detalhes pouco a pouco. Tanto é assim que o nome de Igor é ouvido pela primeira vez já quase na metade do longa.

Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora. Ela compõe muito dos momentos afetivos – não tem como não lembrar da música «Jeito Carinhoso», da dupla Jads e Jadson – e reafirma a diversidade da Serra do Ramalho retratada no filme, ao saltar dos tradicionais forró e sertanejo para o pop de Britney Spears, ainda que em forma de cover. É um Nordeste diferente do que se está acostumado a assistir na televisão e no cinema, com menos estereótipos e mais heterogêneo.

«A Cidade do Futuro» estreia nos cinemas no próximo dia 26 em todo o país. Veja o trailer do filme:

Ficha técnica

Direção: Cláudio Marques e Marília Hughes
Roteiro: Cláudio Marques
Título original: A Cidade do Futuro
Gênero: Drama
Duração: 1h 15min
Classificação etária: 16 anos
Lançamento: 26 de abril de 2018 (Brasil)

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