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‘É fácil manipular leitores com falsa neutralidade’, afirma Graciela Mochkofsky

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Graciela Mochkofsky | Daniel Mordzinzki/Divulgação

Atração da última Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Graciela Mochkofsky foi durante 15 anos jornalista de política na Argentina, mas resolveu seguir uma carreira independente na internet e com livros-reportagem. Ela acaba de lançar seu primeiro livro em português, “Estação Terminal – Viajar e Morrer como Animais”, em formato de e-book. Graciela afirma ao Metro Jornal que deseja comover o público com suas histórias.

 

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Qual é a abordagem de “Estação Terminal – Viajar e Morrer como Animais”?

É sobre uma onda de conversões para o judaísmo na América Latina. Conto sobre o primeiro homem que se converteu a essa religião, quando ainda era algo raro. E, a partir da história dele, conto como isso se tornou um fenômeno mundial. É uma história diferente das que estou acostumada a cobrir, mas que me interessa bastante por ter temas que fazem parte da minha vida. Mas, mais do que isso, é uma história sobre fé, verdade e identidade, temas que também me fascinam.

 

Em “Pecado Original”, você narra a disputa entre a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e o jornal Clarín. Como surgiu a ideia de escrever um livro-reportagem sobre isso? 

Essa foi uma das histórias mais importantes de debate público no meu país, a partir de 2008. Era uma história que estava toda hora na mídia, mas não estava tão bem contada. Então, achei que estava faltando um livro que explicasse o contexto histórico daquela situação.

 

“Estação Terminal - Viajar e Morrer como Animais” - Graciela Mochkofsky (E-galaxy, 220 págs, R$ 10)
“Estação Terminal – Viajar e Morrer como Animais” – Graciela Mochkofsky (E-galaxy, 220 págs, R$ 10)

Após 15 anos na editoria de política, você preferiu seguir no jornalismo independente na internet, além de escrever livros-reportagem. Por que essa mudança?

Houve um período no qual havia boas condições profissionais em Buenos Aires. Mas, depois de um tempo, percebi que não poderia fazer bom jornalismo político nas redações e me refugiei nos livros. Muitas vezes, não há diferenças entre trabalhar no jornal digital ou no papel. Na internet, os jornalistas podem fundar o meio sem ter que juntar, como antes, um grande capital para cobrir altos custos. Mas há experiências que só conseguimos na mídia. O único problema é que a maioria destes novos meios de comunicação está lutando para se sustentar.

 

Você acha que não há espaço para o jornalismo literário nos jornais diários?

Creio que o jornalismo literário tenha seu próprio lugar por ser uma forma diferente de jornalismo. Os jornais atuais cumprem a tarefa de informar seus públicos sobre o que ocorre no mundo e, muitas vezes, o modo mais efetivo de fazê-lo é por meio da notícia direta e concisa. E isso é tão difícil de fazer quanto um bom jornalismo literário. Acho que as causas do empobrecimento jornalístico, em nossos países, não têm a ver com isso, mas sim com causas empresariais, políticas e econômicas.

 

Em um livro-reportagem, mescla-se jornalismo com literatura. Como é a sua relação com a literatura? 

Sou de uma geração de jornalistas que já pegou esse tipo de debate. Eu me interesso por histórias bem contadas, por isso utilizo ferramentas da literatura. Mas sempre tenho em mente que devo ser honesta com os leitores e preciso mostrá-los a verdade.

 

Há uma preocupação em manter a “neutralidade jornalística”?

Minha intenção é de contar boas histórias, que comovam e que interessem ao público. E não acho que tenho que ser neutra, mas, sim, honesta, independente, verídica e justa. O jornalista deve ter um ponto de vista, mas está obrigado a interpretar e buscar a verdade. É muito fácil manipular os leitores com uma aparente “neutralidade”. Estamos obrigados sempre a interpretar desde o momento que decidimos sobre o que vamos escrever. E, como leitora, leio muito mais não-ficção do que ficção.

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