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O bicho da morte

Natural o que está acontecendo com o ciclo da doença: nossos casos de contágio e letalidade aumentam à medida que os dos primeiros países atingidos pela pandemia diminuem. Simples, enquanto esta tragédia levava mais vidas na Europa, aqui as ocorrências eram baixas.

Agora a roleta-russa reservou a bala da morte para nós. Todos vamos pagar caro por isso como nossos irmãos do mundo inteiro já pagaram. Triste, mas verdadeiro. Enquanto isso, o dinheiro do governo demora a chegar, e os políticos de sempre, e como sempre, querem transformar vidas e fome em votos. Não é uma boa combinação. Mexer com o povo costuma não dar certo em lugar nenhum. Povo doente e faminto é como estouro de boiada. Ninguém para.

Tenho pena das senhoras que entram nos mercados na esperança de sair com a sacolinha cheia de alimentos para as bocas famintas da família. Mas, com preços abusivos, saem no máximo com o vazio das sacolas e da fome, com os olhos marejados pela injustiça social e lágrimas percorrendo as rugas de um rosto de trabalhadora cansada de oferecer tanto pelo país e nem arroz-feijão ter de volta no prato vazio ao som do choro das crianças e os olhos saltando de medo e de fome das órbitas cadavéricas ao redor da mesa. Não é muito diferente da história do nosso país que tem a segunda pior distribuição de renda do mundo. Este bicho assassino que apareceu por aí não é muito diferente do bicho da fome que assola nosso passado de injustiça. É doído, sofrido e sufoca. Mas bicho por bicho, o da fome também faz a mesma coisa. Como é assustador olhar para o futuro tendo o nosso passado. No Brasil, vivemos uma pandemia eterna nas periferias largadas à própria sorte, nas casas empinadas no barranco que quando despenca mata famílias inteiras com a chuva que vem.

No Nordeste, o chão racha, o gado morre que nem gente quando a chuva não vem. Sei lá. Meu DEUS,
tem piedade do povo brasileiro que vive trancado num pesadelo sem fim desde a primeira caravela

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