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Teoria da conspiração

Ganhou ressonância nas últimas semanas o discurso de que a arbitragem brasileira – ao menos parte dela – agiria, de forma deliberada, a favor de algumas equipes. De que o campeonato, por esta razão, carregaria manchas. A entrevista de Maurício Galiotte após o empate do Palmeiras com o Inter foi o estopim, o motor para que este tipo de suposição – que vira e mexe pipoca no senso comum – retornasse de modo mais veemente à pauta.

Um dos argumentos utilizados por quem gosta de endossar, ainda que não taxativamente, as teorias conspiratórias, vai na seguinte linha: “o país é repleto de corrupção em todas as áreas; por que no futebol seria diferente? Por qual motivo um esporte que gera tanto dinheiro, que se entrelaça tão profundamente com o poder político ficaria incólume, se posicionaria numa espécie de redoma moral”? Percebe-se, no jeito com o qual proposições desta natureza costumam ser utilizadas, um tipo de sofisma.

Não apenas o futebol não se aproxima de qualquer pedestal ético, como, especificamente, trata-se de um meio até mais propício do que a maioria dos outros para desvios de conduta dos criminosos de colarinho branco. O “modelo de negócio” dos clubes, a fluência de comissões, a paixão idiotizante que serve como incentivo para comportamentos toscos, intempestivos, estritamente passionais… São muitas as facetas que tornam o ambiente da modalidade em tela muitas vezes convidativo para corruptos. Mas recorrer a ilações fundamentando simplesmente que determinado campo não há de se posicionar à parte da sociedade, não merece receber uma espécie de salvo conduto generalista, é uma falha argumentativa. Não é por que um setor não deve estar a priori livre de críticas que aspectos específicos dele necessariamente farão jus a acusações vazias que abarcariam, se enquadrariam, em teoria, no rol, na seara daquele universo que, em primeiro lugar, não foi colocado além do bem e do mal.          

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Vendo o campeonato como um todo, uma quantidade grande de jogos, rodada após rodada, há qualquer centelha concreta, palpável; qualquer substância ínfima para se desconfiar que existe esquema para algum time ser beneficiado? Não. Não há. Os jogos, a prática, no Brasileirão atual, não nos fornecem nada que poderia ser apontado como indício de benevolência ao Flamengo – para ficar no caso específico das mencionadas elucubrações de alguns palmeirenses. Nada próximo disso. Na verdade, nem que o rubro-negro, ainda que casualmente, tenha sido mais beneficiado do que prejudicado pelos donos do apito dá para dizer.

No meio disso tudo, boa parte da mídia precisa fazer um mea-culpa. Na forma de repercutir choradeira de dirigentes populistas que já pregam aos convertidos cria-se às vezes um panorama propício justamente para banalizar todas as reclamações, ainda que algumas venham a ter, num futuro, algum embasamento. Aumenta a chance de tudo cair na vala comum.

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