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O fio da meada?

A prisão dos supostos hackers na capital e no interior de São Paulo, na terça-feira, abriu uma leve troca de tiros entre o ministro Sérgio Moro e os jornalistas do The Intercept, que divulgaram as trocas de mensagem entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol. Na verdade, o que se tem até agora é a versão da Policia Federal, que investiga o caso e o está divulgando sem o necessário contraditório. Pela versão oficial os quatro presos, sobretudo Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, fazem parte de uma “organização criminosa” e que teriam hackeado não apenas o ex-juiz e o procurador da Lava Jato, mas dezenas de delegados, jornalistas, juízes e procuradores sem que se saiba exatamente quem foram as vítimas. A PF põe luz basicamente no ex-juiz de Curitiba e no procurador.

O ministro Sérgio Moro resolveu ir à forra, ao cumprimentar a polícia, a Justiça e o Ministério Público, dizendo pelo twitter que “pessoas com antecedentes criminais são a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”. O ministro se referia evidentemente aos responsáveis pelo The Intercept, o site que divulgou as mensagens, embora não citasse nomes, e ao grupo preso, no qual estão duas pessoas, pelo menos, com antecedentes criminais.

Ontem, logo após a manifestação do ex-juiz Sérgio Moro, os jornalistas Leandro Demori e  Glenn Greenwald, também usaram o twitter para dizer que “Moro virou um político em busca de um foro privilegiado para falar impunemente em público as coisas que dizia antes em chats secretos”, numa referência óbvia à troca de mensagens entre o então juiz Moro e os procuradores da Lava Jato. E explicaram: – nunca falamos sobre a fonte (que os informou dos chats) de forma que a acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta”. A Policia Federal investiga também uma possível incompatibilidade financeira entre o que ganhava o casal Gustavo Henrique Santos e Suellen Priscila, que teriam movimentado mais de R$ 600 mil quando tinham renda mensal, em 2018, de pouco mais de R$ 5 mil. Em suma, pode estar muito cedo ainda para uma avaliação sobre quem são os quatro presos, o que de fato fizeram e como fizeram, quem foi hackeado, qual a motivação e a relação entre os quatro que estão em poder da Polícia Federal. E até aqui só se tem a versão oficial, o que também não é pouco. E pode até ser o fio da meada.

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