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É o transporte coletivo que deve ser prioridade

Foto: Lu Gebara

Em dezembro último, entidades que representam empresas de ônibus no país notificaram  prefeituras e secretarias de transporte sobre os riscos do serviço coletivo de aplicativos de carros, como o Uber Juntos. Segundo eles, o serviço configura transporte ilegal, uma vez que a mobilidade coletiva urbana é regulada mediante contratos de concessão e permissão, de acordo com legislação federal e local.

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Especialistas do setor também alegam que os aplicativos têm tirado as pessoas do transporte público e provocado mais congestionamentos e poluição nas cidades. De acordo com um estudo recente, feito pela consultoria americana Schaller, para cada milha (1,6 km) de carro particular retirado das ruas, as operadoras de transporte por aplicativo adicionam 2,6 milhas (4,2 km). O estudo mostrou que, mesmo em uma viagem compartilhada, parte da corrida envolve apenas um passageiro.

Realmente, as frotas de aplicativos de carros têm crescido de forma acelerada não apenas em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, mas também em pequenas e médias cidades brasileiras. E o horário de pico, que antes tinha períodos para acontecer, agora permanece o dia todo, pois os motoristas de apps circulam em tempo integral.

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O assunto, contudo, é polêmico e a análise dos impactos desse sistema está longe de ser conclusiva. O que fica evidente é a necessidade básica de priorizar o transporte coletivo em cidades de qualquer porte. Isso já foi comprovado lá fora: Nova York viu sua frota de carros crescer de forma vertiginosa entre 2015 e 2018 (passou de 12 mil para 80 mil) e deu um basta a partir daí. As ações incluíram o limite de licenças para motoristas de aplicativos e um investimento maior no transporte coletivo e nas ciclovias, melhorando bastante a mobilidade.

No Brasil, torna-se essencial e urgente a melhora da qualidade do transporte público, sob o risco de as cidades, mesmo as pequenas, reproduzirem o modelo individualizado, congestionado e poluído das grandes capitais do país.

Medidas simples como faixas exclusivas de ônibus devem ser priorizadas, sem perder de vista o investimento em sistemas como o metrô, o trem, o BRT (os corredores de ônibus, ou Bus Rapid Transit) e o VLT, o Veículo Leve sobre Trilhos, a versão moderna dos antigos bondes.

Quando essa lição básica estiver pronta, o ganho maior será da população, que poderá se locomover de forma rápida, saudável, sustentável e econômica. E os aplicativos então serão um plus nesse cenário, um recurso complementar, e não a espinha dorsal.

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