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Sem Arrascaeta

Em sua formação considerada titular na temporada passada, no que se refere ao estilo das peças utilizadas na linha de meias, o Cruzeiro apresentava uma peculiaridade: era o único time grande do Brasil que, atuando no 4-2-3-1, neste setor, exibia três atletas com claras características de armadores; trocando em miúdos, dá para dizer que os dois “pontas” celestes poderiam jogar de “10”: Robinho e Arrascaeta.

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Historicamente, seja no 4-2-3-1, ou no 4-3-3/4-1-4-1, na paisagem tupiniquim predominou a ideia de que, pelos flancos, estariam as peças de velocidade, drible, futebol mais agudo. Nos últimos anos, contudo, começou a ser razoavelmente comum a preferência por ter, em uma das beiradas, um sujeito mais cerebral, com mais pinta de arquiteto das jogadas – na outra, continuaria a opção pela rapidez, pelo jogo direto. Roger Machado com Giuliano, no Grêmio; Tite campeão com Jadson pela direita, no Corinthians; Scarpa no Fluminense; eis alguns dos exemplos mais representativos.

O que tornava a Raposa, no ano passado, de certa maneira, idiossincrática, era a presença de não dois armadores no trio de ligação, mas de três. As circunstâncias levaram a isso, e Mano soube se adaptar. Robinho, pelo que vinha jogando desde sua chegada em Minas, majoritariamente sendo o cara que, pela direita, sabia perfeitamente a hora de abrir, e o instante de infiltrar, fazia jus a se manter como um dos “extremos”. Aí restava o dilema que tanto debatemos por aqui: como encaixar Thiago Neves e Arrascaeta juntos, sendo que ambos prefeririam trabalhar por trás do centroavante, sem precisar auxiliar o lateral na marcação – nenhum deles tem exata e organicamente, na verdade, o traquejo para fechar a segunda linha de quatro pelo lado no momento defensivo. O uruguaio, mais jovem, mais veloz, e comparativamente, mais incisivo, carregador de bola, me parecia mais propenso a essa adaptação. Foi o que Mano fez.

Feito todo o exposto, já imaginando o cenário de um Cruzeiro sem Arrascaeta, e com uma boa grana para buscar um substituto, qual tipo de jogador vai ser o alvo no mercado: um cara para jogar pela esquerda, como ponta, sem precisar de adaptações, já que o uruguaio por ali vinha atuando? Ou um meia, um atleta com mais cara de “10”, pelo fato de o cliente de Daniel Fonseca, originalmente, digamos, ter mais esses traços? Claro que futebol não é ciência exata. Há opções que, como Arrascaeta, por determinada acepção, são uma espécie de “meio-termo”: nem atacantes de lado tão típicos, nem meias tão clássicos, lentos, que seriam completamente incompatíveis com o ofício de um ponta mais agressivo. Em ótima medida, contudo, todos esses aspectos mencionados devem ser debatidos com Mano antes da procura por uma reposição. Afinal, se a escolha for por um meia talentoso, porém pouco dinâmico, pouco vertical, talvez você encontre alguém para brigar com Thiago Neves, e ainda fique sem a alternativa ideal para o lado esquerdo…

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