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Cidades democráticas

Quadras de Barcelona, projetadas por Ildefonso Cerdà Divulgação

Qual é a relação entre a urbanização e a mobilidade? Elas são interdependentes, como explica a arquiteta e urbanista espanhola Irene Quintáns, que fala aqui sobre o papel das metrópoles no bem-estar das pessoas:

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O que um bom projeto urbanístico pode fazer por uma cidade e sua população?

Ele incide sobre a qualidade de vida, a saúde, o humor, os relacionamentos. Barcelona, por exemplo, que tem um espaço urbano maravilhoso, com calçadas largas, foi toda projetada pelo engenheiro catalão Ildefonso Cerdà, em 1850. Esse engenheiro foi um pioneiro do urbanismo, ele era muito democrático: queria um espaço urbano de qualidade para todos, para dar igualdade de condições de vida para todas as classes sociais. Ele era tão democrático que dividiu as ruas em espaços iguais para carros (na época, carruagens e bondes) e pedestres. Os pedestres tinham metade da rua para se locomover.

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Uma visão bem mais humanista?

Com certeza. Antes de fazer o projeto do plano de expansão de Barcelona, Cerdà fez um estudo detalhado sobre a qualidade de vida da classe operária de Barcelona. O estudo apontava o histórico de doenças e anos de vida de pessoas que moravam em diferentes lugares; em um apartamento no segundo andar olhando para o Norte, ou no sexto andar olhando para o Sul, só para citar alguns exemplos. Com base nessas pesquisas, ele projetou as quadras de Barcelona, que têm as dimensões, a largura de rua, a altura dos prédios, as esquinas, tudo para conseguir a máxima ventilação e insolação, que refletem na saúde. E previu galerias de serviço embaixo das calçadas, algo superavançado para a época. Cerdà foi quem criou a palavra “urbanização”, usando pela primeira vez o termo “urbe”.

Como esta urbanização consciente impacta na mobilidade?

Quando você prevê em um projeto urbanístico espaço na rua para todos os modais, você está olhando para o todo, melhorando a mobilidade. Em Barcelona, há muito tempo tem faixas exclusivas de ônibus; já as ciclovias chegaram em 2009, quando foi colocado, com imenso sucesso, o sistema de bike sharing. A cidade não estava preparada para tanta demanda de bicicleta e, paralelamente, começou a fazer a malha cicloviária. Mas o ideal é fazer o sistema cicloviário por oferta, não por demanda. Você não coloca ciclovia porque ali tem muito ciclista, você coloca para que tenha muito ciclista. Isso é fundamental para formar público.

Em relação às cidades brasileiras, o que é preciso fazer para conseguir uma melhora?

É preciso redistribuir o espaço urbano. Se antes era só calçada e carros, agora é calçada, uma parte para o ônibus e outra para ciclovia, além dos carros. Não é possível alargar a rua, mas dá para redistribuir de vários jeitos, o que vai trazer o uso melhor do espaço.

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