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Tá pronto, seu lobo? – Parte 1

“Vamos passear na floresta, enquanto seu lobo não vem” (cantiga popular)

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: recém nasci num lar de classe média alta, hospital particular, protegido do mundo cruel na (nem tão) santa paz do bairro chique com segurança privada.

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: ainda vou ficar um bom tempo em casa com babá, empregada gostosa e, sem limites, já vou treinar essa coisa de quem manda, quem obedece…

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: frequento uma escola onde me comporto como cliente, não como aluno. E cliente, todo mundo sabe, sempre, sempre, sempre tem razão.

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Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: falta passar uma temporada no exterior para voltar com a certeza de que esse país não tem jeito, não tem cultura, não tem valores. Um lixo!

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: estou recém engatinhando nos negócios. Se bem que já entendi serem os melhores aqueles que passam por contratos assinados em Brasília. Entendeu ou quer que desenhe?

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: mal aprendi a manha das promessas vazias e conquistei o primeiro mandato parlamentar – as oportunidades são ainda mais imunes do lado de cá da banca.

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Não: ainda não domino o caminho da lavagem de dinheiro. Preciso me cercar de laranjas ignorantes, doleiros ágeis e autoridades venais. A segurança da família, sabe?

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Quase: falta só um cargo executivo, a chave do cofre! Chato é isso de comprar tanta gente. Mas ninguém ganha sem investir…

Vamos passear na cidade, enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo? Tô pronto! E nem pensa em fugir ou chorar pela infraestrutura, educação, saúde e segurança derramada. Ninguém escapa da minha ganância e os teus escrúpulos valem menos que um voto.

Ah, AGORA não quer mais brincar? Perdeu, povinho.

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