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Injustiça com Cruzeiro

O Cruzeiro vive uma situação peculiar: goza de uma fase incrivelmente positiva nos encontros eliminatórios desde o ano passado, angariando triunfos tão numerosos quanto difíceis, emplacando uma sequência longa, insistente, e digna de nota – inclusive – pela grandiloquência de muitos dos adversários superados, mas não colhe, no grau compatível, proporcional, na imprensa, os elogios aos quais faz jus. Algo análogo se aplica, sem dúvida, a Mano Menezes. E não se trata aqui de um daqueles discursos comumente provincianos contra a “comunicação do eixo”; entre outras coisas, porque esta injustiça tem residido também nos veículos mineiros.

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Se tivermos como base as duas últimas temporadas, em geral, os clubes mais badalados, mais midiáticos, do Brasil – em função de seus potenciais de investimento –, têm sido Palmeiras e Flamengo. Não me refiro neste ponto à alcunha, ao endosso dos jornalistas rotulando-os como, “na prática”, detentores dos melhores desempenhos do país. Neste item, a menina dos olhos vem sendo o Grêmio. No que tange a determinado status, a uma aura estelar, de poder, contudo, o rubro-negro carioca e os súditos da Crefisa andam soberanos. E a Raposa, com méritos, boa medida de autoridade, eliminou ambos duas vezes consecutivas em confrontos altamente importantes, daqueles em que todas as partes acionam o que possuem de melhor. Vale lembrar que o citado tricolor gaúcho não ficou incólume à regularidade de Mano e seus bluecaps, e que outros peixes robustos, como Santos e São Paulo, também sucumbiram ao gigante azul.     

Dotados da devida sensibilidade, perceberíamos que desde 2017 este Cruzeiro atual, sob a batuta de Mano, tem exalado um aspecto de poder, de consistência, imponência; tem soado um tanto absoluto, senhor de si, impactante, mas que este cartaz merecido e compatível com a verdade não entranhou-se no imaginário de imensa parte dos jornalistas e da opinião pública do jeito correto. Em quase todos os infinitos e intermináveis programas de debate nas TVs pode-se observar esse fenômeno, direta e indiretamente. Quando se pergunta, por exemplo, qual seria o adversário mais difícil para o Palmeiras – Boca ou Cruzeiro –, não se contextualiza devidamente, por aí, a qualidade técnica do elenco azul, as virtudes do seu treinador, e essa imagem de poderio, de imposição de um respeito um tanto intangível – embora baseada em atos bastante concretos – que haveria de ter sido angariada pelos mineiros. A principal razão desta injustiça? A forma desmedida como espalhou-se, como apropria-se sem muita reflexão própria e observação correta de larga amostragem dos jogos e do contexto geral da equipe, o discurso de que o conjunto de Mano “joga pouco, é apenas reativo, não convence, não tem grande desempenho” – entre milhões de variações das mesmas arengas. Não é verdade. Mas é a “verdade pública”…

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